“Nunca mais teremos que aceitar que o dinheiro seja o fim e o futebol o meio. A partir de agora, o futebol será o fim e o dinheiro usado exclusivamente para desenvolvê-lo em todo o mundo”. A afirmação de Gianni Infantino, presidente da Fifa, durante a abertura do 67º Congresso da entidade no Bahrein, em maio deste ano, indicou mudanças pouco efetivas desde que o escândalo de corrupção sacudiu o esporte mais popular do planeta em 2015.
O chamado Fifagate envolveu o pagamento de propina a dirigentes de vários países pelos direitos de transmissão de campeonatos como Libertadores, Copa do Brasil e Copa América. Os principais atingidos foram cartolas do futebol nas Américas, entre eles o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin, que desde a última segunda-feira (6) senta-se no banco dos réus do Tribunal do Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos.
O julgamento começou dois anos e meio depois de ele ter sido preso na Suíça. Ele é acusado de receber propinas em negociações de direitos de TV em edições da Copa América e ainda suborno em contratos da Copa do Brasil. O caso corre nos EUA já que foram usadas empresas registradas no país e contas bancárias norte-americanas para movimentar dinheiro.
Marin, no entanto, diz ser inocente. Entre os 42 dirigentes ligados à Fifa acusados de fazer parte do esquema de corrupção que teria movimentado US$ 200 milhões (R$ 662,7 milhões), somente o brasileiro, Manuel Burga (ex-presidente da Federação Peruana de Futebol) e o paraguaio Juan Ángel Napout (ex-presidente da Conmebol) não se declararam culpados, motivo pelo qual não fizeram nenhum tipo de colaboração com as autoridades dos EUA.
Por esta razão que os três estarão pelas próximas seis semanas frente a frente com a juíza Pamela Chen, considerada uma “estrela” entre as autoridades federais. Descendente de chineses, ela foi escolhida e amplamente elogiada pelo ex-presidente Barack Obama para assumir o cargo em Nova York.
Nesta segunda-feira, o primeiro dia de julgamento de José Maria Marin e os outros dois cartolas sul-americanos foi dedicado ao início da formação do júri, processo que deve durar até quinta-feira. Na próxima semana, a partir do dia 13, a promotoria começará a apresentar as provas e ouvir as testemunhas.
“Não daremos declarações durante o julgamento, até porque não tem o que falar”, disse Julio Barbosa, um dos advogados de Marin. Estamos aqui porque queremos que a acusação mostre as provas que tem e insistimos que nosso cliente não é culpado, por isso chegamos até aqui”, resumiu-se a dizer Barbosa enquanto seu cliente deixava o Tribunal sob protestos de torcedores que gritavam “Marin na cadeia” e “acabou a corrupção no futebol”.
Se de fato o esporte se tornou mais limpo ainda é cedo para cravar. Além de Marin, outros dois cartolas brasileiros foram indiciados e estão em liberdade: Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, e o atual chefe da entidade, Marco Polo del Nero. Ambos não saem do Brasil desde 2015 e, assim, conseguiram evitar a prisão no exterior. No caso de Del Nero, seu indiciamento sequer o levou a abandonar a presidência da CBF.
Já José Maria Marin foi detido em 27 de maio de 2015, em Zurique. Depois de cinco meses, foi extraditado aos Estados Unidos, onde, desde então, cumpre prisão domiciliar em seu apartamento na 5.ª Avenida, no arranha-céu Trump Tower, em uma das regiões mais valorizadas de Nova York.
Acusações
Sete acusações foram feitas pelo governo dos EUA. Marin teria recebido propina para beneficiar empresas de marketing esportivo em três contratos referente à venda dos direitos de transmissão da Copa do Brasil, Libertadores e Copa América. São acusações de fraude e lavagem de dinheiro em cada um dos contratos e outra por participação de “grupo conspiratório”, o equivalente no Brasil à formação de quadrilha.
Estados Unidos
O processo de José Maria Marin corre nos Estados Unidos porque foram usadas empresas registradas no país e contas bancárias norte-americanas para movimentar dinheiro. O Departamento de Justiça também vê crime contra a concorrência pelo mercado de direitos de televisão nos EUA.
Se Marin for condenado…
Ele poderá recorrer a uma Corte de Apelação. Pela idade, 85 anos, por ter pago fiança elevada e cumprido com todos os acordos com a Justiça dos EUA, é provável que possa recorrer em prisão domiciliar, como se encontra atualmente. Se novamente condenado, a soma das penas pode chegar a 60 anos. Porém, o cartola não deverá pegar mais do que 10 anos de prisão.
Se Marin for absolvido…
De imediato o governo dos Estados Unidos devolve o passaporte do dirigente, retido desde que ele foi preso em Zurique, na Suíça, em novembro de 2015. A ideia da defesa é que Marin pegue o primeiro voo para o Brasil assim que sair vitorioso no tribunal.
R7