O saldo positivo de capital externo na bolsa brasileira caiu em quase 9 bilhões de reais desde o final de janeiro, mas especialistas seguem com uma visão positiva para as ações no Brasil, avaliando que a saída de recursos ocorreu em razão de eventos na cena internacional, que incluíram risco de guerra comercial e elevação de juros nos Estados Unidos.
Dados divulgados nesta sexta-feira mostraram que em 21 de março houve a primeira entrada líquida diária após 17 sessões com saídas, com o saldo acumulado no ano em 937,9 milhões de reais ante 9,55 bilhões no final de janeiro.
Gestores e estrategistas ouvidos pela Reuters atrelaram o movimento de saída a correções de portfólios de ações globais, dado o aumento de preocupações geopolíticas com a questão de barreiras tarifárias liderada pelos EUA e a cautela com a elevação juros pelo Federal Reserve, banco central norte-americano, entre outros fatores.
O diretor da área de renda variável do Credit Suisse para a América Latina, Emerson Leite, disse que é difícil atestar sobre a continuidade ou não das saídas, mas que uma virada não é favorecida enquanto houver incerteza no ar.
Ele ressaltou, contudo, que o prognóstico com Brasil segue construtivo, diante da recuperação econômica e dos juros baixos; e que os investidores locais têm absorvido o movimento de estrangeiros, principalmente fundos, mas também pessoas físicas, com o Ibovespa se sustentando no nível de 84 mil, 85 mil pontos.
“O fundamento ainda é bom, enxergamos mais como uma oportunidade de compra do que início de correção maior”, afirmou Leite.
Em janeiro, quando houve entrada recorde de recursos de estrangeiros para o mês, o Ibovespa renovou máximas históricas em várias sessões, o que se repetiu no mês seguinte, alcançando o recorde de 87.652 pontos para o fechamento no dia 26. De lá pra cá, considerando o fechamento da véspera, o índice acumulou queda de 3,3 por cento.
O chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, David Beker, afirmou que o investidor estrangeiro ainda é muito importante para a bolsa, mas citou que o potencial de alocação da indústria de fundos do país é relevante e que, para esse grupo, o cenário de juros baixos está se sobrepondo.
“O participante local tende a aumentar (sua participação) versus estrangeiros”, afirmou, reforçando que faz parte do grupo no mercado que mantém uma visão positiva para as ações no país.
Dados da B3 sobre a participação dos investidores no volume negociado mostrou que em janeiro a fatia dos estrangeiros era de 48,5 por cento, passando para 49,4 por cento em fevereiro e 50,8 por cento em março até o dia 21. A parcela dos institucionais passou de 27,2 por cento, para 27,9 por cento e estava em 26,2 por cento.
O gestor Florian Bartunek, sócio-fundador da administradora de recursos Constellation, também não vê a saída de estrangeiros como uma tendência, destacando que esses investidores seguem interessados em Brasil. “Daqui a pouco (o fluxo) volta”, disse.
R7