John le Carré, autor de O Espião que Sabia Demais que lançou espiões imperfeitos no tabuleiro sombrio da rivalidade da Guerra Fria, morreu aos 89 anos.
David Cornwell, o homem por trás do pseudônimo, morreu após uma doença breve na Cornualha, no sudoeste da Inglaterra, na noite de sábado.
Ele deixa a esposa, Jane, e quatro filhos. A família disse em um comunicado que a causa da morte foi uma pneumonia.
“Muito triste de ouvir a notícia sobre John le Carré”, disse Richard Moore, responsável da agência de inteligência estrangeira britânica MI6. “Um gigante da literatura que deixou sua marca no MI6 por meio de seus romances evocativos e brilhantes.”
Ao explorar a deslealdade no cerne da inteligência britânica em romances de espionagem, Le Carré confrontou suposições ocidentais sobre a Guerra Fria definindo para milhões as ambiguidades morais da batalha entre a União Soviética e o Ocidente.
À diferença do glamour despreocupado do James Bond de Ian Fleming, os heróis de Le Carré são aprisionados em uma vastidão de espelhos dentro da inteligência britânica abalada pela traição de Kim Philby, que fugiu para Moscou em 1963.
“Não é mais uma guerra de disparos, George. Este é o problema”, diz Connie Sachs, especialista em espiões soviéticos da inteligência britânica e alcoólatra, ao caçador de espiões George Smiley em “A gente de Smiley”, romance de 1979.
“É cinzento. Meios-anjos combatendo meios-demônios. Ninguém sabe onde estão as linhas divisórias”, diz Sachs.
Este retrato desolador da Guerra Fria moldou as percepções populares a respeito da rivalidade entre a União Soviética e os Estados Unidos, que dominou a segunda metade do século 20 até o colapso soviético, em 1991.
A Guerra Fria, para Le Carré, foi “Uma Guerra de Espelhos” (seu romance de 1965) na qual não havia heróis e os conceitos morais eram vendidos – ou traídos – por mestres da espionagem em Moscou, Berlim, Washington e Londres.
Após um período no Exército, Cornwell estudou alemão em Oxford, onde denunciou estudantes de esquerda à agência de inteligência doméstica britânica MI5. Ele também trabalhou no MI5 em Londres, e em 1960 foi para o Serviço de Inteligência Secreta, conhecido como MI6.
“Sou um mentiroso”, disse ele, segundo seu biógrafo, Adam Sisman. “Nascido para mentir, preparado para isso, treinado para isso por uma indústria que vive da mentira, experiente nisso como romancista”, afirmou.
R7