O julgamento dos cinco réus acusados de matar e queimar os corpos da família Gonçalves será retomado nesta sexta-feira (16). Romuyuki Gonçalves, de 43 anos, Flaviana Gonçalves, de 40 anos, e o filho do casal, Juan Gonçalves, de 15 anos, foram encontrados mortos em janeiro deste ano dentro do porta-malas de um carro em chamas no ABC Paulista.
Durante a audiência, quatro testemunhas — de defesa e de acusação — serão ouvidas. A primeira sessão foi realizada no dia 22 de setembro, através de uma videoconferência.
Já foram ouvidas cinco testemunhas da acusação e da defesa das réus Anaflávia Martins Gonçalves (filha do casal assassinado), Carina Ramos de Abreu (namorada de Anaflávia), e do réu Guilherme Ramos da Silva.
Além dos três, os irmãos Juliano Oliveira Ramos Júnior e Jonathan Fagundes Ramos, primos de Carina e vizinhos de Guilherme, também estão presos e são acusados de terem participado dos assassinatos.
Caso a Justiça entenda que há indícios suficientes de que os suspeitos praticaram o crime, o caso será encaminhado para júri popular.
A defesa de Ana Flávia e Carina afirma que ambas são inocentes e tenta provar que a autoria do homicídio foi de responsabilidade dos três homens. Segundo as acusadas, o combinado entre os envolvidos era assaltar a família, mas não matar.
Já a defesa de Jhonatan e Juliano concluiu um documento em que solicita um acordo de delação premiada. A defesa de Guilherme também nega a participação dele nos assassinatos.
Os três corpos da família foram encontrados carbonizados dentro do porta-malas um Jeep Compass em uma área de mata na Estrada do Montanhão, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, na madrugada de 28 de janeiro. Quando as equipes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros chegaram ao local, o veículo ainda estava pegando fogo.
Anaflávia Gonçalves e Carina Ramos tiveram prisão temporária de 30 dias decretada na noite de 29 de janeiro. A polícia justificou o pedido de prisão alegando contradições no depoimento do casal.
De acordo com a polícia, no primeiro depoimento as suspeitas mencionaram que a família tinha uma dívida com um agiota e que Flaviana teria saído de casa de madrugada para realizar o pagamento e depois seguiria para Minas Gerais. A presença do adolescente no carro, porém, fez a polícia desconfiar da versão.
A Polícia Civil já tinha como uma das linhas de apuração uma possível briga familiar. Os pais, segundo os investigadores, não aceitavam o relacionamento da filha com Carina.
Na primeira visita da polícia à casa onde a família morava, em um condomínio de Santo André, os agentes encontraram o imóvel revirado, além de marcas de sangue pelos cômodos. Os investigadores consideraram estranho a residência estar nestas condições, pois não havia sinais de arrombamento. Do local foram roubados eletrodomésticos, cerca de R$ 8 mil dólares, joias e uma arma.
De acordo com a perícia, litros de água sanitária e manchas de sangue foram encontrados no quarto do adolescente assassinado. Também foram localizadas manchas de sangue em peças de roupa de Anaflávia.
Uma testemunha, de identidade preservada, contou aos policiais que ouviu barulhos estranhos vindos da casa das vítimas e disse que Flaviana era quem dirigia o Jeep onde, horas mais tarde, foram encontradas as três vítimas carbonizadas.
Um laudo preliminar apontou que, antes de terem seus corpos carbonizados, as três vítimas morreram com pauladas na cabeça. Como todos os golpes foram do lado direito, a suspeita é de que o autor seja canhoto.
Um homem de cerca de 1,90 m de altura foi visto por uma testemunha junto com as duas suspeitas, na noite do crime, carregando algo pesado para o carro. O suspeito é um dos primos de Carina, o terceiro preso, no dia 4 de fevereiro. Segundo a polícia, ele confessou o crime durante depoimento, dizendo que a ação foi premeditada e que Anaflávia autorizou os assassinatos.
Segundo o depoimento do suspeito, a ideia do trio era roubar joias e dinheiro do cofre da casa. O pai e o adolescente estavam na residência com Anaflávia e Carina quando três homens chegaram e anunciaram o assalto.
Carina teria sido a primeira a ser rendida. Os homens exigiam valores. Como o cofre estava vazio e o dinheiro recebido por Romuyuki não estava na residência, houve uma conversa entre os suspeitos. Naquele momento, segundo a versão do suspeito, as duas autorizaram a morte de toda a família.
Pai e filho foram levados para o quarto do adolescente. O suspeito revelou à polícia que os dois foram mortos asfixiados depois de apanhar e que Carina participou do sufocamento de Romuyuki com um saco plástico. Já a mãe, Flaviana, chegou à casa mais tarde e foi vendada.
As suspeitas sobre a filha ganharam força com a revelação de imagens da câmera de segurança que flagram ela e a mulher manobrando os carros da família. O carro da dupla também é visto entrando e saindo do local várias vezes. Em depoimento à polícia, Carina, que chegou às 20h ao local, alegou ter entrado por volta das 22h. Câmeras mostram que ela usava um casaco com capuz, mesmo fazendo calor, o que também gerou desconfiança da polícia.
Quando o veículo da família deixa o condomínio, por volta de 1h, o carro de Carina e Anaflávia sai na frente. Duas horas depois, os corpos de Flaviana, Romuyuki e Juan são encontrados.
Segundo a polícia, ao serem questionadas para onde seguiram após deixarem o condomínio, cada uma das suspeitas disse que se dirigiram a lugar diferente. A polícia pediu a quebra do sigilo telefônico das duas mulheres para analisar sua troca de mensagens.
A polícia investiga as circunstâncias da morte de Flaviana, a mãe. De acordo o primo de Carina, ela não foi morta em casa. A polícia apura se Carina vestiu um uniforme da vítima, para se passar por ela, entrou no carro com Flaviana ainda viva e assumiu o volante. Tiros foram ouvidos antes de o carro ser abandonado em uma estrada de terra de São Bernardo do Campo. Na sequência, o veículo foi incendiado.
R7