Claro que Jair Bolsonaro teve sua importância, como elemento catalisador da faxina que boa parte dos eleitores queria e que foi determinante para o alijamento do Partido dos Trabalhadores do domínio central, o que era realmente necessário para o Brasil, no período, face a atitude equivocada de mais valia de poder, encetada por suas principais lideranças. Isso tendo o ex-presidente Lula como elemento chave, conforme o posto pela Justiça. Mas, Bolsonaro, caso os seus eleitores tivessem a atitude de avaliar e reconhecer, sem a força da doutrinação ou dos dogmas como de uma seita (o mesmo pecado cometido pelos lulistas inveterados), reconheceriam que ele perdeu seu prazo de validade.
Repetindo: o PT está fora da jogada, tirando um ou outro governador, a exemplo de Wellington Dias (Piauí) e Rui Costa que foram apontados como bons administradores e passando ao largo da crise, segundo lideranças políticas de partidos variados ouvidos pelo “Painel do Poder” do portal Congresso em Foco. Daí que a utilidade de Bolsonaro, frente sua inapetência ao poder, que se verifica e daqui a pouco completará dois anos de efervescente pasmo da população em geral, virou quase nenhuma. Ainda dá tempo de seus acólitos irem em busca de outras rotas, para não repetirem os erros dos lulapetismo, em que seus adeptos, também ranhetas, se recusam a admitir as mazelas do ex-presidente.
Aliás, um estudo publicado pela revista científica britânica Nature e conduzido por pesquisadores da University College London apontou, pela primeira vez, que processos neurais complexos levam à dificuldade de se mudar de opinião depois que ela é enraizada no cérebro. Mas não é doença, deixo claro. E sendo assim, com um pouco de esforço e ajuda o problema de ser cabeça dura pode sofrer um by-pass.
Voltando ao atual presidente, ele com sua negação, negação da pandemia, que é fato mais vistoso da sua carreira presidencial neste 2020, causa desserviço para o país. Ele, como se viu fartamente e se leu e ouviu, acaba de ser castigado, não pelos adversários, mas pelo vírus que teimava em humilhar. O Covid-19 pegou o homem que dizia ser um atleta imune. A gripezinha o colou humildemente para correr atrás de ajuda.
O mesmo já tinha acontecido com o premiê Boris Johnson, do Reino Unido, que espezinhava o coronavírus e pegou, teve complicações foi parar na UTI. O presidente do México viu a situação apertar e correu para voltar atrás e obedecer à OMS. Juan Hernandez, presidente de Honduras foi mais uma vítima entre os poderosos. O prefeito de Miami, Francis Suárez, minizou a pandemia e foi contaminado. Todos colocaram, diretamente, presencialmente e não de forma metafórica, a vida dos outros em perigo.
Bolsonaro andou de avião, andou de ônibus, andou de trem, andou de Jetski, apertou mãos, abraçou, beijou e disse que máscara era coisa de viado. Após cem dias não teve jeito, e sem graça, com máscara, pronunciou que fora infectado pela doença que ele garantira certa vez, ser mera gripezinha. Mesmo assim, na coletiva em que anunciou que estava infectado sequer falou do que o governo estava fazendo para combater a doença e esqueceu que ela matou, até agora, perto de 70 mil brasileiros e vai matar dezenas de milhares ainda.
Bolsonaro aproveitou, inclusive, para fazer proselitismo político. E a seguir um trabalho de divulgação da Cloroquina. Foi um espetáculo ímpar levantar a bola de um remédio. Voltou a se recusar a reconhecer a gravidade da pandemia. Disse que como a maioria da população teve sintomas leves. Esqueceu dos mortos. E o discurso oficial ganhou apoio dos seus apoiadores que estão no espectro do estudo publicado na Lancet. Seu tergiversar ocorreu, justamente na data em que 1,6 milhão de brasileiros tiveram diagnóstico positivo. Para o presidente o que havia era um superdimensionamento da pandemia.
Você já leu a parte da bula da cloroquina? Já olhou no item “Efeitos colaterais”? Tem muito mais itens que do que a posologia de “Como usar”. E por falar nisso, se o presidente disse que vinha tomando a cloroquina – embora não tenha mostrado o ato -, o senhor pode me dizer quem receitou? Quem foi o médico? Como foi parar na mão dele? Perguntado sua assessoria não respondeu. Coisas de Bolsonaro.
Mesmo assim o ideal é que ele continue na presidência, para evitar uma crise que sempre gera um impeachment. Mas, seus seguidores deviam saber que é hora de baixar a bola, parar de incensar, dar ouvidos às incongruências do presidente. Também esquecer o espectro da esquerda. Esta que está mais exorcizada que num filme de terror e só vive, justamente, pela energia que vem dos bolsonaristas que não sabem ser resilientes (no sentido psicológico de ser). Que Deus o proteja e dê saúde. E dê juízo.
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Jolivaldo Freitas – Escritor e jornalista