Estudo do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) revela que ainda há muita desigualdade no país, tanto em termos de distribuição de equipamentos de mamografia, como até de radiologistas. No Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, a oferta média nacional de mamógrafos é de 1,3 aparelho por 100 mil habitantes. Os mamógrafos disponíveis para atendimento na rede nacional do SUS somam 2.102, mostra o estudo. “Me preocupa a baixa oferta mas também a desigualdade regional”, destacou em entrevista à Agência Brasil o médico radiologista Hilton Leão Filho, diretor de Comunicação do CBR.
“Mesmo que tenha esse número baixo, ele fica mais complicado quando a gente olha a distribuição”, disse o especialista. Do total de 2.102 aparelhos disponíveis, cerca de 40%, ou 847, estão no Sudeste, e desses, um pouco menos da metade, 402, está em São Paulo. A pior cobertura é encontrada na Região Norte, com 145 aparelhos. O estado do Amapá tem apenas dois mamógrafos no SUS, diz o estudo.
Leão Filho observou que para medir a desigualdade em termos de aparelhos de mamografia entre o sistema público de saúde e a medicina privada, os estatísticos criaram um Indicador de Desigualdade Público-Privado (IDPP). No Brasil como um todo, o IDPP é de 4,72, ou seja, as usuárias do setor privado, que são as mulheres que têm plano de saúde, têm à disposição 4,72 vezes mais mamógrafos do que a população feminina que usa exclusivamente o SUS.
Densidade
O diretor do CBR salientou que as desigualdades por unidades da Federação são significativas. Os maiores índices de desigualdade público-privada entre os setores público e privado foram encontrados em Mato Grosso do Sul (81,09), Acre (60,61) e Paraíba (53,62). “Significa, por exemplo, que as pacientes do setor privado em Mato Grosso do Sul têm 81,09 vezes mais mamógrafos do que a população que usa exclusivamente o SUS. É um número exorbitante”, disse Leão Filho. Já o Amazonas (1,38), Santa Catarina (2,53) e Paraná (3,19) têm as menores discrepâncias público-privadas.
Ao analisar os equipamentos em relação ao número de usuários do SUS por unidade da Federação, a pesquisa registra que a menor densidade está no Amapá (0,26 equipamento a cada 100 mil pacientes), seguido do Acre e do Maranhão, com 0,36 e 0,46, respectivamente. A densidade de mamógrafos é o número de aparelhos disponíveis para a região no setor público de saúde, dividido pelo número de pacientes que usam aquele serviço com acesso exclusivo pelo SUS e que têm mais de 40 anos de idade. Os estados com maior densidade são Paraíba (2,28), Rio Grande do Sul (1,96) e Santa Catarina (1,94).
Médicos radiologistas
O estudo O Perfil do Médico Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem no Brasil, realizado recentemente pelo CBR em parceria com pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), mostra que ainda existe desigualdade grande em termos de gênero no país, embora o número de mulheres especialistas nessa área da medicina venha crescendo. Hoje, são cerca de 62,4% médicos radiologistas homens, contra 37,6% mulheres.
Por estados, há uma diferença grande, disse Hilton Leão Filho. São Paulo, por exemplo, é o estado que tem mais radiologistas (21,8%), com densidade de 9,91 especialistas por 100 mil habitantes. No Distrito Federal, a densidade é de 16,34 por 100 mil, contra 1,56 em Roraima e 1,61 no Acre. A densidade média nacional alcança 16,9 especialistas por 100 mil brasileiros, informou Leão Filho.
Exames
O diretor do CBR disse que mamografia é o único exame de rastreamento que tem uma redução de mortalidade comprovada de câncer de mama. “E o mamógrafo não é um aparelho caro, comparado com ressonância magnética, por exemplo. Aí a situação fica muito pior”, disse o médico.
Leão Filho espera que a população feminina, especialmente, esteja se conscientizando de que, apesar de ser desconfortável, a mamografia é o único exame que reduz a possibilidade de morte por câncer de mama. O exame deve ser feito uma vez por ano por mulheres na faixa etária de 40 anos a 74 anos.
O especialista descartou a necessidade de proteção de tireoide na hora da mamografia. Segundo o Leão Filho, a radiação pela mamografia “é minúscula e direcionada só na mama”. A colocação do protetor pode alterar o sensor que mede o grau de radiação. “Pode dar mais radiação e pode prejudicar o exame”.
Ministério
Em nota, o Ministério da Saúde informou que o Brasil possui 2.922 mamógrafos disponíveis, que garantem o atendimento das pessoas que dependem de atendimento no Sistema Único de Saúde. O ministério completou que, nos últimos três anos, foram realizadas 12,4 milhões de mamografia no Brasil. “Cabe esclarecer que a distribuição dos mamógrafos se dá de acordo com a incidência da doença nas regiões”, concluiu a nota.
Agência Brasil