Quando um casal infértil deve buscar ajuda especializada? Como investigar a infertilidade de modo simples e prático? Preservação de fertilidade por razões médicas ou sociais, Diagnóstico e tratamento da endometriose e Abortamento de repetição (aborto espontâneo recorrente). Esses são alguns temas que serão abordados na III Jornada de Reprodução Humana do Sul da Bahia, que acontece nos dias 14 e 15 de setembro, na Sala de Convenções do Tarik Fontes Hotel, em Itabuna. O evento, realizado pelo Cenafert – Centro de Medicina Reprodutiva e pela Insemina Centro de Reprodução Humana, conta com o apoio da ABM – Associação Bahiana de Medicina e Sogiba (Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia). Inscrições e informações na Secretaria do Hospital Manoel Novaes, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Telefone: (73) 3214-4372 (havendo disponibilidade de vaga, haverá inscrição também no dia e local do evento). A coordenação do evento é do ginecologista e especialista em Reprodução Humana, Joaquim Lopes.
A infertilidade conjugal, que atinge cerca de 15% dos casais em idade reprodutiva, é caracterizada pela ausência de gravidez em um casal com relações sexuais regulares, sem uso de medidas anticonceptivas, por um período de um ou mais anos. Os tratamentos de reprodução assistida são cada vez mais procurados por casais que não conseguem ter filhos. De acordo com dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o número de Fertilizações in Vitro (FIV’s), realizadas no Brasil, cresceu 149,79% em cinco anos, de 2011 a 2016, aumentando de 13.527 para 33.790 procedimentos.
Se até pouco tempo a responsabilidade em gerar uma criança era atribuída exclusivamente à mulher, hoje já está comprovado que cerca de 40% dos casos de infertilidade de um casal são atribuídos à mulher, 40 % aos homens e em 20% dos casos o problema está presente em ambos os parceiros ou tem causas indefinidas.
Um casal que tem relações sexuais frequentes, sem uso de métodos anticoncepcionais, possui cerca 25% de chance de engravidar a cada mês. Segundo o médico Joaquim Lopes, coordenador da Jornada de Reprodução Humana, “uma mulher com menos de 30 anos e vida sexual ativa, que deseja ser mãe, pode esperar até dois anos para que aconteça a gravidez se ela já foi avaliada por um especialista e não apresenta nenhum problema que possa afetar sua fertilidade. Caso a mulher tenha mais de 30 anos não deve aguardar mais que um ano para iniciar uma investigação com o especialista. Se atingiu 35 anos, o prazo de espera não deve ultrapassar seis meses. Após os 40 anos de idade, se a mulher deseja engravidar, ela deve iniciar a investigação da sua capacidade fértil imediatamente”.
A responsabilidade pela gravidez deve ser compartilhada igualmente pelos dois sexos. “Quando um casal decide buscar ajuda especializada para ter filhos, a investigação da infertilidade deve ser feita pelos dois, o homem e a mulher, para que se identifique as condições de fertilidade de cada um e o tratamento mais adequado seja indicado”, afirma Joaquim Lopes. “A maior parte dos casos de infertilidade pode ser revertida com medidas simples. Estima-se que apenas um terço dos casais com problemas para ter filhos precisa de técnicas mais complexas para realizar o sonho de ter um bebê,” lembra o especialista.
Preservação da infertilidade (Congelamento de óvulos)
Nos dias atuais, muitas mulheres têm seu primeiro filho após os trinta anos. A mulher moderna tem cada dia mais adiado a maternidade para investir na sua formação e carreira profissional, buscar estabilidade financeira antes de ter filhos ou até mesmo por ainda não ter encontrado o parceiro ideal. O grande problema é que quando muitas mulheres resolvem ter filhos a fertilidade delas já entrou em declínio já que a idade é um dos fatores naturais que mais afetam a capacidade reprodutora feminina. O congelamento de óvulos possibilita que as mulheres adiem a gestação e ainda que engravidem utilizando os próprios gametas até mesmo depois da menopausa.
