Mesmo com uma possível condenação em segunda instância no julgamento marcado para quarta-feira (24) , a figura política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá continuar crescendo, apontam cientistas políticos baianos. É que, segundo o professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jorge Almeida, além do Partido dos Trabalhadores (PT) ter montado uma estratégia de marketing de vitimização, há um sentimento social de que ocorreu uma manipulação do processo de julgamento. “Do ponto de político e eleitoral isso [a condenação] não vai prejudicar Lula e o PT, o problema é o impedimento da candidatura”, explicou. Para ele, há duas possibilidades caso Lula seja condenado: a de outras candidaturas de esquerda conseguirem ocupar o espaço do ex-presidente, mostrando uma agenda diferente e a outra é a do crescimento da figura de Lula a partir da vitimização. “O processo eleitoral ainda está indefinido, mas na minha avaliação 2018 continuará sendo um ano de instabilidade política e econômica”, concluiu Almeida. Já o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Maurício Ferreira, acredita que uma possível condenação poderá se arrastar em outras instâncias, como o Supremo Tribunal Federal (STF), aumentando possivelmente o apelo popular em torno da questão. “Nesse caso, a candidatura ganha um peso muito mais forte porque tudo está evidenciando o nome de Lula. As pesquisas tem mostrado uma tendência forte para o ex-presidente”, disse. Segundo ele, os dados apontam que a população entende que o ex-prefeito está sendo perseguido e, caso ele não consiga ser candidato, é possível que o capital eleitoral seja transferido para um substituto apoiado por ele. “Se Lula for condenado e não puder concorrer, automaticamente ele poderá entrar para história como o perseguido que tomou um golpe. Todos esses processos estão mantendo o ex-presidente em evidência, todas as mídias estão falando isso. Ninguém mais no Brasil tem tanto apelo social como ele e todas as pesquisas apontam isso”, afirmou Ferreira. “Mesmo se Lula não for candidato, ele entra para eleições com uma ‘posição’ possivelmente vencedora, como alguém que veio do povo e foi injustiçado”, opinou o professor da UFRB. Os dois cientistas, entretanto, acreditam que uma absolvição seria ainda efetiva na ‘imaculação’ da figura do ex-presidente. Falando especificamente da parcela do eleitorado que possivelmente votará em Lula caso ele consiga ser candidato, o professor de ciência política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Claudio Souza, opina que uma condenação não irá afetar as convicções políticas desses eleitores. “Quando desagregamos quem são as pessoas que dão o voto a Lula a partir da pesquisa do Datafolha de outubro de 2017, 82% apoiam o PT e 54% tinham votado na ex-presidente Dilma em 2014. Não é uma pessoa qualquer, não é uma pessoa que vota só pelas propostas, é um voto mais ideológico, que tem um recall”, explicou. Para ele, mesmo que uma possível condenação aguce setores antipetistas, não há um processo que aponte um esvaziamento compulsório das intenções de voto. “Há inclusive um discurso e posicionamento por parte do PT e outros partidos de esquerda de que uma eleição sem Lula pode desestabilizar a democracia brasileira”. Para Souza, a absolvição é muito improvável, mas daria a chance de fortalecer a posição de Lula. “A eleição está incerta, visto que a direita está fragmentada porque tem como possíveis candidatos [Jair] Bolsonaro, [Geraldo] Alkmin, assim como [Rodrigo] Maia, [Henrique] Meirelles e algum outsider (forasteiro) como Luciano Huck. Isso dá a Lula com 36% dos votos uma posição confortável”, disse. Para ele, essa absolvição daria espaço para o PT capitanear a oposição a Temer e chegar às eleições com grande possibilidade de participar do segundo turno. “Temos a figura de Lula sendo posta a um patamar de segurança política. Quando vemos as pesquisas, o voto em Lula é em defesa da pauta da inclusão social e reflete o grupo que o apoiou Dilma. Lula continua tendo o mesmo capital politico que teve nas últimas eleições”, declarou o cientista político da Unilab. Na opinião dele, apesar das incertezas que rodeiam as eleições de 2018, o debate dos eleitores não circundarão apenas na agenda da corrupção. “Não é isso que vai decidir as eleições, pesquisas apontam que o eleitor brasileiro não estabelece sua preferencia de voto simplesmente por conta da corrupção. [A decisão] Perpassa pela preferência econômica, pela escolha do candidato apoiado pelo prefeito, pelo candidato já ter tido um governo bem avaliado, há outras variáveis”, disse.
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