** Pessoas declaradas pretas ou pardas representam 8 em cada 10 moradores da Bahia, estado que tem a maior proporção de pretos do país (1 em cada 5 moradores);
** Quase metade da população preta ou parda baiana (47,5%) estava abaixo da linha de pobreza em 2021, o que significa que viviam com uma renda domiciliar média inferior a R$ 486 por pessoa. Entre os brancos, o percentual de pobres era 42,4%;
** A extrema pobreza (rendimento domiciliar médio inferior a R$ 168 por pessoa), por sua vez, atingia 16,2% das pessoas pretas ou pardas na Bahia, frente a 14,0% dos brancos;
** Por ser um estado populoso e com significativa incidência de pobreza, em 2021 a Bahia tinha tanto o maior número absoluto de pretos ou pardos pobres (5,7 milhões) quanto o maior número absoluto de pretos ou pardos extremamente pobres (1,9 milhão) do país;
** Na Bahia, em 2021, o rendimento médio domiciliar per capita dos pretos ou pardos era 37,2% menor que o dos brancos; as mulheres pretas ou pardas tinham a menor renda per capita;
** Na Bahia, as pessoas pretas ou pardas são 80,4% da população, mas 65,5% entre os 10% mais ricos;
** Trabalhadores pretos ou pardos ganham, em média cerca de 40% menos que os brancos na Bahia, e desigualdade é ainda maior nas ocupações formais;
** Essas e outras informações integram a segunda edição das “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”. O estudo recorre a estatísticas do IBGE e outras fontes confiáveis com o objetivo de mostrar as desigualdades sociais por cor ou raça em dimensões das condições de vida da população brasileira, como mercado de trabalho e distribuição de rendimento, moradia e patrimônio e educação, além de indicadores relativos a violência, representação política e ambiente político municipal.
A população declarada preta ou parda é a mais representativa na Bahia, com destaque também no cenário nacional.
Em 2021, o estado mantinha a maior proporção de pessoas pretas do país: 21,5%, o que representava 1 em cada 5 baianos ou 3,213 milhões de pessoas, numa população total de 14,966 milhões. Somando esse grupo aos pardos, que eram maioria (58,9% ou 8,8 milhões), chegava-se a 80,4% da população baiana (12,025 milhões). A Bahia tinha o 6º maior percentual de pretos ou pardos entre os estados. Os brancos, por sua vez, eram 2,802 milhões, ou 18,7% da população baiana.
No Brasil como um todo, no ano passado, 9,1% da população eram pretos (19,3 milhões), 47,0% eram pardos (cerca de 100 milhões), somando 56,1% do total (119,2 milhões), e 43,0% eram brancos (91,5 milhões).
Ao longo do tempo, porém, a manutenção de indicadores de mercado de trabalho desfavoráveis para as pessoas pretas ou pardas, sobretudo no que diz respeito ao rendimento, tanto no Brasil quanto na Bahia, as tornou ainda mais representativas entre os pobres e extremamente pobres.
Na Bahia, em 2021, 46,5% da população (6,9 milhões de pessoas) viviam abaixo da linha de pobreza monetária, ou seja, com um rendimento domiciliar per capita mensal menor que R$ 486 (menos de US$ 5,5 por dia, em paridade de poder de compra, critério definido pelo Banco Mundial). Desses 6,9 milhões, cerca de 2,4 milhões estavam na extrema pobreza, o que representava 15,8% da população do estado vivendo com menos de R$ 168 por mês, per capita (menos de US$ 1,9 por dia em paridade de poder de compra, também seguindo critério do Banco Mundial).
O percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza entre os que se declaravam pretos ou pardos era ainda maior que a média: 47,5%, ou 5,7 milhões eram considerados pobres, na Bahia. Entre os brancos, o percentual de pobres era 42,4% ou 1,2 milhão de pessoas. A extrema pobreza, por sua vez, atingia 16,2% das pessoas pretas ou pardas na Bahia (1,9 milhão) e 14,0% dos brancos (393 mil).
No Brasil como um todo, as desigualdades por cor ou raça na pobreza e extrema pobreza eram ainda maiores.
