Em sua segunda edição, o Índice Transformação Digital Brasil (ITDBr), desenvolvido pela PwC Brasil e pelo Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC), mostra que as empresas brasileiras compreendem melhor as inovações digitais, mas que o ritmo de integração de novas soluções e o seu verdadeiro impacto ainda dependem de uma governança eficaz e de estratégias alinhadas às realidades operacionais e de mercado. A pontuação média passou dos 3,3 em 2023 para 3,7 neste ano – em uma escala de 1 a 6 -, com avanços em oito das dez dimensões avaliadas pelo índice.
Além de fazer um diagnóstico da maturidade digital das companhias, a proposta deste índice é orientar lideranças a entender como a digitização pode gerar ganhos, inclusive financeiros. Nesta segunda edição, o ITDBr identifica um nível mediano de maturidade digital no Brasil, no entanto, indica uma melhora em relação ao ano anterior, como reflexo da relevância crescente que os tomadores de decisão têm atribuído aos temas pesquisados.
“A tecnologia, historicamente, e como um dos habilitadores importantes da transformação digital, evolui para aumentar a eficiência do trabalho e impulsionar novos negócios e serviços”, avalia a sócia da PwC Brasil, Denise Pinheiro. “Hoje, o que estamos vendo com a disseminação e avanço rápido das tecnologias de inteligência artificial generativa é exatamente isso. Observamos nesta edição da pesquisa um salto muito grande no índice de IA, o que já era esperado, mas com foco principalmente em eficiência. Afinal, a IA generativa democratizou o uso da inteligência artificial na força de trabalho, promovendo uma eficiência mais ampla e massiva e alcançando diretamente o usuário final”, comenta.
O levantamento ouviu mais de 100 grandes e médias companhias e startups nacionais de diferentes segmentos, sendo que mais da metade, 59%, faturam anualmente cifra superior a R$1 bilhão. “Observamos no estudo e, de forma geral, no mercado, um aumento na percepção e na relevância que os tomadores de decisão têm dado às inovações e tecnologias digitais”, afirma o Professor Hugo Tadeu, da Fundação Dom Cabral.
Avanços
Dentre as dez dimensões analisadas, a Inteligência Artificial e a Fronteira Tecnológica evoluíram de forma significativa – com destaque para o tema de IA, saindo de 2,4 na 1ª edição para 3,6 nesta segunda. Das organizações consultadas, 20% delas apontou a ferramenta como a principal tecnologia de fronteira adotada, o que indica que as empresas têm investido consideravelmente neste tipo de solução – a robótica (12%) e a Internet das Coisas (IoT) (9%) vêm em seguida e são usadas, respectivamente, para otimização de processos e conexão de dispositivos em tempo real.
Já a fronteira tecnológica saltou de 2,3 para 3,9, dimensão que consiste em explorar inovações em áreas como nanotecnologia, biotecnologia e outras com potencial transformador. Por meio da adoção de uma determinada técnica, uma empresa pode revolucionar setores inteiros e impulsionar avanços significativos, ultrapassando os limites do conhecimento atual.
O crescimento pode ser explicado pela pergunta: “Na sua organização, existem projetos em andamento para o uso de tecnologia blockchain?”. Ao analisar as respostas qualitativas, 8% indicaram Blockchain como a principal tecnologia de fronteira adotada. Além disso, esse aumento pode ser atribuído ao setor de Construção e Infraestrutura.
Retração
Na dimensão “decisões orientadas por dados”, que mede a cultura data-driven das organizações, o índice indica uma pequena queda de 3,9 em 2023 para 3,5 em 2024 e que pode ser explicada pelos resultados da pergunta: “Na sua organização, existe foco para a gestão de dados em infraestrutura cloud e com foco em maior conectividade de equipes?”. Ao analisar as respostas qualitativas, essa redução pode ser atribuída a empresas que ainda não implementaram ou estão em processo de implementação da infraestrutura.
Além disso, na pergunta “Quais seriam as oportunidades de melhoria observadas sobre o desenvolvimento de uma cultura data-driven para a transformação digital na sua organização?”, muitos respondentes indicaram a necessidade de capacitação e desenvolvimento e disseminação das decisões orientadas por dados.
