O coração D. Pedro I está no Brasil para comemorações da independência que está fazendo 200 anos. Que mania o ser humano tem de apreciar essas coisas, parecendo que é um gosto um tanto tétrico. E que mania tem as autoridades, quando não têm o que fazer ou coisa melhor para fazer, de buscar alguma coisa que sirva para disfarçar o que está conturbado. Na ditadura militar trouxeram até mesmo a ossada de Dom Pedro II, ele que foi posto para correr do Brasil sem poder olhar para trás e nunca mais que tinha voltado da Europa onde se exilou. Não deixaram.
O Itamarati, na falta de ter algo melhor, como defender a Ucrânia do império belicista e cruel da Rússia, disse que se trata da vinda de um símbolo dos afetos históricos entre Brasil e Portugal. Tem coisa melhor para simbolizar isso. Podia deixar o coração de Pedro I no Porto, onde morou e se deu bem. Respeitado. Ele que saiu do Brasil com a moral baixa.
É de se ver, que for verá, uma cena até que doentia ver a fila de embaixadores, autoridades, convidados diversos seguindo em frente para ver um órgão boiando no líquido. Tomara que alguém da família imperial brasileira – que foi convidada apesar de não se dar bem com o governo que aí está – tenha um maluco que pegue o coração e corra com ele para casa, para enterrar no quintal que seria o lugar adequado.
Lembre-se que os despojos do corpo de D. Pedro se encontram sepultados desde 1972 na Cripta do Monumento à Independência, no Museu do Ipiranga, em São Paulo. Ali, dizem, mas hoje se contesta, seria onde teria dado o Grito da Independência, em 7 de setembro de 1822. A cripta, sim, lugar certo para quem já morreu. Dom Pedro, para quem estudou história, saiu do Brasil para Portugal onde morreu em 1834. Aqui era primeiro. Lá era sexto. Foi imperador do Brasil por quase 10 anos e depois deixou o país em 1831 para seu filho Pedro II.
A ideia de trazer o coração partiu das hostes de Bolsonaro que deve achar que assim estaria adotando uma postura de “estadista”. Na verdade, o que se pretende, não se sabe, como, mas partindo dele deve ser real almejar conturbar ainda mais o processo eleitoral no Brasil. Só sei que expor o coração é algo de extrema morbidez. E esse governo é mórbido de nascença.
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Jolivaldo Freitas é Escritor e jornalista.
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