O humorista Marcelo Madureira, 58 anos, teve seu nome citado em muitas das conversas da semana passada. No domingo 26, durante a manifestação em São Paulo em apoio à Operação Lava Jato, ele chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “vagabundo” e a ex-presidente Dilma Rousseff de “ladra”. Chegaram a atribuir a fala à atriz Regina Duarte, que também participou do evento, mas foi Marcelo quem fez a afirmação. E não se arrepende disso. “Disse baseado no que sabemos pelas delações”, sustenta. Figura popular desde que atuou no humorístico Casseta & Planeta, exibido pela tevê Globo, ele tem se destacado como uma das vozes mais críticas das administrações petistas. “Em 2010, quando Lula contava com a aprovação maciça da população, eu disse que ele era uma farsa e que o Brasil estava sendo governado por uma quadrilha de cafajestes. Vai custar muito tempo para que o País se reerga.”
Na manifestação em São Paulo no domingo, foi você quem chamou o ex-presidente Lula de “vagabundo” e a ex-presidente Dilma Rousseff de “ladra e vagabunda”?
Disse isso baseado em tudo o que tomei conhecimento a partir das delações feitas na Operação Lava Jato. Ela se dizia impoluta, mas os depoimentos mostram que caiu a última máscara. Ela é uma ladra mesmo. E Lula é chefe de quadrilha.
Alguma vez você foi eleitor dele?
Na eleição presidencial de 1989.
Decepcionou-se, então?
Conheço o Lula há muito tempo. Militei no movimento estudantil, a política não é nova na minha vida. Lula não vale nada. Já tinha percebido isso desde minha época de militância.
Por que achava isso?
Comecei a observá-lo. Ele sempre se apropriou do movimento sindical. Passei a vê-lo como um cara oportunista e fiquei cada vez mais convicto de que era um embuste. Em 2010, quando ele contava com a aprovação maciça da população, eu disse que ele era uma farsa e que o Brasil estava sendo governado por uma quadrilha de cafajestes. Estávamos indo por um caminho que levaria gerações para nos recuperar.
Imaginava que a situação pudesse chegar a um nível tão crítico quanto o que vivemos agora?
Não tinha ideia de que seria tão brutal. Estamos vivendo uma hecatombe. Custará muito tempo para que o País se reerga.
Lula assumiu a presidência em um raro momento da história brasileira em que um presidente tinha apoio popular, político e empresarial. O que deu errado, na sua opinião?
Ele herdou um País que apostou nele, foi caudatário de uma esperança. Porém usou de demagogia. Foi covarde. Se Lula fosse um milímetro estadista teríamos dado um salto enorme. Por incompetência, desonestidade, ganância, calhordice, ele não teve visão.
Mas Lula aparece como um dos favoritos na campanha presidencial do próximo ano.
Ele tem 20% a 30% do eleitorado. Isso já é cristalizado.
Como encara a sua candidatura?
Se estiver dentro de seus direitos políticos, ele pode ser candidato, claro. Mas acredito que até lá ele esteja condenado. Tenho certeza de que se prenderem o Lula hoje vai ter buzinaço no País.
E quanto à Dilma?
A pior coisa do mundo é uma incompetente com iniciativa. Ela não tem consciência da própria ignorância. Digo isso baseado nas sandices e imbecilidades que Dilma fez. Ela não consegue sequer verbalizar um raciocínio.
Você é muito criticado por suas posições?
Pelo contrário. Sou cumprimentado nas ruas. Mas hoje a sociedade está dividida. Uma das heranças malditas dos governos petistas foi a de criar um ambiente de intolerância geral, de raiva, de ódio. Eu vivi em um Brasil onde isso não acontecia.
Que perspectivas enxerga para o País?
O Brasil no qual eu cresci não existe mais e não voltará. O futuro dependerá muito do que será a Lava Jato. Caso a operação termine em um grande acordo, o destino será melancólico. Porém se formos fundo até as últimas consequências teremos a possibilidade de reconstruir a nação dentro de uma base ética de valores. Mas modernizar o País demanda trabalho.
O juiz Sergio Moro muitas vezes é acusado de praticar o que chamam de justiça “seletiva”, cujos alvos seriam os caciques petistas em detrimento de políticos de outros partidos. O que acha da colocação?
Moro está fazendo o papel dele, assim como os procuradores envolvidos na operação. Eles estão cumprindo o dever deles, fazendo o certo sem segundas intenções. Querem legar um País melhor para as próximas gerações. Por isso contam com a aprovação da maioria das pessoas. A população vê neles jovens com princípios, propósitos.
Por que as manifestações do domingo 26, que tinham por objetivo apoiar a Lava Jato, tiveram pouca adesão?
