Difícil falar de Páscoa sem lembrar do chocolate. Mas, antes de chegar à mesa como bombom, barra ou ovo de páscoa, sua matéria-prima, o cacau, precisa de um cultivo de qualidade. No Sul da Bahia, a cadeia produtiva do fruto cresce e amplia seu prestígio, tendo iniciativas do IF Baiano, como o Movimento Cacau, Chocolate e Cultura, como parceiras desse desenvolvimento.
O Brasil está entre os maiores produtores de cacau no mundo. O fruto, originário da Amazônia, encontrou nas matas úmidas do Litoral Sul Baiano, o ambiente propício para o seu desenvolvimento e hoje o estado é o 2° maior produtor de cacau do país. Recentemente, o território foi reconhecido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) com a Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência, reafirmando a qualidade do cacau produzido na região. No Litoral Sul Baiano é onde está localizado o Campus Uruçuca do IF Baiano. Hoje, a unidade tem papel central na formação e qualificação profissional na região com a oferta de cursos técnicos, graduações, pós-graduações e atividades de pesquisa e extensão com foco na produção, no processamento e no turismo relacionados à cadeia do cacau e do chocolate. Além disso, a instituição vem fortalecendo a parceria entre a comunidade acadêmica e produtores de amêndoas de cacau, nibs (sementes processadas de cacau), achocolatados e chocolates por meio do Movimento Cacau, Chocolate e Cultura (MCCC). A iniciativa visa potencializar e fortalecer a cadeia de valor cacau-chocolate, o setor da agricultura familiar e a identidade cultural da região marcada pelo cultivo do cacau. Segundo o coordenador da iniciativa e docente do IF Baiano, Ivan Pereira, o movimento surgiu em 2018, dentro do grupo de pesquisa Ciência e Tecnologia de Alimentos da Bahia, formado por estudantes e professores do Campus Uruçuca, pela necessidade de popularizar e divulgar a ciência alimentícia realizada pelo Instituto. “A ideia é mostrar para o produtor quais são as tecnologias disponíveis, qual é a ciência do cacau e do chocolate, como se faz uma boa fermentação e quais são os equipamentos necessários para isso”, explica. Qualificação profissional para a agricultura familiar Arlene Amurim dos Santos é uma das beneficiadas pelas ações do MCCC. Mãe de um aluno do curso de Agroecologia, a agricultora participou do curso “Do Cacau ao Chocolate”, promovido em 2019 pelo MCCC. Quase um ano depois da formação, ela iniciou, em meio à pandemia, sua produção de chocolate com o cacau extraído do próprio sítio. Com a aplicação do conhecimento técnico adquirido no curso, hoje ela consegue ampliar a renda familiar. “O IF foi para mim um impulsor da melhoria daquilo que eu já tinha como sonho”, relata a produtora, que até hoje tem o acompanhamento e orientação do MCCC para a produção do chocolate e fortalecimento do seu plantio de cacau. A formação também ajuda produtores a compreender e valorizar seus produtos. “Os produtores já faziam um chocolate de qualidade, mas, por falta de informação, davam um preço, o cliente não aceitava e eles não conseguiam argumentar”, conta a estudante de Engenharia de Alimentos e integrante do MCCC, Juciana Ferreira. Ao informar ao produtor sobre como garantir a qualidade do chocolate desde a colheita, passando pela fermentação do fruto e pela classificação da amêndoa, o Movimento vem agregando valor de mercado ao produto. Em movimento pelo reconhecimento do cacau do sul da Bahia Além do reconhecimento da IG, na modalidade Indicação de Procedência, que valoriza e protege juridicamente a região Sul da Bahia pelo cacau singular, especial e modo de produção sustentável, Ivan Pereira argumenta que é importante conquistar também a modalidade Denominação de Origem (DO), uma meta que o Movimento almeja ajudar a alcançar com ações em parceria com a Associação de Produtores do Sul da Bahia. “Para isso, precisa-se de mais investimento, cursos de formação, mais capacitação e maior envolvimento dos atores regionais que estão inseridos nessa cadeia de valor”, A Denominação de Origem é referente ao nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designa produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico. O trabalho de conclusão de curso do ex-aluno da Especialização em Cacau e Chocolate do IF Baiano, Cristiano Sant’ana, e diretor executivo do projeto IG Cacau, também trouxe contribuições importantes nesse sentido, apresentando comprovações para a consolidação da denominação de origem do cacau do sul da Bahia. O estudo demonstra a especificidade do território de identidade Sul da Bahia, traduzido pelo cacau Catongo, uma mutação natural ocorrida na espécie Theobroma Cacao, que confere amêndoas de coloração interna branca ao fruto, e indica uma qualidade especial do mesmo. “Essas características não foram comprovadas cientificamente até agora em nenhuma outra região produtora de cacau no país e o apoio do IF Baiano, por meio do MCCC, vem sendo fundamental para a conquista de mais esse selo de qualidade para as regiões produtoras de cacau da Bahia”, destaca Sant’ana. |
SOBRE O IF BAIANO O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano) foi criado em 2008 e é uma instituição de ensino médio e superior, focado na Educação Profissional e Tecnológica. Agrega as antigas Escolas Agrotécnicas Federais e as Escolas Médias de Agropecuária Regionais da Ceplac (EMARC) presentes na Bahia. Atualmente, possui 14 campi nos municípios de Catu, Senhor do Bonfim, Santa Inês, Guanambi, Valença, Teixeira de Freitas, Itapetinga, Uruçuca, Bom Jesus da Lapa, Governador Mangabeira e Serrinha, Alagoinhas, Itaberaba e Xique-Xique. |