Ser mãe nunca foi uma tarefa fácil, embora seja sem dúvida muito recompensadora. Que ela traz muitas alegrias e momentos de prazer e felicidade já era consenso, mas o que muitas mães só começaram a ganhar voz para falar nos últimos anos foi sobre os desafios e dificuldades, dúvidas e medos que ser mãe envolve. A pandemia de Covid-19 trouxe consigo mudanças e necessidade de adaptação para diversos elementos da vida das pessoas, e para a maternidade isso não foi diferente. Com os filhos em casa, tendo que auxiliar no processo de adaptação do ensino à distância e lidar com desafios diversos, as mães se viram com uma sobrecarga que pode levar ao adoecimento psíquico. Ao mesmo tempo, o aumento do tempo em casa, se adaptado de forma saudável, pode ser uma oportunidade de convívio maior para mães e filhos, mas fica o alerta: cobrança em excesso não é saudável nem para as mães, nem para os filhos.
A psicóloga clínica infanto juvenil e professora da Ages, instituição de ensino que faz parte da Ânima Educação, Catiele Reis, aponta que as mulheres, na realidade, já vivem uma sobrecarga ao ter que lidar com vários contextos diversos, porém com a pandemia isso se acentuou ainda mais uma vez que os papéis outrora separados acabam se misturando.
“Um exemplo: estar em casa trabalhando em home office e ter que preparar o lanche das crianças e certificar-se que eles estão em aula. Tudo isso gera uma sobrecarga que a depender de como a pessoa lida com isso, a forma de enfrentamento, ela vai aumentar ainda mais e ocasionar sintomas depressivos, ansiosos, entre outros”, alerta.
O primeiro passo, diz a psicóloga, é não tentar assumir toda a responsabilidade de uma vez só. Isso envolve delegar tarefas e contar com o suporte social que for possível, seja o marido, parentes, amigos.
“Também é importante é tentar seguir uma rotina e estabelecer limites para ela e para a criança, como ter horários rígidos de trabalhar, não excedendo para a noite, ter um local para trabalho e avisar aos demais que naquele momento ela está trabalhando e que não gostaria de ser perturbada etc. Acima de tudo, vem a aceitação: aceitar que a sua produtividade vai ser diminuída e que não é uma falha não conseguir lidar com tudo ao mesmo tempo. Ter que aceitar seu tempo e possibilidades”, aponta Catiele.
Crianças e quarentena
É comum que as crianças fiquem mais agitadas com o maior tempo em casa. Catiele destaca que o segredo é ter uma rotina bem estabelecida e com horários para que os pequenos façam cada atividade.
“Se possível indica-se reduzir a quantidade de telas, pois pode causar uma agitação maior e um aumento da frustração quando não ganha alguma coisa. Nesse sentido, é interessante reservar um tempo para brincar com os filhos, em casa mesmo, atividades que possam gastar energia e também ser um momento de diversão em família. Em alguns momentos, quando for possível e seguro, pode-se levar as crianças a praças, com o cuidado de verificar se estão vazias, assim como a área de convivência do condomínio”, diz a psicóloga.
Evitando o adoecimento
A culpa materna e a sensação de que é preciso dar conta de tudo é algo que acompanha o processo de maternidade. É imprescindível, porém, que, em qualquer período, as mães peçam ajuda não só quando a carga está insuportável e antes que haja uma situação maior do que a que ela consiga lidar.
“Alguns sinais de que isso pode estar ocorrendo são a desregulação emocional, com o surgimento de choro, raiva, medo, e outros sentimentos, dificuldade de dormir, cansaço extremo e apatia para as atividades. A mães precisam, em especial neste momento, ter momentos de auto prazer, tentar manter exercícios físicos regulares, além de perdoar-se constantemente e serem menos críticas consigo mesmas”, sublinha a professora da Ages.
A ajuda profissional surge como extremamente necessária quando a pessoa não consegue lidar com os sentimentos latentes e há desregulação – choro onde não tinha antes, raiva maior, ansiedade. Porém, antes mesmo desses sintomas surgirem, a terapia pode ser um momento de auto cuidado e colaborar no processo de passar de forma mais leve por este momento, aconselha Catiele.
Ela lembra que as mães, em especial as mães solos, precisam contar com ajuda sempre que possível, e também podem estabelecer uma rotina para que haja momentos em que as crianças estejam brincando de forma independente.
“Já as menores, que dependem integralmente das mães, convém que haja uma aceitação delas em abdicar de outros afazeres e até mesmo diminuir a sua quantidade de autocobrança. Diminuir o ritmo e ter momentos, mesmo que pequenos, para ela, como a prática de atividades físicas em casa mesmo, escutar música, ler um livro ou até um banho demorado são momentos prazerosos de autocuidado”, completa a psicóloga.