O objetivo das equipes do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, órgão vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), é impedir que baianos e baianas caiam em falsas promessas e acabem reféns de redes criminosas, em países em que nem conhecem o idioma. Este mês, o trabalho é intensificado com a campanha Julho Azul, que integra a iniciativa internacional Coração Azul. De 2011 até agora, o núcleo já atendeu cerca 150 vítimas de tráfico para fins de exploração sexual e mais de 40 casos ainda são acompanhadas.
As consequências de uma ilusão podem ser desastrosas. Uma pessoa que perdeu um parente para o tráfico de pessoas se arrisca a contar sua história, mesmo sob o anonimato. “Meu parente foi para o exterior mais de uma vez na ilusão de ter uma vida melhor quando retornasse para o Brasil. Não construiu nada aqui, não conseguiu mandar dinheiro para a família. As pessoas vão para lá na ilusão de uma vida melhor, mas não conseguem nada. Ele acabou assassinado”.
Abordado pela equipe do núcleo, o estudante de medicina Ramon Aguiar, 23 anos, já teve notícias de casos de tráfico de pessoas. “Eu conheço histórias sobre isso. As pessoas chegam lá e precisam se prostituir para pagar sua estadia, pagar a passagem, e quando conseguem voltar, a pessoa está devastada. Mas ainda é um assunto que a gente ouve falar pouco. Essa questão tem que ser repensada, porque as pessoas acham que vão receber um convite, vão chegar na Europa, se casar, melhorar de vida. Essa conscientização é fundamental”.
Para a conscientização, o teatro é uma das formas de se chamar a atenção do público, que recebe o material educativo. O professor Cosme Savedra, 38 anos, que veio do Paraná com a mulher e o filho para conhecer Salvador, também recebeu a equipe do núcleo. “Eu acho importante porque o tráfico de pessoas para fora do País é grande. Essa ação que o Estado faz traz segurança para os moradores, para os turistas, orientando como as pessoas devem agir para que isso não ocorra”.
Denúncias
As denúncias anônimas devem ser feitas através do Disque 100 ou do (71) 3266-0131. Segundo o coordenador do Núcleo de Combate ao Tráfico de Pessoas, Admar Fontes, o Estado possui uma estrutura multidisciplinar com psicólogos, advogados, integrada a uma rede, para atendimento em parceria com o Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. “São diversas secretarias, órgãos federais, sociedade civil, com o apoio do Serviço Social que está em todos os municípios e em parceria também com os Cras e Creas”.
Com uma grande população de baixa renda e condição social vulnerável, a Bahia é um estado que está no mapa das quadrilhas internacionais de tráfico de pessoas. Admar informa que a atuação das quadrilhas é sempre muito parecida. “É preciso ficar atento à oferta de empregos no exterior e de fácil ganho. É preciso procurar saber se as empresas existem, verificar o CNPJ na Receita Federal. Este é um crime difícil de se investigar depois, as vítimas têm medo de continuar a denuncia, as ameaças são constantes”, afirma.
Secom