Insatisfação, cansaço, estresse. Na véspera do Dia do Trabalhador, muita gente não sabe nem o que comemorar. E não é para pouco: horas no trânsito, além de ônibus, trem e metrô cheios. Sem contar com a insegurança nos trajetos de ida e volta do trabalho. Para fechar (ou não) a conta, a crise econômica, que gera mais angústia e instabilidade não só financeira, mas emocional. O conjunto de situações traz danos à saúde mental, que pode gerar sintomas físicos, como insônia.
— O carioca passa de bem humorado e amigável para um indivíduo agressivo e impaciente. Isso é resultado da ameaça constante: de não poder sustentar a família, andar tranquilamente na rua. Uma pessoa que vive tensa tem efeitos físico, biológico, mental e social — afirma a psicóloga Marlene Dias da Silva, responsável técnica da Unipsico- Rio.
Diante de tanta pressão, é preciso estar atento aos sinais de alerta e não ignorá-los.
— Esse ambiente não favorável serve de gatilho para depressão e ansiedade. É um sentimento de não ter saída — ressalta o psiquiatra Gabriel Landsberg, diretor médico da clínica Espaço Clif.
Os transtornos mentais nem sempre são tão claros de perceber. Encontrar o diagnóstico correto é um desafio, já que os exames podem não dar alteração. Isso porque uma gastrite ou uma taquicardia, por exemplo, teriam razão emocional e não clínica.
Por isso, amigos e familiares podem ajudar na indicação da necessidade de acompanhamento especializado.
— Prestar atenção se a pessoa mudou o comportamento, se está mais fechada, falando sobre sumir ou que a vida familiar seria melhor sem ela — indica Gabriel.
Os efeitos dessa dura jornada podem ser incapacitantes, prejudicando vida social e profissional.
— Há situações em que a pessoa não teria como sair sozinha, o que a impediria de ir ao trabalho — diz o psiquiatra Amaury José Junior, referindo-se à crise de pânico.
Perigo para o coração
A verdade é que falta tempo para se alimentar bem e para fazer atividade física. Torna-se, então, um efeito dominó.
— Dados alertam que num cenário como esse, pessoas com estresse alto tem maior propensão ao sedentarismo, obesidade, aumento de doenças cardiovasculares, como enfarte e AVC. Se não revermos conceitos agora, teremos adiante um agravamento dos índices de qualidade de vida — ressalta o cardiologista Luiz Maurino Abreu, do Hospital Federal dos Servidores do Estado.
‘Chego em casa sempre esgotada’
A auxiliar de cozinha Roseane Felix, de 29 anos, sabe bem o que são esses problemas. Ela foi assaltada há dois meses, no trem, indo para o trabalho. Até hoje sente os efeitos daquele momento: o sentimento de medo é constante, segundo ela.
— Um homem pulou em cima de mim e levou meu celular. Fiquei traumatizada. Qualquer um que chega perto, já acho que vai me roubar. Levo duas horas no caminho para o trabalho e chego em casa sempre esgotada. Sustento meus filhos sozinha. Quero dar atenção para eles, mas é difícil, me estresso fácil. É muita pressão — conta a moça.r de
G1