O Brasil deveria revisar com urgência suas políticas pública para a saúde reprodutiva, disseram cientistas nesta sexta-feira (23), para apoiar as mais de 50% de mães em potencial que dizem querer evitar uma gravidez por medo da zika.
Ao publicar resultados de estudos que indicam que muitas mulheres temem a zika, que pode causar defeitos de nascença graves nos bebês de mulheres infectadas na gestação, os pesquisadores disseram que o Brasil deveria fazer mais para garantir o acesso a anticoncepcionais seguros e eficazes e cogitar a revogação da proibição do aborto.
“O governo brasileiro precisa colocar a preocupação com a saúde reprodutiva no centro de sua reação (a zika), inclusive revendo sua criminalização contínua do aborto”, disseram os especialistas de saúde, liderados por Débora Diniz, da Universidade de Brasília, no periódico científico Journal of Family Planning and Reproductive Health Care.
A zika, uma doença viral transmitida por mosquitos, já se disseminou em mais de 60 países e territórios desde que o surto atual foi identificado no ano passado no Brasil, causando alarme devido à sua capacidade de causar microcefalia, uma má formação craniana, e outras doenças neurológicas.
Até agora o Brasil foi o país mais afetado, com mais de 2.200 casos registrados de microcefalia.
A equipe liderada pela pesquisadora realizou uma pesquisa nacional em junho de 2016 usando entrevistas feitas pessoalmente para coletar dados sobre saúde reprodutiva e gravidez e uma urna secreta para obter informações relacionadas a experiências de aborto. Os dados foram recolhidos junto a 2.002 mulheres urbanas e alfabetizadas de 18 a 39 anos de idade.
Mais da metade das entrevistadas disse ter evitado ou tentado evitar a gravidez por causa da epidemia de zika, mostraram os resultados, e só 27% afirmaram não ter tentado evitar uma gestação por esse motivo.
Outras 16% disseram não estar planejando uma gravidez independentemente do vírus.
A pesquisa foi realizada em junho, com 2.002 mulheres com idades entre 18 e 39 anos, com formação superior e que vivem em zonas urbanas. Esse grupo corresponde a 83% da população feminina total.
Do total, 56% das mulheres entrevistadas interrogadas responderam ter evitado, ou se esforçado para evitar uma gravidez em razão da epidemia de zika.
Pelo menos 27% disseram não ter tomado qualquer medida, enquanto 16% restantes não tinham o desejo de ter um filho, independentemente da epidemia.
Sem surpresa, mulheres que vivem no norte do país, onde a epidemia foi mais virulenta, são as que mais evitam a gravidez (66%), em comparação àquelas que vivem mais ao sul (46%).
As negras (64%) e as mestiças (56%) também são mais numerosas do que as brancas (51%) a renunciar a uma gestação, “provavelmente” em razão do impacto mais significativo da epidemia “nos grupos raciais mais vulneráveis”, afirmam os pesquisadores. (Com agências internacionais)
Nenhuma diferença foi observada, porém, em relação à religião. (Com agências internacionais)
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