A atriz Maitê Proença relembrou, durante a 8ª edição da Semana da Justiça pela Paz em Casa, realizada nesta semana, a morte de sua mãe, assassinada com 16 facadas pelo marido. “Não gosto de falar muito sobre isso. Tínhamos uma família perfeita, eu tocava vários instrumentos, praticava esportes e falava idiomas. Minha mãe tocava piano de cauda e meu pai, quando chegava em casa à noite, contava histórias e fábulas da mitologia, havia mágica“, comentou. Em seguida, disse que após a tragédia, o pai foi morar em uma chácara e depois parou em um manicômio. “Eu perguntei a ele porque não atirou em minha mãe e ele disse que a faca era uma extensão do corpo dele. Meu pai foi julgado por duas vezes e absolvido com a ajuda do meu depoimento. Eu não estava entendendo muita coisa naquele momento, mas sabia que se não manifestasse o meu amor por ele, meu pai se mataria. Eu tinha dois irmãos, não precisávamos de mais uma tragédia, ainda que tivesse nos tirado tudo, ainda que tenha tirado a pessoa que eu mais amava. Eu acho que aquele homem não era um assassino. Ele tinha cometido aquele gesto de loucura que tinha destruído a nossa casa, mas não continuaria naquela prática. Essa grande violência acontece em uma escala, não acontece num rompante. A situação neurótica é que leva a isso. Acho que minha mãe não foi cautelosa, porque ela conhecia a pessoa rígida que era o meu pai. Faltou alguma coisa na forma de agir daquela família”, disse a atriz, concluindo que toda a família fica marcada pela violência doméstica. A atriz falou também que um irmão morreu por consequência do álcool e outro virou dependente químico. “Meu pai acabou se matando também. Então, quem sobrevive a isso, como no meu caso, passa a vida perguntando se tem valor. Por que eu não consegui impedir? Ninguém pensou na gente, naquela estrutura alegre, nada daquilo foi levado em conta”, acrescentou a atriz para fazer um alerta às vítimas da violência. “Cada ato de violência precisa ser analisado nas suas especificidades. É preciso punir, mas que não se puna as vítimas. Por último, a violência tem esse jogo de tensões em escalada, mas uma hora o padrão muda. É um objeto que voa, é uma palavra que não foi dita. E esse é o momento que a gente deve usar os dispositivos da lei. Você tem de pedir ajuda, usar a Lei da Maria da Penha, por exemplo. O primeiro gesto de violência pode ser o início do fim”, concluiu. O crime aconteceu em 1970.
Bahia Notícias