(Da Revista Istoé) Em dezembro do ano passado, uma delegação de nove deputados do PSB foi conversar com o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa, em seu escritório de advocacia no bairro do Jardim Paulista, em São Paulo. O articulador da reunião, o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG), pediu a todos que chegassem uma hora antes e que se reunissem primeiro numa padaria próxima do escritório. “Olhem só, ele não é fácil”, advertiu Delgado. “É muito formal, fechado. Exige ser tratado como ministro. Vamos, então, com cuidado”. Para surpresa de todos, Barbosa recebeu-os com sorrisos. O deputado César Messias (AL) não se conteve: “Ministro, o Júlio Delgado fez todo mundo chegar uma hora antes, cheio de recomendações sobre como tratar o senhor”. Barbosa sorriu: “É porque ele é mineiro e desconfiado, como eu”. Risos gerais. O ex-ministro acabava de ser mordido pela mosca azul da política.
Se desde então ainda havia dúvidas em Joaquim Barbosa quanto ao projeto de disputar a Presidência, elas diminuíram significativamente com a pesquisa Datafolha, publicada no domingo 15. Posto pela primeira vez como alternativa, Barbosa oscila nas intenções de voto entre 8% e 10%. Ele já aparece em terceiro lugar, atrás apenas de Jair Bolsonaro (PSL), com 17%, e Marina Silva (Rede), com 15%. Tem mais intenções de votos do que Geraldo Alckmin (PSDB), que varia entre 6% e 8%.
A entrada de Barbosa embaralha o jogo porque, como mostra a pesquisa, ele tira votos tanto da chamada direita como da esquerda, além de interferir mais diretamente nas candidaturas do centro. Joaquim não é dado a conceder entrevistas, mas desde que deixou o STF, aposentando-se precocemente por causa de fortes dores na coluna em 2014, tem usado muito as redes sociais para se expressar. E, por esses meios, apresenta uma plataforma de idéias que mescla posições mais de esquerda nos costumes com outras mais liberais na economia. Ele defende, por exemplo, a privatização de estatais desde que não se mexa nas chamadas “joias da coroa” como a Petrobras. Defende reformas estruturais como a da Previdência, desde que também se vá em cima das empresas devedoras.
Mas o que explica o fato de um ex-ministro do STF, há quatro anos aposentado e afastado do noticiário, que nunca teve militância político-partidária, ter tal capacidade de embaralhar um jogo sucessório dos mais complexos já vividos pelos brasileiros? “Ele entra no perfil ideal do que quer o eleitor. Tem origem humilde, carrega a bandeira do combate à corrupção e não está envolvido em problemas éticos”, afirmou Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas. Na condução do processo do mensalão, ele ganhou notoriedade nacional ao enfrentar o poder político e econômico de maneira até então jamais vista no País: 25 políticos do PT, incluindo o ex-ministro José Dirceu, foram condenados por corrupção.
Da Revista Istoé (Rudolfo Lago e Tábata Viapiana)