PAPAGAIO. 1 ZOOL Denominação comum a inúmeras aves da família dos psitacídeos, em especial do gênero Amazona, presentes nas Américas Central e do Sul, com mais de 11 espécies brasileiras, algumas encontradas em todo o país, outras em vastas regiões ou, ainda, em pequenas áreas. Variam em tamanho e têm plumagem de coloração intensa, predominantemente verde, com variação de cores em determinadas partes do corpo. Algumas espécies apresentam uma especial facilidade para imitar a voz humana, sendo, por isso, muito apreciadas como aves domésticas; ajeru, ajuru, ajurujuru, jeru, juru, loiro, louro.
2 FIG Pessoa que repete de memória o que ouve ou lê sem, no entanto, compreender o que está falando: O menino é um verdadeiro papagaio.
(https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/papagaio)
Há anos atrás, quando ainda não era a época das fake news, com toda a pompa falei para um professor de jornalismo uma frase que eu achava que era original: “o excesso de informação está desinformando”. De pronto fui corrigido, já que Faculdades de Comunicação já discutiam essa temática.
Na realidade eu quis me referir, como leigo que sou, que o problema não está na quantidade de informações hoje disponível, mas na maneira como se compartilha tudo, sem o mínimo cuidado. Repito: não estou me referindo às famigeradas fake news, intencionalmente utilizadas para manipular a eleição da “coisa” do Bolsonaro. Minha crítica é relacionada a pessoas que, mesmo não sendo mal-intencionadas, disseminam tudo que acessam nas redes sociais.
Antes tivemos a era do “achismo”, agora vivemos a era do “tenho certeza”, do “eu sei”, afinal de contas, está nas redes sociais.
Nem quero remontar às priscas (gostaram?) eras, em que o acesso à informação era limitado a Enciclopédias, tipo a Barsa, o Google da minha juventude. Ali podíamos perder em quantidade, até pela dificuldade de atualização, mas era uma fonte de pesquisa que tinha credibilidade.
Hoje a rede social, mecanismo extraordinário para pesquisa, estudo, divulgação de informações, contém também muitas impropriedades, que muitas vezes supera os conteúdos de qualidade.
O que impressiona é que a própria internet pode servir para que se esclareça se a informação é verdadeira, ou não, mas muitos usuários não filtram o conteúdo.
Então, hoje ninguém “acha” nada, todos têm certeza de tudo. Aí me vem a mente a Síndrome do Papagaio: “…permitem a reprodução do som que elas ouvem. E isso vale tanto para as palavras, como para qualquer outro som. Tem papagaio que convive com cachorro e, por isso, também late. Outros miam, como o gato, e assim por diante. O mais curioso é que justamente por isso o papagaio pode falar várias línguas. No entanto, não é porque a ave repete o que ouve que ela entende o que fala. Ela não sabe o significado do que está dizendo. O que ela faz é uma simples imitação do som” (http://www.sibbp.com.br/estudos/setembro_2011_04.pdf). Sei que a transcrição foi extensa, mas só queria ressaltar como as pessoas estão perdendo a capacidade de pensar, são meras reprodutoras do que leem e escutam. E como isso facilita a manipulação.
Ia encerrar aqui essas digressões, quando recebi um zap do meu amigo René*, que me dirigiu as seguintes palavras: “parece que você está ficando senil, minha frase foi PENSO, LOGO EXISTO, e não, EXISTO, LOGO PENSO”. Então, René, eu devo ter sido um péssimo aluno no meu querido Colégio da Polícia Militar (localizado na Cidade Baixa aqui em Salvador), por que eu tinha aprendido que nossa diferença para os animais é, justamente, nossa capacidade de pensar.
*filósofo René Descartes, 1596-1650
George Floyd
Voltei ao livro 1984, de George Orwell: “se você quer formar uma imagem do futuro, imagine uma bota pisoteando um rosto humano”. Óbvio que essa frase nos remete ao assassinato de George Floyd; as manifestações em vários países são mais do que justas, mas a pergunta que não quer calar: qual o próximo negro a ser assassinado, principalmente pelas forças de segurança?
Por falar em manifestações, é muito louvável a imprensa brasileira fazer questão de ressalvar que a violência ocorrida nos EUA não era dos manifestantes, mas de marginais, tiveram todo um cuidado para diferenciar, separar as coisas, em algum momento foi até cansativo e repetitivo a forma enfática como demonstravam que os manifestantes estavam só se manifestando (a redundância foi proposital); só peço a essa mesma imprensa que tenha o mesmo cuidado quando ocorrerem manifestações no Brasil, principalmente das forças progressistas, por que no geral agem o contrário, tentam confundir o telespectador caracterizando os manifestantes como bandidos. Só peço o mesmo tratamento, só isso.
Abrasileirando a pergunta acima: quem vai ser o próximo João Pedro?
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Ivan Gargur é Economista, professor e consultor