Sofrer com o “jet lag” -aquele cansaço que sentimos quando mudamos de fuso horário em uma viagem- pode causar obesidade e aumentar o risco de câncer de fígado, de acordo com os resultados de um estudo divulgado nesta quinta-feira (23).
Publicada pela revista Cancer Cell, a pesquisa recriou o efeito da defasagem de horário em animais para analisar quais sãs as consequências de constantes mudanças no relógio.
“Queríamos saber se o ‘jet lag’ crônico era suficiente para induzir câncer em ratos bem alimentados, sem manipulação genética, sem radiação”, explicou à Agência Efe o professor David Moore, que liderou o estudo realizado no Baylor College of Medicine, no Texas, Estados Unidos.
Os pesquisadores já conheciam vários fatores de risco para o câncer de fígado, entre eles o consumo de álcool, o vírus da hepatite e gordura no órgão.
Também já se sabia que o “jet lag” provocava alterações no ritmo circadiano, uma espécie de relógio pelo qual são guiados os ciclos biológicos dos seres humanos, como os padrões de sono e da atividade cerebral. Essas mudanças no ritmo circadiano podem provocar alterações no metabolismo, o que leva a um aumento na obesidade.
Segundo relatou Loning Fu, outra pesquisadora que participou do trabalho, os especialistas recriaram em um laboratório os efeitos da defasagem de horário.
A cada semana, os cientistas acenderam e apagaram em horários diferentes as luzes das salas nas quais os ratos estavam. Assim, descobriram que os animais acabaram perdendo o controle de metabolismo e por isso engordaram, criando mais gordura e desenvolvendo um fígado gorduroso. Com o tempo, alguns casos chegaram ao câncer de fígado.
“Encontramos outro fator, a produção elevada de ácidos biliares, que o fígado produz para ajudar a digerir as gorduras. Potencialmente, podem ser tóxicos”, disse Moore.
De acordo com o especialista, esta anomalia, a maior produção de ácidos, “parece ser chave para o câncer de fígado”, pois assim foi indicado por estudos anteriores e porque foi um efeito observado na pesquisa.
Os cientistas focaram desta vez em pesquisar se há remédios que possam evitar este efeito nos níveis de ácido biliar, para saber se podem ser utilizados para prevenir o câncer hepático nos seres humanos.
O “jet lag” não é só um desequilíbrio no relógio biológico provocado por uma viagem longa que atravessa diferentes fusos horários, mas também um transtorno que pode ser experimentado pelas pessoas que trabalham em um horário noturno, pois a exposição à luz do dia também é alterada.
Esta defasagem provoca fadiga, problemas para conciliar o sono, confusão, dificuldade para se concentrar e irritabilidade, entre outros sintomas.
uol