Três coisas chamaram a atenção dos baianos nestes últimos dias: ACM Neto nas páginas da revista Veja dando como certo o enterro do PT, esquecendo que o próprio DEM que já foi Arena e PFL esteve à beira da cova tantas vezes e voltou do inferno firme e forte; seu próprio avô ACM, que várias vezes foi considerado letra morta e cada vez mais retornou com mais poder ainda. Portanto é perigoso dizer que um partido feneceu. Vejamos o exemplo da Europa, onde a direita estava no ostracismo e hoje afoga – junto com os imigrantes – a esquerda. Nos Estados Unidos a democracia, imagine, perde força com Trump dividindo o eleitorado. Quem diria que o Partido Republicano estaria na crista da onda.
O segundo assunto é a guerra intestina dentro da Câmara dos Vereadores, para a escolha do novo presidente que vai substituir ao vereador Paulo Câmara, tido pelos seus pares como centralizador e vaidoso e que segurou o rabo do boi – no caso projetos de opositores – para que esse não corresse, coisa que não acredito e que especialistas em Câmara de Salvador se dividem na opinião do seu perfil.
E, para falar a verdade, o tema mais importante discutido nestes últimos dias não foi nem Neto, nem a Câmara, nem Trump, muito menos Hillary, neca de pitibiribas para a sonda europeia que deu chabu em Marte, o Nehru que Temer vestiu na Índia, nem o maluco que está com mania de enfermeiro e anda aplicando injeção no povo pelas ruas da cidade e causando um clima de medo nos pontos de ônibus, nas portas das lojas, becos e vielas (será que nos Estados Unidos, França e Inglaterra as polícias já não teriam agarrado o cara? Vá saber).
O que importa neste instante é algo que mexe com todo mundo e que pode desestabilizar uma família, levar uma pessoa a perder a sanidade, criar cizânia, e que pode atingir padre, polícia, advogado, político, professor, camelô, industrial, taxista, uberista, cientista, dona-de-casa, porteiro ou marqueteiro, pobre, rico, remediado, que vem a ser aumento do preço da farinha.
A questão da farinha estava estanque há muito tempo. O problema estava inerte como a lava de um vulcão prestes a explodir, e agora explodiu. Todo baiano sabe que sem farinha não dá! Como comer uma big feijoada sem farinha de mandioca? Não dá para saborear uma dobradinha. Um mocotó pode ser consumido sem o pirão? E como se faz pirão? Com farinha. No sertão ainda se dá mingau de farinha para crianças quando falta comida. Quando falta remédio se oferece ao doente o mingau de cachorro que é feito com farinha e alho. Alguém já tentou fazer farofa sem farinha?
E eu revelo aqui o que está acontecendo com a farinha e espero que as autoridades econômicas e as do ramo policial e da justiça tomem tenência e corram para resolver o problema ou haverá uma calamidade. Primeiro a seca que devasta os municípios baianos está acabando com o plantio da mandioca e sem receber a mandioca o produtor não produz farinha. Temos o grave problema – que já vem há tempos e ninguém tinhascoragem de denunciar e eu denuncio aqui e agora – da perda de qualidade da farinha. A farinha feita de forma industrial não tem gosto, nem qualidade e pega mofo. Onde se viu farinha dar bolor?
Forças alienígenas de Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas e até – pasme – de Goiás estão invadindo nosso mercado com suas farinhas fakes. Onde está a verdadeira farinha copioba que é a produzida em Nazaré das Farinhas (veja o nome da cidade)?Falar a verdade, Nazaré já tinha sido vilipendiada, desmoralizada, prejudicada quando o pessoal de Santo Antônio de Jesus inventou e os baianos de curta memória acreditaram, que sua farinha era melhor que a nazarena (quem nasce em Nazaré das Farinhas é o que mesmo? Olha a resposta… olha o respeito!).
Agora pior: não temos a farinha de Nazaré, nem a meia boca que é a de Santo Antônio de Jesus e vamos engolir calados as farinhas coloridas que vêm de foira. E, só falta, para antecipar a vinda dos Cavaleiros do Apocalipse, que os gaúchos (eles já estão fazendo isso no Oeste da Bahia, vocês tomem cuidado!), invadam nossa capital com suas farinhas perfumadas e que mais parecem Elma Chips. Quer mais? Quer pior. Vamos à luta lembrando que farinha pouca meu pirão primeiro, como diziam os pensadores e farinheiros da antiguidade, da Idade Média, os antigos, digamos os mais velhos, pronto.
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Jolivaldo Freitas é jornalista e escritor