A presença da jogadora trans Tifanny, do Bauru, na disputa da Superliga feminina de vôlei causa divergência também na comunidade médica. Inclusive, o próprio médico que coordena a Comissão Nacional Médica (Conamev), da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), João Granjeiro acredita que ela não deveria jogar entre as mulheres.
“Ela nasceu homem e construiu seu corpo, músculos, ossos, articulações com testosterona alta. Nenhuma mulher, a não ser que tenha usado testosterona de origem externa ao organismo, conseguiria formar o mesmo corpo. É só olhar para a atleta, alta e muito forte”, afirmou.
Responsável pela liberação da atleta, Granjeiro explicou que autorização concedida em dezembro tem como base as recomendações do Comitê Olímpico Internacional (COI). A entidade divulgará novas diretrizes para atletas que mudam de sexo, após os Jogos Olímpicos de Inverno, de Pyeongchang, na Coreia do Sul, em fevereiro. Para conseguir a liberação, Tifanny apresentou as documentações jurídicas necessárias como identidade e passaporte com nome e foto de mulher, e exames do nível de testosterona dos últimos 12 meses, que devem estar abaixo de 10nmol/L ou 288ng/dL. Ela deve apresentar novos exames de taxa hormonal a cada dois meses.
“Ela está liberada para jogar porque está dentro da regra. A regra existe e a obedecemos. Mas esse é um assunto que ainda se discute no meio esportivo. Não está esgotado. Atletas deveriam se manifestar também porque esse é o caminho, o do debate. Não é questão de ser homofóbico ou politicamente incorreto. É um assunto necessário”, esclareceu Granjeiro.
Já o médico da CBV, responsável da área clínica da Conamev, João Olyntho, disse que se algum exame apresentar alguma alteração, o processo volta ao início. “Se a testosterona estiver acima desse limite, ela terá de parar de jogar e o processo volta ao início. Terá de apresentar novos exames durante um ano dentro das recomendações do COI. Só depois será liberada novamente”, explicou. “Leva-se em consideração apenas o último ano em relação ao nível de testosterona. Mas e os outros anos todos na vida dessa atleta? Foram 30 anos”, questionou.
Em meio a polêmica, Tifanny disse que não pensa em parar enquanto estiver dentro das regras. Caso a as leis mudem, ela falou que não se importa em parar de jogar. “Enquanto eu estiver dentro da lei, estarei em quadra. Não tem que fazer motim para eu parar de jogar porque não vou. Mas se a regra mudar e eu tiver algum impedimento, coloco minha mão no bolso e vou seguir minha vida normal. Sou mulher trans, antes de ser uma jogadora trans”, avisou.
O Bauru perdeu o último jogo de 2017. A equipe foi derrotada pelo Fluminense no dia 22 de dezembro por 3 sets a 2, no Ginásio Hebraica, no Rio de Janeiro. Apesar do revés, o time é o oitavo colocado com 17 pontos. Tifanny e companhia voltam à quadra no dia 9 de janeiro, às 17h30, no ginásio Panela de Pressão, em Bauru, para encarar o BRB/Brasília.
Bahia Notícias