Cultura
Apenas 13,9% das empresas dizem realizar investimentos na transformação digital como prioridade estratégica. Em 45,1%% delas, a abordagem é mais cautelosa nas iniciativas digitais, realizando apenas pequenos investimentos de forma seletiva, enquanto 41,0%% considera a transformação digital um fator determinante para investimentos, reconhecendo sua importância.
Em comparação com a primeira edição, houve um aumento no número de companhias avaliadas como otimizadoras (de 23% para 24%) e visionárias (de 20% para 27%), indicando uma adoção mais abrangente da transformação digital neste tipo de organização. Por outro lado, entre as empresas que faturam acima de R$1 bilhão, há uma proximidade entre otimizadoras (49%) e seletivas (44%) – e só 8% são visionárias.
“O desafio não está na inovação em si, mas nos mecanismos de governança que a acompanham. O problema é que o nível de maturidade para integrar verdadeiramente as tecnologias digitais ainda é muito baixo, como observado na primeira edição do nosso estudo. Por isso, enfatizamos constantemente, desde o ano passado, a necessidade de focar não só na tecnologia, porque as tecnologias mudam. Sem uma estratégia de governança adequada – que envolva a estrutura organizacional, as alçadas de decisão e os investimentos – essa maturidade continuará em níveis baixos”, alerta o Professor Hugo Tadeu.
O quesito estrutura e cultura organizacional voltadas para a transformação digital retraiu de 55% em 2023 para 49% em 2024, porém segue como principal impeditivo para o avanço da implementação da transformação digital. Quando perguntadas sobre “Qual a melhor definição da transformação digital na sua organização?”, a opção “tecnologias e ferramentas” foi a escolha de 29% das empresas, figurando na primeira posição entre todas as opções. Apenas 10% das empresas apontam cultura e liderança como a melhor definição.
ESG e gestão de riscos
Pouco mais da metade (55%) das organizações avalia os impactos da transformação digital em sua estratégia ESG . No entanto, 40% ainda não utilizam tecnologia nesta área, indicando que há grande oportunidade de alinhamento entre as práticas digitais e a responsabilidade social e ambiental.
Observa-se que a grande parte dos respondentes (48%) respondeu “não” quando perguntados se “existe a adoção de tecnologias digitais para a mitigação de riscos e práticas ESG envolvendo todos os stakeholders”. No entanto, 44% (totalmente ou parcialmente) responderam “sim”, enquanto 8% afirmaram estar com ações em desenvolvimento por reconhecerem a importância dessa integração.
Ainda em relação aos temas ESG, 46% das empresas ainda não integraram completamente as competências de tecnologia digital com as áreas relacionadas à responsabilidade social, ambiental ou de governança. Pode-se atribuir este gap a desafios como mudanças culturais, necessidade de investimentos e falta de conscientização sobre o tema. Entretanto, 41% das empresas já adotam essas práticas, o que indica que o alinhamento estratégico entre transformação digital e ESG teve início nas organizações que estão preocupadas em priorizar este tema. O índice observa que, no mercado, muitas empresas ainda adotam uma abordagem ESG mais preocupada com a elaboração de relatórios atraentes do que com a implementação de ações concretas que gerem resultados tangíveis, este comportamento se reflete na maturidade digital que elas demonstram neste levantamento.
Próximos passos
Esta segunda edição do ITDBr revela que para assegurar sucesso e crescimento sustentável, as empresas brasileiras precisam integrar a tecnologia de maneira estratégica e operacional em seus negócios. As tecnologias devem ser tratadas como ferramentas para viabilizar as transformações e não como objetivo em si.
Outro ponto importante é a capacidade intelectual e a formação da força de trabalho. “Empresas comprometidas com o desenvolvimento contínuo de seus profissionais são mais adaptáveis às novas tecnologias e capazes de incorporá-las efetivamente aos seus fluxos de trabalho”, explica Denise Pinheiro. Além disso, a maturidade intelectual também favorece a inovação e os investimentos tecnológicos.
Por último, o ITDBr indica que ao seguir estas diretrizes as empresas brasileiras estarão mais bem preparadas para enfrentar desafios da economia digital e se posicionar como líderes de mercado, diferenciando-se pela inovação e eficiência operacional.