De lastimar a atitude do governo brasileiro em querer fazer economia de palito. Foi de chocar sua insensibilidade. Foi necessário que os brasileiros que estão na China, com medo, querendo ser retirados por causa do novo coronavírus fizessem um apelo drástico e comovente, através de uma gravação, disseminada pela internet e pelos meios de comunicação, para que o Itamarati adotasse medidas de repatriamento. O presidente Bolsonaro fez os cálculos e ficou preocupado, mas foi com o valor de um milhão de Reais que o Brasil (que somente de reservas internacionais tem mais de 400 bilhões de Reais em caixa), representaria para os cofres públicos. Muito mais do que isso gastaram seus ministros usando os aviões da Força Aérea Brasileira para fazer palestras, turismo e visitar redutos eleitorais.
Mas, vale perguntar: quanto custa uma vida? Quanto vale a vida de um brasileiro. São 40 brasileiros na província de Hubei, cidade de Wuhan, confinados, sem ter como se locomover, rezando aos deuses para não pegar ao coronavírus. E se algum morre? E se vários morrem. Uma insensibilidade. Ignorância. Falta de vocação. Países como estados Unidos (que foram acusados pela China de terem provocado reação negativa em todo mundo, ao criar restrições para viagem à China ou para quem volta da China), França, Inglaterra, Alemanha e Itália já resgataram seus compatriotas. Nem pensaram duas vezes, não fizeram cálculos de custo. Uma vida não tem preço.
Somente em nota, quase um mês depois da China reconhecer a disseminação sem controle, é que o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Defesa anunciaram que o governo brasileiro adotará medidas necessárias para trazer de volta ao Brasil os cidadãos brasileiros que se encontram especificamente na cidade de Wuhan, Justo a região de origem da epidemia. Bolsonaro disse que não existia lei para a obrigar uma quarentena. Foi preciso que o Senado dissesse que não precisa de lei. Somente necessária atitude. Determinação. Sensibilidade. Ficou mal, mais uma vez, para o governo.
A epidemia na China já provocou a morte de mais de 400 pessoas e o contágio de mais de 17.000, de acordo com o balanço atualizado divulgado pelas autoridades do país, que vem sendo criticada por não ter dado a devida importância quando do surgimento da doença, no final do ano passado. Especialistas da própria China garantem que o governo já sabia do problema há bastante tempo e que não criou mecanismos para restringir o coronavirus à região onde surgiu. A população entrou e saiu da província sem nenhuma restrição. Quando o governo Chinês decidiu tomar uma atitude o vírus já tinha se espalhado por cinco países. Existiam registros de mortos. As informações que vazam da China garantem que o número de mortos é bem maior do que o anunciado para e pela Oganização Mundial da Saúde.
Sorte, mesmo tiveram duas brasileiras, que se encontravam em Wuhan e que por possuírem nacionalidade portuguesa, embarcaram em voo francês que transportou cidadãos da União Europeia. Elas estão quarentena em Portugal. Aqui teremos de pedir desculpas aos brasileiros, quando chegarem. E internar as autoridades. Ignorância pega mais rápido de vírus. E pode matar.
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Jolivaldo Freitas é Escritor e jornalista. Autor do romance “A peleja dos Zuavos Baianos contra Dom Pedro, os gaúchos e o Satanás”.