Os movimentos de massa passam por estabilidades. Não me assusto com isso. O povo não estava tão mobilizado, mas isso não quer dizer que não sairá em peso à rua novamente.
Projetos legislativos em discussão como o que não torna crime o Caixa 2 e o que propõe alterações na regulação da lei de abuso de autoridade são vistos como tentativas de minar a Lava Jato. O que acha dessa reação dos políticos, hoje os novos alvos da operação?
Eles estão acuados. Não estão entendendo que a sociedade não vai engolir mais essas coisas, assim como não engoliu a Dilma. Eles vão ter que recuar. Esses parlamentares não representam a sociedade, mas não se deram conta disso. Os partidos estão divorciados do povo brasileiro.
Muitos políticos dizem que atacar a classe política pode levar ao caos.
No caos nós já estamos.
Enxerga alguma alternativa que responda ao anseio da sociedade por uma política ética e afinada com as reais necessidades da população?
Não vejo nomes. Quero saber a agenda. Temos que buscar o que nos une para reconstruir o País que foi arrasado. O que nos separa vamos discutir depois.
Não teme que o vazio de representatividade permita a ascensão de líderes radicais de direita?
Existe uma extrema direita, mas tendo a acreditar que eles berram mais porque não são tantos assim. Defendo que, respeitando as regras do jogo democrático, todos os segmentos de pensamento têm que se expressar. Sou a favor do debate. Gosto de trocar ideias com pessoas de opiniões diferentes das minhas. Podem ir do Jair Bolsonaro (de saída do PSC) ao Jean Willys e Marcelo Freixo (ambos do Psol). Essa vida civilizada, de escutar o que outro tem a dizer, precisa voltar à sociedade.
De que forma recebe as informações que estão saindo a partir das delações na Lava Jato?
Elas revelam um cenário assustador. Não éramos um País. Éramos um consórcio do PT, do PMDB e de outros partidos com as empreiteiras. Nenhuma nação pode dar certo assim. E começamos a exportar esse modo de atuação para vários países. Quer dizer, começamos a infectá-los.
No meio do maior ataque ao erário de que se tem registro no Brasil, o caso dos requintes de luxo de Sérgio Cabral e de sua mulher, Adriana Ancelmo (dois dos acusados na Operação Lava Jato), chegou a chamar sua atenção?
Conheço o Sérgio Cabral desde quando eu tinha uns quinze anos. Ele era militante também. Mas o ser humano é isso, essa pequenez… Para que tantos ternos? Vaso sanitário com assento aquecido? Parece Versailles (palácio da família real francesa que virou símbolo da opulência dos nobres em contraponto à miséria da população da França à época da Revolução Francesa).
Como avalia o governo de Michel Temer?
Ele entende que precisa fazer um bom governo, que as reformas são necessárias. Por outro lado é refém do próprio passado, com sua história ligada ao pior do PMDB e à aliança com Dilma.
Em que medida isso pode travar as negociações para as reformas?
Ele tem alguns traços de estadista e quer deixar um legado. Mas percebe a complexidade dos problemas. Está tentando tocar, porém precisa trabalhar com um Congresso que é um refúgio de bandido. Na economia ele tem sido sensato, colocando pessoas certas nos lugares certos. O Pedro Parente, na presidência da Petrobrás, e a Maria Silvia Marques, no comando do BNDES, são exemplos disso. São gente boa, de princípios.
É a favor da reforma da Previdência como está proposta pelo governo?
É preciso uma reforma para que no futuro todos possam receber alguma aposentadoria. Porque se nada for alterado agora ninguém vai ter nada.
E quanto às críticas de que ela seria rigorosa demais?
As pessoas devem entender que terão que abrir mão de direitos. Ser cidadão é ter deveres também. É necessário um entendimento de onde estamos e onde queremos chegar. Mas a população fica assustada porque até agora não houve uma explicação didática sobre a reforma. Todos se sentem inseguros. Por isso é necessário explicar que não é bem assim.
Mas você não acha que a população já deu – e muito – sua cota de sacrifício?
As pessoas se sentem espoliadas porque o Estado não serve ao povo. A quantidade de desempregados hoje é imensa. Se o cidadão é pobre e fica doente, está ferrado. A febre amarela voltou, as facções criminosas dominam lugares que não fazem mais parte do Estado. Mas para construir uma grande nação é preciso ter sacrifício, vontade, trabalho. E a culpa por termos chegado a esse ponto é de todos nós, principalmente daqueles que não se interessam pela política, pela vida em comunidade. Não existirá nação enquanto não existir um projeto nacional.
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Cilene Pereira – da revista Istoé