A miséria da Covid-19 trouxe, além de todas as dores e dramas com seus quase 470 mil mortos – coisa que infelizmente o Brasil alcança neste fim de mês de maio um tempo de eclipse da lua e “Lua de Sangue” ou “super lua” – um estresse a mais, algo que era inimaginável por se achar que com o toque de recolher, lockdown, restrições, tudo fechado, nada vendendo, emprego em suspense e auxílio emergencial uma micharia de dar dó. Pois, acredite… aliás, nem precisa acreditar por que você com certeza está passando pela mesma vicissitude, todo mundo vem se queixando do sumiço do dinheiro, mas está o povo todo construindo ou decorando, dando um “trato” na casa.
Vejamos que houve um aumento de 5 por cento no número de edifícios sendo construídos por todo o país, embora com aumento de mais de 30 po9r cento no preço do material de construção em 12 meses. Vou aproveitar e fazer um parêntese para contar um caso que chegou ao meu ouvido. No alto da Ladeira da Barra, em Salvador, Bahia, Brasil, antes da pandemia um grupo de endinheirados se cotizou e decidiu comprar uma das casas mais antigas do local para construir um edifício. A primeira coisa que fizeram e me foi dito e mandaram as fotos, foi matar à base de veneno as velhas e frondosas mangueiras, sem nenhuma ordenação do Inema, Ibama, Nasa ou fosse lá o que fosse. E meses depois que as árvores morreram, em pleno domingo, sem nenhuma autorização de órgão da prefeitura foram lá na ladeira e passaram o dia enlouquecendo os moradores usando motosserras.
Não é que esta semana decidiram colocar a casa abaixo. Chegaram por lá sem nenhum apoio da Transalvador e engarrafaram tudo, quebraram passeio, marcaram o asfalto, esculhambaram a fiação, destruíram o passeio de pedra portuguesa, furaram cano de água e encheram os apartamentos dos edifícios ao redor e à frente com “tempestade” de poeira. Parecia tempestade no Saara. Moradores passaram a brigar por que enquanto a retroescavadeira jogava tudo ao chão, pedras batiam nas janelas. Os residentes têm certeza que os próximos meses serão um inferno com a construção pois os incorporadores já chegaram como siderados do velho Oeste. Arregaçando. Nos cascos. Mas já se preparam para enfrentar as pás e picaretas.
Como dizia antes, parece que não está faltando dinheiro na burra de ninguém, vez que em todo canto se constrói e em tudo que é bairro tem obra de melhoria de fachada de prédio e reforma dos apartamentos. Agora pare e imagine: a Bahia é tida e havida como um estado barulhento. Salvador a cidade mais barulhenta do país. O baiano visto como um ser espaçoso e mal-educado. Então está claro que cada um começa a obra a hora que for do seu interesse e termina o serviço quando der na telha (sem trocadilho). E haja barulho de maquita, martelo, serra, serrote, furadeira, talhadeira e britadeira. Já me disseram que não adianta fugir para o Litoral Norte, nem para o Sertão ou Chapada e muito menos para as ilhas. O diabo tomou conta de tudo. Corra e vá comprar seu protetor auricular na farmácia antes que acabe.
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Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. Email: [email protected]