“Ele me batia, me espancava, quando falava em terminar, ele ameaçava me matar”. O relato é de uma mulher que prefere não se identificar, sobre as agressões que sofria do ex-companheiro em Luís Eduardo Magalhães, cidade do oeste da Bahia.
Ela está entre as 149 mulheres que denunciaram, neste primeiro semestre, os agressores, que normalmente são os maridos, companheiros e ex-companheiros. Em Luís Eduardo Magalhães, só no mês de junho, foram 27 casos, quase um por dia. Neste mês de julho, até esta terça-feira (28) já foram foram 25 registros.
A vítima que detalhou as agressões sofridas pelo ex-marido conta que foram seis anos de união. Durante dois anos, ela apanhou do marido e foi ameaçada de morte. Tudo na frente do filho pequeno do casal.
“Eu tinha medo de denunciar, porque ele dizia que se eu denunciasse, ele ia me matar. Um dia, quando eu estava indo para o trabalho, ele me ameaçou. Eu fui falar com a minha mãe, pedi meus documentos e Deus tocou no meu coração para dar queixa dele”, diz.
Além do caso dessa vítima, no último final de semana, uma mulher grávida de 9 meses foi agredida pelo ex-companheiro. Ela estava separada do homem. Ele, por não aceitar o fim relacionamento, foi atrás da ex-companheira, ela disse que não reataria e o homem a agrediu. A vítima registrou o caso na delegacia da cidade, foi socorrida e passa bem.
Outro caso recente na cidade ocorreu no dia 9 de julho. Na ocasião, depois de agredir a companheira, o homem ateou fogo na casa. A mulher conseguiu deixar o imóvel antes dele ser tomado pelas chamas. O homem está preso.
Conforme levantamento da Polícia Civil em Luís Eduardo Magalhães nos últimos quatro anos, quase 851 inquéritos foram instaurados contra maridos ou companheiros. O maior número de casos aconteceu em 2017: 295 mulheres foram agredidas. Desde então, foram mais de 200 casos por ano.
Os números não mostram a total realidade dos casos. isso porque muitas mulheres, com medo, acabam não denunciando os agressores. Dos dois feminicídios registrados este ano em Luís Eduardo Magalhães, nenhuma das vítimas tinha registrado ocorrência contra os companheiros. Os casos ocorreram em abril deste ano, uma mulher foi morta a tiros e, no outro caso, a vítima foi atacada a pauladas.
Atendimento e acolhimento
O município ainda não tem uma delegacia especializada da mulher. Os casos de agressão são atendidos em uma sala onde funciona o Núcleo de Atendimento à Mulher (NAM), dentro da própria delegacia da cidade. A policial civil Fernanda Saggin é a primeira a ter contato com as vítimas.
“Geralmente elas chegam aqui muito fragilizadas, envergonhadas, machucadas, muito nervosas, chorando”, relata Saggin.
As vítimas são acolhidas pelo Projeto Borboleta, que dá assistência jurídica, social e psicológica.
“Situação de violência contra a mulher muitas vezes desencadeia o divórcio, questão dos filhos, pensão, visita, muitas das vezes eles ameaçam elas, dizendo que se houver denúncia eles vão tirar as crianças das mães, e elas chegam aqui buscando essas informações”, explica a advogada Dayse Garcia Pizatto.
Ainda sobre o projeto, a psicóloga Daniella Mattos também falou sobre a atuação diante das mulheres vítimas de violência.
“Primeiro tirar delas a culpa, para que ela não volte para aquela relação. Depois a gente mostra para ela que eles precisam responder pelos seus atos porque, se ela relevar, não mostra a ele que está errado, e depois a gente vai trabalhar a autoestima dessa mulher”, detalha.
Em casos extremos, as mulheres são retiradas das casas, junto dos filhos.
“A gente não tem ainda a Casa Abrigo, que tem sido uma luta nossa com o município, mas ela tem um lugar seguro para ficar”, diz Flávia Rizkalla coordenadora projeto borboleta.
O mais importante é não se calar. “Se todas as mulheres que passaram o que eu passei fizerem o que eu fiz, vai ser bom para elas também. Tem que denunciar. Todo mundo merece uma vida, ser feliz”, concluiu a vítima que preferiu não se identificar.
G1