A comerciante Cinthia Silva, 26, levou o filho, Daniel da Paixão, de um ano e nove meses, para uma consulta médica, por causa de um edema no pescoço. Lá, o bebê precisou ser regulado para o Martagão Gesteira, devido a uma alteração em um exame. Após investigação, foi descoberto um tumor benigno no peito e o pequeno precisou de uma traqueostomia – um procedimento cirúrgico, na região da traqueia (pescoço), com o objetivo de facilitar a chegada de ar até os pulmões.
“Foi um choque. Ele estava bem. Levei para a consulta por causa do edema e porque ele estava acordando com o olho inchado”, contou a comerciante. Após ter passado pela UTI, o bebê ficou internado na Unidade de Treinamento para Desospitalização (UTD) do Martagão, por quase três meses, enquanto sua mãe era treinada pelos profissionais do setor para que aprendesse a cuidar do filho em casa. No final do mês de abril, Daniel pôde, enfim, receber alta médica.
Assim como ele, mais de 200 crianças com doenças crônicas saíram de internamentos prolongados e puderam retornar para seus lares, graças ao trabalho desenvolvido pela UTD do Martagão. Única no estado e considerada referência no Brasil, a unidade especializada completa, nesta quarta-feira (31), onze anos desde a sua criação.
“A UTD é um setor do hospital que treina os próprios familiares dos pacientes para serem também cuidadores dos seus filhos. Na maioria dos casos, são as mães que ocupam essa função. São pacientes com longo tempo de permanência em UTI’s e que passam a poder retornar para seus lares mesmo precisando de aparelhos para sobreviver”, detalha o diretor médico do Martagão, Samir Nahass.
As mães e pais são treinados durante meses para poderem dar continuidade à assistência dessas crianças. Quando residentes em Salvador e Região Metropolitana, permanecem sendo acompanhadas pelo hospital, e em casos de alta do programa, seguem em acompanhamento ambulatorial.
“O treinamento foi tranquilo. A gente foi bem orientado sobre os cuidados. Daniel chegou ventilado na UTD. Precisou de fisioterapia porque perdeu toda a força muscular. Ele não sentava. Nem sei o que eu faria se não fosse o Martagão. Eu achei que fosse algo simples, mas, na verdade, não era”, destacou a mãe do paciente recém desospitalizado.
Criada em 31 de maio de 2012, a UTD foi idealizada pelo próprio Martagão, em parceria com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), com o objetivo de dar treinamento para cuidadores de crianças em condições de doenças crônicas e dependentes de tecnologias avançadas, como os casos daquelas que dependem de ventiladores mecânicos para sobreviver.
Com 20 leitos, a UTD recebe crianças de todo o estado, que são encaminhadas via Central Estadual de Regulação. Em todos os processos, é feita uma avaliação do paciente para verificar se ele está num quadro estável de saúde, que permita esse retorno para casa, o que pode ocorrer no período de um mês a um ano. As mães praticamente passam a “morar” no hospital porque têm que acompanhar seus filhos até que eles possam ser reintegrados no ambiente familiar e social.