Dados da Organização do trabalho, segurança e saúde de motociclistas que trabalham com aplicativos de entrega de comida e outros produtos – Fundacentro 2021, apontam um alarmante indicador de risco de acidentes voltados para este público. O levantamento dá conta de que 33% dos entregadores relatam já ter sofrido algum tipo de acidente no ato do trabalho. Em alusão ao Dia do Motociclista (27 de julho), a médica do trabalho e especialista em bem-estar, Ana Paula Teixeira, explica que, por conta da demanda crescente de pedido de itens por essa modalidade, muitas empresas passam a exigir uma entrega mais ágil e que cumpra as previsões de chegada aos consumidores.
Essa ‘urgência’, segundo ela, também pode aumentar os riscos de colisão no trânsito devido à alta velocidade, manobras arriscadas e outras ocorrências por causa da falta de infraestrutura adequada. “Entre os que sofrem acidentes, 72.1% reclamam da falta de apoio das empresas ou relataram terem sido bloqueados dos apps após os acidentes. Além da insegurança, baixos salários os obrigam a trabalhar longas jornadas e, muitas vezes, continuar trabalhando mesmo estando lesionados. Outro agravante é o labor à noite, em que a visibilidade tende a ser menor em períodos chuvosos e enfrentando más condições no asfalto”, destacou.
Longos períodos trabalhando, nas condições citadas acima também, podem comprometer a saúde e a capacidade de concentração dos motociclistas, já que as rotinas são desreguladas e muitos recorrem a fast foods – no lugar da parada para o almoço.
Alerta e prevenção
A médica cita as doenças mais comuns para quem se utiliza desta modalidade de trabalho. “Lesões físicas (fraturas, contusões, etc); problemas musculoesqueléticos, devido a má postura prolongada sobre a motocicleta, levando a problemas nas costas e articulações – incluindo a conhecida Síndrome do Túnel do Carpo nos punhos; e a problemas respiratórios e cardiovasculares por causa da exposição à poluição e ao estresse constante. Há ainda um grande problema quanto à necessidade de afastamento desses profissionais em razão de doenças. Devido à ausência de regulamentação da profissão, nem todos pagam seguro contra acidente ou a previdência social, causando ainda mais insegurança financeira a estes trabalhadores”, relatou.
Grande parte dos acidentes, conforme explica Ana Paula Teixeira, estão correlacionadas a estratégias de mitigação do risco que exigem recursos financeiros, apoio governamental e consciência de classe. Além disso, ela também dá dicas para empresas e empregadores, tais como:
• Equipamentos de Proteção Individual (EPI): O uso adequado de capacetes, luvas, jaquetas e botas de proteção pode reduzir significativamente o risco de lesões graves.
• Motos com design ergonômico podem minimizar a fadiga causada por vibrações prolongadas.
• Programas de manutenção preventiva garantem que as motocicletas estejam em boas condições de funcionamento, reduzindo o risco de falhas mecânicas que podem levar a acidentes.
• Instalação de dispositivos de segurança adicionais, como sistemas antitravamento de freios (ABS) e sinalização eficaz, melhoram a visibilidade e a estabilidade da motocicleta.
• Educação e Treinamento: Programas de treinamento para melhorar as habilidades de direção e a conscientização sobre segurança no trânsito são essenciais.
• Normas de Produção: Implementação de normas que não coloquem em risco trabalhadores sem a mesma expertise de profissionais, garantindo que mesmo os trabalhadores menos experientes possam realizar suas atividades de forma segura.
Dicas para ter uma vida mais saudável no trabalho:
• Controlar a jornada de trabalho;
• Fazer pausas ao longo do dia;
• Fazer atividade física;
• Dormir bem;
• Controlar o uso de bebidas;
• Hidratar-se sempre ao longo do dia e usar vestimentas adequadas para o ofício.