Em 2021, 29,4% da população brasileira eram pobres (62,5 milhões), mas a proporção entre as pessoas brancas era 18,6%, (17,0 milhões), ao passo que, entre as pessoas pretas ou pardas, o percentual dobrava, indo a 37,7% (45,0 milhões aproximadamente). Entre os extremamente pobres, a diferença também foi expressiva: 8,4% da população brasileira estava nessa situação (17,8 milhões), mas a proporção entre as pessoas pretas ou pardas (11,0% ou 13,2 milhões) era mais que o dobro da verificada entre os brancos (5,0% ou 4,5 milhões).
A Bahia, embora tivesse percentuais de pobres bem maiores do que os nacionais, era o estado com menor desigualdade por cor ou raça nesse indicador. A diferença entre as proporções de pretos ou pardos (47,5%) e brancos (42,4%) abaixo da linha da pobreza era de 5,1 pontos percentuais.
No país como um todo, essa diferença ficava em 19,1 pontos percentuais. Entre as unidades da Federação, a desigualdade era maior no Amazonas (53,1% de pretos ou pardos pobres frente a 34,9% dos brancos, numa diferença de 18,2 pontos percentuais), Amapá (50,1% contra 32,0%, +18,1 pontos percentuais) e no Pará (49,0% contra 34,0%, +15,0 pontos percentuais).
Ainda assim, por ser um estado populoso (4o em população total e 3o em número de pessoas pretas ou pardas) e com significativa incidência de pobreza, em 2021 a Bahia tinha tanto o maior número absoluto de pretos ou pardos pobres (5,7 milhões) quanto o maior número absoluto de pretos ou pardos extremamente pobres (1,9 milhão) do país.
No estado, os pretos ou pardos eram 82,0% da população abaixo da linha de pobreza, frente a 80,4% no total da população. A proporção abaixo da linha extrema pobreza era ainda discretamente maior: 82,2% das pessoas extremamente pobres na Bahia eram pretas ou pardas.
Mas as participações de pretos ou pardos entre pobres e extremamente pobres diminuíram um pouco, na Bahia, frente a 2020, quando eram, respectivamente, de 84,1% e 84,5%. Isso ocorreu em razão da piora generalizada na situação financeira de um ano para o outro, que atingiu os brancos com um pouco mais de intensidade.
Rendimento médio domiciliar per capita de pretos ou pardos é 37,2% menor que o dos brancos na Bahia; mulheres pretas ou pardas têm a menor renda
A maior incidência de pobreza na população preta ou parda, do que na média e entre os brancos, tem relação com a desigualdade no rendimento por cor ou raça.
Em 2021, na Bahia, as pessoas que se declaravam pretas ou pardas tinham uma renda domiciliar média mensal per capita quase 40% menor do que as brancas. O rendimento domiciliar per capita é a soma das rendas de trabalho e outras fontes (aluguéis, programas sociais, aposentadorias etc.) de todos os que vivem num domicílio, dividida pelo número de moradores. É um importante indicador para avaliar as condições econômicas e de vida da população.
Enquanto o rendimento médio domiciliar per capita das pessoas brancas era R$ 1.210 por mês, o dos pretos ou pardos era R$ 760 (-37,2%), sendo que, separadamente, os pretos (R$ 722) tinham renda ainda menor que os pardos (R$ 774).
Ao longo da série histórica disponível, de nove anos, essa desigualdade pouco mudou no estado, mostrando inclusive uma tendência de aumento, considerando-se os extremos do período (era de -35,9% em 2012). A exceção são os anos de crise econômica, como em 2017 (-47,0%) e 2020 (-42,0%), quando a distância entre os rendimentos de brancos e pretos ou pardos se aprofundou a níveis recordes.
No Brasil, em 2021, as pessoas pretas ou pardas tinham rendimento médio domiciliar per capita de R$ 949 mensais, frente a R$ 1.866 dos brancos (-49,2%).
Tanto no estado quanto no país como um todo, as mulheres declaradas pretas ou pardas eram as que tinham o menor rendimento médio domiciliar per capita, evidenciando a dupla desigualdade, por cor ou raça e por sexo de nascimento.
Na Bahia, mulheres pretas ou pardas tinham renda per capita média de R$ 720 em 2021, 5,3% menor do que a das pessoas pretas ou pardas em geral (R$ 760) e 10,2% menor do que a dos homens pretos ou pardos no estado (R$ 802).
