A taxa de custódia do Tesouro Selic zerada para quem tem até R$ 10 mil investidos começa a valer neste sábado (1º). De acordo com o Tesouro Nacional, 435.162 investidores do título vão ficar completamente isentos da tarifa.
Atualmente, o Tesouro Direto tem 1.298.767 investidores ativos, sendo 692.786 em Tesouro Selic, que representa 53%.
Além dos 435 mil que possuem investimentos de até R$ 10 mil no Selic, 81.688 têm valores entre R$ 10 mil e R$ 20 mil. Os demais (175.936) têm quantias maiores aplicadas.
A taxa de 0,25% ao ano cobrada pela B3 foi isenta para o Tesouro Selic, mas continua sendo aplicada para os outros títulos, como o Tesouro IPCA+ e o Prefixado. Para quem tem mais de R$ 10 mil, a custódia será cobrada considerando apenas para o montante excedente. Portanto, um investidor que tem R$ 15 mil aplicados vai pagar ser taxado apenas sobre R$ 5 mil.
Veja uma simulação divulgada pelo Tesouro Nacional e pela B3:
Reprodução/B3
Os especialistas ouvidos pelo R7 concordam que o Tesouro Selic pode ser uma boa opção para a formação da reserva de emergência. No entanto, para objetivos de prazos mais longos, há melhores oportunidades no mercado.
O planejador financeiro CFP da Planejar José Raymundo de Faria Júnior afirma que a isenção é um grande avanço, já que o Tesouro Selic é uma das aplicações recomendadas para reserva de emergência. Esta reserva é um valor que o investidor deve ter guardado para situações inesperadas, como uma demissão ou um problema com o carro que sairá caro.
Para Faria, a isenção é importante, já que o título é a porta de entrada para muitas pessoas ao universo dos investimentos.
O professor de finanças do Insper Michael Viriato afirma que a isenção da taxa faz com que o Tesouro Selic volte a ficar interessante para alguns investidores, mesmo que a uma parcela pequena deles. “A B3 está proporcionando para estas pessoas [com menos de R$ 10 mil] uma alternativa razoável. Com a taxa de 0,25% ao ano o Tesouro Selic fica desinteressante para quase qualquer pessoa”, afirma Viriato.
Além da taxa de custódia, o Tesouro Selic sofre incidência regressiva do Imposto de Renda, de acordo com o tempo que o dinheiro ficar no investimento.
• Até 180 dias – 22,5%
• De 181 dias a 365 dias – 20%
• De 365 dias a 720 dias – 17,5%
• Acima de 720 dias – 15%
O percentual é cobrado em cima do lucro, apenas, não considera o montante total investido no título.
A educadora financeira DSOP Cintia Senna diz que “a taxa zerada é um avanço sim por parte do Tesouro Nacional, porém a gente não pode pensar que é algo de outro mundo. Durante um ano, essa economia que nós vamos ter corresponde, financeiramente falando, ao montante de R$ 25 caso eu tenha uma aplicação de R$ 10 mil”. Para ela, o título se tornaria ainda mais interessante caso a taxa fosse zerada para todos os investidores. Veja a simulação do investimento de R$ 10 mil no Tesouro Selic e outros produtos:
O valor em amarelo corresponde a taxa de custódia, que será isenta
Cintia Senna/ Educadora financeira DSOP
A taxa zerada faz com que o Tesouro Selic volte a ser mais competitivo frente a poupança, o investimento que ainda é o preferido do brasileiro. Em junho deste ano, a caderneta teve saldo positivo de mais de R$ 20 bilhões.
Com a taxa da B3, o rendimento dos dois ativos ficava próximo considerando o período de um ano. Períodos mais longos do que isso, o Selic era mais vantajoso.
Com a mudança, a rentabilidade do Tesouro ganha da poupança em todos os cenários. Atualmente, a poupança rende 70% da taxa Selic, que está em 2,25% ao ano.
Cintia fez uma simulação considerando o investimento de R$ 10 mil no período de um ano no Tesouro Selic e na poupança. Na caderneta, o valor seria de R$ 10.144,26 ao final dos 12 meses. Já no Selic, com a isenção da taxa de custódia, o montante passa para R$ 10.178,68 – R$ 34,42 a mais. Com a taxa da B3 (gráfico acima), o investimento total no Tesouro seria de R$ 10.153,53, R$ 9,27 a mais do que a caderneta.
Veja outra simulação feita por Cintia, incluindo outros investimentos, e considerando a taxa de custódia:
Apesar de ser um bom investimento para quem está focado na reserva de emergência, Viriato afirma que, em qualquer outro cenário, o Tesouro Selic não é o investimento mais rentável.
“O Selic é uma das alternativas mais desinteressantes que existem. Se as pessoas estão interessadas pela redução da taxa, elas deveriam repensar. O Tesouro você só vai poupar o que tem como reserva de emergência”, explica.
Para ele, grandes bancos já possuem CDBs (Certificado de Depósito Bancário) com rentabilidades mais altas e liquidez diária, então é importante que o investidor pesquise bem sobre os produtos oferecidos para fazer uma escolha melhor.
A liquidez diária significa que o investidor pode retirar o dinheiro no mesmo dia, enquanto o Tesouro Selic tem rentabilidade de D+1, o que significa que o resgate é completado no próximo dia útil da solicitação. Viriato diz que investir é um hábito importante e que, se adiado, pode virar um grande problema.