Perguntado qual o primeiro pensamento que veio à cabeça quando a conquista da inédita medalha da equipe feminina de ginástica artística foi confirmada, Chico Porath não titubeou: “Caramba, a Jade é medalhista olímpica!”. A reação do treinador externa um sentimento comum aos fãs da modalidade, de que a veterana merecia demais ter esse feito no currículo.
Jade Barbosa se apresentou para o Brasil como um dos grandes nomes do esporte olímpico brasileiro nos Jogos Pan-americanos Rio 2007. No ano seguinte conquistou um bronze no individual geral no Mundial de Stuttgart. Ela conquistaria ainda outras duas medalhas em Mundiais, subindo ao pódio na competição em três décadas diferentes: foi também bronze no salto em 2010 e prata por equipes em 2023.
A ginasta tinha, até então, duas participações olímpicas no currículo, sendo oitava colocada por equipes em Pequim 2008 e na Rio 2016. No Mundial de 2019, que poderia dar a vaga por equipes para o Brasil em Tóquio 2020, sofreu uma lesão no tornozelo, uma das muitas que enfrentou ao longo da carreira. Sem a vaga do grupo, não competiu no Japão e trabalhou foi comentarista nas transmissões das medalhas de Rebeca Andrade.
Paris 2024 talvez fosse a última chance de a veterana subir ao pódio olímpico. E Jade se desdobrou para se fazer presente e necessária ao grupo. Foi a incentivadora das mais novas, o porto seguro nos momentos difíceis. Desenhou os collants de treino e de competição, secou chão, preparou as barras.
“Eu conheço Jade desde que ela tinha 13 anos, quase minha carreira toda no Brasil. Temos a Rebeca como líder técnica, mas temos uma líder capitã que é a Jade. Cuida de tudo, ajuda a equipe como uma base, uma raiz. Ela tem muita experiência. Nas Olimpíadas de 2008 que a gente esperou muito uma medalha, mas infelizmente não deu. Estou muito feliz que ela, com 33 anos, finalmente tem essa medalha”, disse a técnica ucraniana Iryna Ilyashenko.
Nesta terça-feira (30), Jade foi escalada para competir apenas no último dos quatro aparelhos da rotação. Mas se manteve ativa desde o primeiro para preparar as barras assimétricas para as companheiras. Passou spray, pó de magnésio, secou o suor que pingou no chão. Ficou de olho quando Flávia Saraiva saiu para receber atendimento médico após cortar o supercílio. Só deixou a área de competições da Arena Bercy para se aquecer no salão de apoio, para não esfriar.
O salto, último aparelho, é o mais forte do Brasil. A veterana foi a primeira a saltar e não conseguiu cravar a aterrissagem. Era possível em seu rosto o peso da responsabilidade. Segurou a emoção até as notas das britânicas na trave trazerem o alívio e confirmarem que o Brasil dela era medalhista olímpico. Ela, Jade Barbosa era medalhista olímpica.
“Eu já competi em Jogos Olímpicos em casa, Jogos Pan-americano em casa, tenho medalhas em Mundiais em três décadas diferentes. O que eu poderia pedir mais? Mas Deus me deu, deu às meninas. Fico muito feliz de estar hoje vivendo a ginástica que eu sempre imaginei para o Brasil”, disse a brasileira, que complementou:
“As pessoas hoje tiveram a oportunidade de ver duas horas do Brasil competindo, mas sabemos que essas duas horas foram trabalhadas em mais de 40 anos. Nós fomos conquistando passo a passo para que hoje a gente chegasse e tivesse esse resultado por equipes. O Brasil não era nada nesse esporte. A gente começou com alguns talentos individuais e muito ‘paitrocínio’. Hoje nós somos uma potência.”
“Hoje a gente pode dizer que tem uma escola brasileira de ginástica. Não foi a nossa melhor competição, mas hoje a gente consegue ganhar uma medalha sem fazer a nossa melhor competição. Quando a gente imaginou isso? A gente lutou por cada detalhe, cada menina deu tudo o que tinha. Nosso sonho sempre foi popularizar o esporte, e com essa competição hoje a gente quer mais pessoas praticando, a gente quer que essas novas gerações sintam que é possível também”.
Cob