No Brasil como um todo, por sua vez, as mulheres de cor preta ou parda tinham renda domiciliar per capita de R$ 905, 4,6% menor do que a dos pretos ou pardos em geral (R$ 949) e 8,8% abaixo da renda dos homens pretos ou pardos (R$ 993).
Na Bahia, pessoas pretas ou pardas são 80,4% da população, mas 65,5% entre os 10% mais ricos
As desigualdades por cor ou raça no rendimento domiciliar per capita se evidenciam na incidência de pobreza, mas também, e com até maior intensidade, no outro extremo, entre os 10% mais ricos ou com maior renda, grupo no qual as pessoas pretas ou pardas estão francamente sub-representadas.
Na Bahia, em 2021, enquanto os pretos ou pardos representavam 80,4% da população em geral e 82,0% dos que viviam abaixo da linha da pobreza, eram 65,5% entre as pessoas com os 10% maiores rendimentos domiciliares per capita.
No Brasil como um todo, essa sub-representação era ainda mais marcante: as pessoas declaradas pretas ou pardas eram 56,1% da população nacional, 71,9% entre os que estavam abaixo da linha da pobreza e apenas 27,7% entre os 10% mais ricos.
Dentre os estados, a Bahia tinha o 7o maior percentual de pretos ou pardos entre as pessoas com os 10% maiores rendimentos domiciliares per capita, frente ao 6o maior percentual de pretos ou pardos na população em geral.
Trabalhadores pretos ou pardos ganham, em média cerca de 40% menos que os brancos na Bahia, e desigualdade é ainda maior nas ocupações formais
As diferenças no rendimento domiciliar per capita são, por sua vez, resultado em grande parte das persistentes desigualdades salariais por cor ou raça.
Considerando todos os trabalhos, sejam eles formais ou informais, a Bahia tinha a 5a maior desigualdade salarial entre pretos ou pardos, de um lado, e brancos do outro, dentre os 27 estados. Em 2021, os trabalhadores declarados pretos ou pardos baianos ganhavam, em média, por mês, R$ 1.383, 39,8% menos do que os brancos (R$2.296). Isso significa dizer que, para cada R$ 10 recebidos por uma pessoa branca, uma preta ou parda recebia R$ 6.
Os trabalhadores pretos eram os que ganhavam menos no estado: R$ 1.317, valor 42,7% abaixo dos brancos. Os pardos ganhavam, em média, R$ 1.412 mensais (-38,5% que os brancos).
No Brasil como um todo, a diferença era de -41,8% para trabalhadores pretos ou pardos, frente aos brancos (R$ 1.804 e R$ 3.099 respectivamente). Rio de Janeiro (-47,0%), Roraima (-45,9%) e São Paulo (-43,3%) tinham as maiores desigualdades salariais; e Rondônia (-14,4%), Ceará (-20,6%) e Amapá (-22,5%), as menores.
Diferentemente do que ocorria no país como um todo, na Bahia, a desigualdade salarial por cor ou raça era ainda um pouco maior entre os trabalhadores formais. Nesse grupo, os pretos ou pardos ganhavam, em média, 41,2% menos do que os brancos, no estado (R$ 1.934 frente a R$ 3.289). Entre os informais, todos ganhavam bem menos, e a desigualdade se mantinha, mas a diferença era menor: pretos ou pardos recebiam 35,1% menos que brancos (R$ 926 e R$ 1.426 respectivamente).
No Brasil, a desigualdade entre os trabalhadores informais era de -45,3% para pretos ou pardos frente aos brancos. Já em ocupações formais, a diferença caía para 34,3% – embora ainda fosse bastante significativa.
Além da menor renda, as pessoas pretas ou pardas mantinham, em 2021, na Bahia, uma taxa de desocupação significativamente maior do que a dos brancos: 22,2% (a maior do país) contra 16,9% (a segunda maior do país). O indicador mostra o percentual de pessoas de 14 anos ou mais de idade que estão no mercado procurando um trabalho sem encontrar, nem na informalidade.
No Brasil como um todo, a taxa de desocupação de pretos ou pardos era de 16,3% em 2021, frente a 11,3% dos brancos.