Interessante a novela das seis da noite da TV Globo: “Nos tempos do imperador”. Tanto por seu impecável figurino, cenários e abordagens políticas. Mas, também, pela ousadia dos autores em acrescentar gagues em que se coloca na boca e no jeito dos personagens, situações da política atual brasileira, destes tempos do “Deus nos proteja” e bem aquém da qualidade de liderança do velho imperador Dom Pedro II. Este sofreu nas mãos dos políticos republicanos e com seus detratores do Exército, mas manteve-se coerente com sua aptidão democrática e desenvolvimentista.
Cena recente da novela mostra um deputado, no estilo Centrão desse século 21, mandando o assessor contratar um funcionário e é questionado sobre onde colocar o moço para trabalhar e ele diz que se paga o salário e o funcionário não precisa aparecer para trabalhar. Em seguida, para, tem um insight e diz para o assessor:
– Vamos contratar muitos e a daí fico com metade do salário de cada um que não precisa vir aqui.
O assessor pergunta se é isso mesmo, se é para dividir. O deputado explica que é como se fosse uma “rachadinha”, numa alusão ao filho de Bolsonaro, o senador Flávio acusado da prática.
A novela é muito boa e sempre é bom lembrar que nos tempos do imperador o Brasil chegou a ser a sexta potência naval mundial. A renda per capita era superior a de muitos países da Europa. O Brasil teve a primeira rede de trem, esgotos e tratamento de despejos como poucos outros países. O país era respeitado pelo seu crescimento econômico constante e seu imperador notadamente por ter conseguido criar, como diziam importantes mandatários, a única monarquia democrática, com liberdade de imprensa.
O império começou a ruir com a questão da abolição dos escravos, as intrigas nos quartéis, a falta de vontade de governar a princesa Isabel e também por que Pedro II estava muito doente, abalado com o diabetes e outros problemas. A estabilidade econômica que o Brasil nunca mais veio alcançar e que fazia o país uma grande potência emergente no planeta começou a soçobrar. O monarca adoentado deixou espaço para os republicanos, que nem eram tão fortes assim. E deu no que deu.
Uma coisa é certa, tão diferente dos tempos de hoje: nunca que se colou Dom Pedro II com a corrupção, nem como desmandos e muito menos com a ditadura. “Rachadinha” nem pensar. Também não era doido. No fim sofreu um golpe de estado. Daí para a frente o Brasil virou o quinto dos infernos.
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Jolivaldo Freitas é Jornalista, escritor e publicitário