Para preservar a fertilidade feminina, a técnica de vitrificação, considerada eficaz e segura, é uma das que apresenta os melhores resultados. O método de criopreservação permite o ultrarresfriamento dos óvulos em baixíssima temperatura (-196ºC) e de forma muito rápida, garantindo a sua qualidade no ato do descongelamento ou desvitrificação para fertilização em seguida. Considerado um método mais avançado de criopreservação, a vitrificação proporciona taxas de gestação altas, uma vez que o procedimento preserva as características, a idade e a qualidade dos gametas femininos. Durante o processo de congelamento, os óvulos são desidratados e tratados com substâncias crioprotetoras antes de serem congelados.
A técnica também é indicada para mulheres que vão ser submetidas à quimio ou radioterapia para tratamento de determinados tipos de câncer, pois esses tratamentos podem comprometer sua fertilidade por diminuição importante da quantidade de óvulos.
Aborto espontâneo recorrente
De acordo com a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, entre 15% e 25% das mulheres em idade fértil vão ter pelo menos uma perda gestacional e 5% delas terão duas. Cinquenta por cento das perdas não têm causas definidas. No Brasil, estima-se que por ano um milhão de casais percam seus bebês por conta de abortamentosespontâneos. O aborto espontâneo é caracterizado por uma gravidez interrompida por causas naturais antes de completar vinte semanas de gestação. O abortamento espontâneo recorrente, também conhecido como abortamento habitual ou de repetição, acontece quando há duas ou mais perdas gestacionais espontâneas e consecutivas antes da vigésima semana de gravidez. Além de grande sofrimento, o aborto recorrente causa constrangimento e impacto emocional para as mães, seus parceiros e familiares e, muitas vezes, efeitos devastadores na vida do casal.
Em boa parte dos casos, as perdas gestacionais sucessivas são multifatoriais, mas em 50% dos casais não é possível definir as causas. Infecções, obesidade, alterações imunológicas, malformações uterinas e outros problemas anatômicos, distúrbios hormonais, fatores genéticos (anomalias cromossômicas no casal), doenças crônicas da mãe, como diabetes não controlada e hipertensão, e uso de drogas podem ser responsáveis pelo abortamento recorrente.
Endometriose e infertilidade
Considerada uma doença da mulher moderna, que retarda a maternidade, tem menos filhos e, consequentemente, tem mais ciclos menstruais, a endometriose acomete cerca de seis milhões de mulheres brasileiras em idade fértil. Uma grande parte dessas mulheres só descobre que tem a doença quando não consegue engravidar. A endometriose pode causar infertilidade, principalmente, em seu estágio mais avançado, quando a doença atinge as trompas, órgão que conduz o óvulo e, depois de fecundado, o transporta ao útero. A doença também é associada a alterações hormonais e imunológicas, que podem dificultar a gravidez. A depender do quadro, o tratamento pode ser com o uso de medicamentos hormonais ou através de procedimento cirúrgico, como videolaparoscopia (técnica de cirurgia minimamente invasiva).
A endometriose consiste na presença de endométrio (tecido que reveste o útero internamente e que é renovado mensalmente pela menstruação) em locais indevidos, ou seja, fora da cavidade uterina. Quando não ocorre a menstruação, o endométrio se fragmenta e é eliminado junto com o sangue menstrual, podendo migrar através das trompas para órgãos como o ovário, intestino, apêndice e bexiga. Cólica menstrual aguda, dores pélvicas entre as menstruações, dor durante a relação sexual e infertilidade estão entre os principais sintomas da doença. As dores decorrentes da endometriose comprometem bastante a qualidade de vida da mulher.
Apesar da doença ser um dos principais fatores associados à infertilidade feminina, nem todas as mulheres que têm endometriose são inférteis. A infertilidade decorrente da endometriose, em casos mais leves da doença, pode ser tratada com a inseminação artificial, técnica de reprodução assistida que consiste na estimulação ovariana e posterior colocação do sêmen dentro da cavidade uterina através de um cateter flexível. Em casos mais avançados, quando a endometriose já atingiu vários órgãos, geralmente, a paciente precisa de uma técnica mais complexa para engravidar, como a Fertilização in Vitro (FIV). É uma das principais indicações de FIV no Cenafert e na Clínica Insemina.