Desde ontem (3), em Caruaru, município do agreste de Pernambuco, já é comemorado a festa de São João. A cidade deu início ao festejo municipal que é um dos maiores do país. A programação vai até o dia 29 de junho, com atrações em praticamente todos os dias. E, na primeira noite de evento, já foi possível ter uma amostra do melhor da cultura popular do Nordeste, em cores, sabores, ritmo e dança tradicionais.
A área da Estação Ferroviária é a que mais reúne essas expressões culturais construídas pelo povo, em festanças originadas na roça, com a criatividade dos próprios moradores. O local é preservado com arquitetura histórica e cores vibrantes, tudo enfeitado com as clássicas bandeirinhas e balões. Em uma caminhada pelo local foi possível ver uma quadrilha de pernas de pau; forrozeiros com zambumbas e sanfonas; repentistas arrancando aplausos com seus versos improvisados; bonecos de mamulengo encantando crianças; bacamarteiros dançando forró em meio à multidão com suas armas antigas que só disparam tiros de mentira.
O São João de Caruaru divide o título de maior São João do país com Campina Grande, na Paraíba. O lema utilizado pela cidade é “O maior e melhor São João do mundo”. Na cidade pernambucana são esperadas 2,5 milhões de pessoas até o dia 29 de junho, quando a festa será encerrada. E para animar tanta gente a programação conta com 400 atrações divididas em 17 polos espalhados pela cidade. Em quase todos os dias há alguma atividade programada. Cerca de 75% dos artistas são de Caruaru.
O presidente da Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru, Lúcio Omena, afirma que em anos anteriores o polo principal, onde artistas nacionais, muitos deles de apelo mais comercial, estava ganhando muita importância. Por isso, a intenção foi multiplicar os pontos da festa na cidade. “É a volta do São João para as suas origens, que é a rua, a roça. A ideia é salvaguardar nossas origens”.
E é esse caráter de festa de rua que faz o arquiterto Swani Lima, de 36 anos, frequentar todos os anos o São João da cidade onde cresceu. Ele foi com seus pais, que moram perto do principal polo, e levou as filhas Sofia e Sabrina, de 4 e 3 anos, respectivamente. “O São João é marcante nas memórias da infância principalmente porque a gente brincava na rua, no espaço público. E isso é uma coisa rara hoje em dia. E eu acho que o São João resgata um pouco isso, além daquela tradição de brincar com fogos, econtrar outras famílias, e também a culinária típica, à base de milho”.
A outra tradição que a família mantém viva é a roupa de matuto. As duas meninas estavam à caráter, e o pai contou que elas fizeram questão de ir com os vestidos de babado. Sofia elegeu suas atividades preferidas de São João: “Eu gosto de dançar e pintar o rosto”, disse a menina.
Abertura
Forrozeiros se preparam para a abertura da festa em Caruaru Sumaia Vilela/ Agência Brasil
A festa foi aberta oficialmente por volta de 20h, no pórtico da Estação Ferroviária. A prefeita Raquel Lyra (PSDB), recebeu a bandeira de São João e cortou a faixa que cruzava o portal de entrada. “Essa festa não é construída por mim, é por cada caruaruense, com cada traço nordestino, que faz da sua vida uma manifestação da sua cultura. Todo mundo enfeitas suas casas, suas ruas. Hoje a gente abre as portas para a manifestação da cultura popular brasileira”, respondeu à imprensa.
Além dos polos da Estação, a multidão se reuniu no Pátio do Forró, principal palco de Caruaru. Quem se apresentou primeiro foram os 61 músicos da Orquestra de Pífanos de Caruaru, acompanhada do maestro Mozart Vieira, criador de uma orquestra com crianças do Agreste pernambucano.
Eles foram seguidos por Elba Ramalho, natural da Paraíba, que mais uma vez participou da abertura do São João, seguida da banda Fulô de Mandacaru. Ambos apresentam suas novas turnês. Por último, foi a vez de um dos clássicos do forró: o cearense Alcymar Monteiro, que há quatro anos não participava da programação, e retomou seu lugar cativo junto ao maior festejo junino do país.
Situação de Emergência
A festa acontece ao mesmo tempo em que Caruaru se recupera dos estragos ocorridos depois de forte chuva que atingiu parte do Agreste e a Zona da Mata Sul de Pernambuco. O município está em situação de emergência; duas pessoas morreram arrastadas pela água e mais de 800 ficaram desalojadas e desabrigadas, de acordo com a Defesa Civil municipal.
O presidente da Fundação de Cultura afirmou que a pela avaliação da Prefeitura não era necessário cancelar o evento, inclusive porque a cidade conta com a renda gerada durante os festejos. “Gera uma quantidade de empregos muito grande, gira um dinheiro muito grande, então a gente teve que equilibrar. Deu mais trabalho, mas não prejudicou o trabalho da festa e não deixamos as pessoas desassistidas”, argumentou. A expectativa é criar 6 mil empregos diretos e indiretos.
Além disso, como afirmou Lúcio Omena, a maior parte dos recursos não teriam como ser utilizados em função da enchente, porque são fruto de patrocínio. O orçamento ainda não foi fechado, mas ele calcula que cerca de 80% do orçamento do São João venha do setor privado. A contrapartida mais comum é a exposição da marca patrocinadora.