Março é o mês da campanha mundial de conscientização sobre a endometriose (o março amarelo) e acende um alerta importante para sensibilizar a população quanto à doença que, embora atinja 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva no Brasil – provocando fortes cólicas e até internação – ainda leva quase uma década para ser diagnosticada.
Além das complicações de uma identificação tardia da doença e dos sintomas intensos – como dores abdominais, inchaço, incômodos durante o ato sexual e alterações nos hábitos intestinais –, as pacientes sofrem também com a falta de opções para tratamento: na maior parte das vezes, a solução apresentada para reduzir a dor fica restrita ao bloqueio da menstruação e à cirurgia, mais especificamente a laparoscopia.
Práticas da medicina integrativa, entretanto, mostram que é possível melhorar a qualidade de vida da paciente com endometriose por meio de tratamentos que extrapolem uma monoterapia com anticoncepcional.
“Quando se bloqueia a menstruação, trata-se a consequência, mas não a causa do problema, que é a inflamação. A gente vem percebendo, ao longo desses anos, que muitas coisas evoluíram. Antigamente, se pensava que a endometriose era apenas associada ao refluxo menstrual; hoje sabemos que se trata de uma doença que tem total interação com o sistema imunológico e um caráter inflamatório muito importante. Portanto, todas as medidas que visem reduzir a inflamação crônica, melhorar a imunidade e corrigir a disfunção intestinal vão fazer com que as pacientes tenham resultados melhores em todos os aspectos”, explica o médico ginecologista Jorge Valente, especialista em medicina integrativa e reposição hormonal.
O 1° passo é corrigir a dieta
Com 22 anos de atuação em prática médica e uma visão holística da doença, Jorge Valente alerta para a importância da dieta, na prescrição para o controle da sintomatologia em pacientes com endometriose. “A gente tem no intestino vários receptores de reconhecimento de tudo o que a gente come. Alimentos processados, ricos em gliadina, caseína, são altamente inflamatórios, e essa inflamação intestinal gera problemas para a paciente com endometriose. Por isso, o auxílio nutricional, com plano alimentar para reduzir álcool, lácteos e carboidratos é fundamental”, aponta o médico.
Segundo ele, o tratamento inclui ainda a reposição de probióticos, para que a paciente tenha uma nova microbiota anti-inflamatória, a prescrição de antioxidantes, que contribuem na redução do sofrimento físico da paciente, e a reposição de vitamina D. “Corrigir os níveis de vitamina D faz com que o sistema imunológico entre em equilíbrio e toda essa cascata de inflamação diminua”, observa Jorge Valente.
Resultados que impactam na qualidade de vida
A introdução de uma terapia voltada ao controle da inflamação, que corrige a dieta e lança mão de antioxidantes, probióticos e vitamina D, faz a diferença na estabilização do quadro clínico das pacientes. Na prática – aponta o médico – isso pode significar o fim de um grande sofrimento durante o período menstrual.
“O que a gente percebe é que após 45 a 60 dias, cerca de 90%, 95% das pacientes estão sem dor. Isso muda significativamente a qualidade de vida, se pensarmos que existem mulheres com endometriose que precisam ir para a emergência todo mês. É um período de uma semana, dez dias, em que sua vida está totalmente comprometida, devido a dores incapacitantes, que deixam a pessoa impossibilitada de realizar outras atividades”, afirma.
Não naturalizar nem negligenciar a dor
De acordo com o ginecologista Jorge Valente, o acompanhamento da paciente com endometriose é contínuo e, embora existam confluências entre as prescrições, a terapia é individualizada, respeitando as particularidades de cada mulher para o melhor resultado.
O médico lembra ainda que a dor ocorre, geralmente, durante o período menstrual, podendo existir, associados à cólica, sintomas intestinais, impactos psicológicos, como ansiedade e depressão – muito frequentes em pacientes com infertilidade –, além de resistência insulínica e aumento da circunferência abdominal. Para o diagnóstico, ele recomenda acompanhamento de um profissional qualificado, e destaca que é fundamental não negligenciar a dor.