O último Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira (23), indica que, até o final de 2017, os juros no Brasil (Selic) devem estar a 9,5% ao ano; a inflação (IPCA), em 4,71%; o dólar, a R$ 3,40; e o PIB (soma de riquezas do País) deve crescer 0,5%. Após três anos de recessão, trata-se de um bom cenário. Mas quais são os impactos dessas previsões na vida dos brasileiros? Com essas informações, que decisões devemos tomar com as nossas contas?
O R7 conversou com os economistas Alexandre Cabral, professor da FIA (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo), e Newton Marques, da UnB (Universidade de Brasília). Eles ressaltam que as previsões econômicas podem mudar drasticamente se houver algum impacto político grande neste ano, como afastamento do presidente Michel Temer em função de delações ou da cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Juros
Para o economista Alexandre Cabral, os juros em queda são boa notícia porque o custo do financiamento (compras a prazo) para pessoa física tende a ficar mais barato, então pessoas têm mais facilidade de quitar dívidas e devem voltar a consumir.
— Estávamos no início do ano com juros reais na casa dos 8%. Muito altos. Eu defendia que [a Selic] já deveria ter caído em outubro. O custo do financiamento para pessoa física tende a ficar mais barato, então pessoas podem voltar a consumir, as empresas podem voltar a investir em produção e voltar a contratar. Como 60% do PIB brasileiro é formado pelo consumo das famílias, se as famílias não consomem, o País para. Se os juros baixam, dinheiro guardado rende menos e pode ser usado para consumo. No médio prazo, apenas no segundo semestre, o desemprego pode cair.
Para Cabral, a queda da Selic não impacta nas reservas dos brasileiros para o futuro, que em tese renderiam menos.
— Para investimentos, é preciso se preocupar com juros reais. Porque se a inflação está alta também não adianta. Se o investimento estiver rendendo mais do que a inflação, já é um bom investimento.
O economista Newton Marques, da UnB, lembra que a queda dos juros prevista para este ano proporciona o cenário ideal para renegociação de dívidas.
— Os gastos com juros devem diminuir e quem tem poupança pode consumir. Assim funciona a economia, nem todo mundo está consumindo e nem todo mundo está poupando.
Inflação
A inflação é associada à figura de um dragão por ter sido considerada um monstro no Brasil durante algumas décadas de hiperinflação. Acaba com o poder de compra das famílias, já que os salários não sobem no mesmo ritmo dos preços.
Para ficar fácil de entender, é como se no começo do ano uma família conseguisse comprar 100 batatas por mês para as refeições familiares, e no fim do ano, apenas 95 com o mesmo salário (no caso de inflação de 5%).
A inflação está diretamente ligada aos juros, porque quando a inflação está sob controle, o governo pode reduzir a taxa de juros e estimular a economia, como vimos acima.
Para o economista Newton Marques, da UnB, a fragilidade o descontrole da inflação é um fator que demanda políticas econômicas muito bem pensadas.
— A nossa economia não é de primeiro mundo. Temos muitos problemas que outros países não têm. Temos gestores que fazem políticas equivocadas, e o governo acaba tendo dificuldades de equacionar as contas.
Já para economista Alexandre Cabral, é preciso ficar atento especialmente aos itens que impactam muito da vida das famílias, como alimentos, moradia, serviços básicos e remédios. Se esses preços estiverem controlados o poder de compra fica sob controle.
— Se a inflação de alimentos, de moradia, de serviços do dia a dia e de remédios ficar controlada, as famílias conseguem manter o seu poder de compra já que outros preços não estão subindo.
Dólar
De todos os indicadores, o dólar é o mais difícil de prever, já que a cotação depende de fatores externos, como as políticas econômicas do imprevisível governo de Donald Trump nos Estados Unidos.
Para o economista Alexandre Cabral, o dólar deve se manter próximo ao patamar do ano passado e, portanto, não deve impactar na vida das famílias.
— Não acredito que dólar chegue a R$ 2,80 e nem a R$ 4. Ele deve ficar por volta do que está hoje. Então não muda muita coisa. Continua bom para exportações, aumentando receita das empresas, que empregam mais. Para quem viaja para o exterior, continua um pouco caro.
O economista Newton Marques, da UnB, não se arrisca a prever como a moeda deverá se comportar. Sugere portanto, cautela.
— Se aumentar a taxa de juros nos Estados Unidos, a tendência é a nossa moeda se desvalorizar. Mas câmbio é difícil de acertar. Tanto que o Banco Central não está intervindo para manter a cotação agora.
PIB
Para o economista Newton Marques, da UnB, pode até acontecer de o País ter crescimento zero nesse ano. Nesse caso, o ciclo virtuoso vai demorar mais para acontecer.
— Não acredito em crescimento neste ano, acredito em crescimento zero. Precisamos aguardar a retomada do Legislativo e do Judiciário. Se as coisas acontecerem como governo está propondo (reforma da Previdência, redução da taxa de juros pelo Banco Central), o governo mostra que tem controle. Se a atividade econômica for recomposta, o emprego deve melhorar.
Para o economista Alexandre Cabral, a retomada do crescimento do País pode ser mais lenta.
— [Para o crescimento do PIB], acredito entre leve negativo e zerado porque o desemprego ainda está muito forte. A leve melhora no emprego, se houver aumento do PIB, será no segundo semestre, mais precisamente no último trimestre. O Brasil tem um problema que, dos dez principais itens exportados no ano passado, nove eram do agronegócio. Temos que fortalecer a indústria nacional.
R7