Maria Lúcia está entre os 12,7 milhões de brasileiros com deficiência. Ela é cega e diz que ainda sente muito prazer em usar a internet, algo que só é possível graças à ajuda de um leitor de tela, que descreve o que está sendo exibido no computador. Apesar do auxílio da tecnologia, ela ainda encontra muitas barreiras durante sua navegação.
O Brasil tem 14,65 milhões de sites ativos e apenas 0,74% deles passaram em todos os testes de acessibilidade realizados durante levantamento feito pelo BigDataCorp e pelo Movimento Web para Todos, em abril deste ano.
O número mostra que a garantia da acessibilidade nos sites da internet, determinada no artigo 63 da LBI (Lei Brasileira de Inclusão), em vigor desde 2016, ainda está está longe de ser concretizada.
Apesar disso, houve um avanço em relação ao 0,61% registrado em agosto do ano passado.“Esse é um crescimento pequeno, mas equivale, proporcionalmente, a um aumento superior a 21%”, pondera Thoran Rodrigues, CEO e fundador da BigDataCorp.
O levantamento avaliou quatro critérios de acessibilidade: formulários para cadastros, imagens, links e estutura da página. Cada um desses itens deve atender aos critérios estabelecidos para que uma pessoa com deficiência não tenha barreiras para acessar todo o conteúdo disponibilizado em um site.
O CEO da BigDataCorp explica que a falha em todos os testes não significa que o site não possa ser utilizado por uma pessoa com deficiência. “Quanto mais problemas de acessibilidade, maior a chance da pessoa com deficiência ter uma experiência diferente daqueles que não têm deficiência”.
A quantidade de sites que falharam em todos os testes teve uma queda significativa de 5,6% para 0,01% entre agosto de 2019 e abril deste ano. Contudo, 99,26% dos sites avaliados ainda têm pelo menos um problema de acessibilidade, conforme os quesitos avaliados.
O número de páginas ligadas ao governo com algum problema de acessibilidade caiu de 99,66% para 96,71%, ou seja, só 3,29% são totalmente acessíveis. O site da Secretaria Municipal de Saúde, onde Maria Lúcia trabalha, está entre esses sites ideias para a navegação de pessoas com deficiência.
“Está uma maravilha, nota dez, tanto que ganhamos o selo de acessibilidade fornecido pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência. Se você entrar lá, todas as fotos têm descrição”, diz a assessora de imprensa.
Ela acrescenta que a web é muito visual e para que pessoas cegas tenham acesso à informação contida nas imagens, é essencial haver a descrição, feita detalhadamente e com regras.
“É muito bom saber o que está sendo mostrado e como está sendo mostrado. Mas existe um descaso com esse tipo de coisa”, pondera.
Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, destaca que a quarentena deixou ainda mais evidente como a inclusão digital é imprescindível.
“Estamos há dois meses isolados em nossas casas por conta do novo coronavírus. A web, mais do que nunca, se tornou o nosso principal meio de comunicação com o mundo externo: para comprar, fazer reuniões virtuais, se informar, estudar e se divertir”, afirma.
Maria Lúcia, por sua vez, enfatiza que só se sentirá incluída no mundo digital quando puder receber informações em pé de igualdade com as outras pessoas. “Ainda falta muito para isso”, afirma. “De 1 a 10, eu dou nota 7”, define, referindo-se à acessibilidade na internet.
Embora os números apresentem avanços, na opinião dela, as barreiras aumentaram com o passar do tempo.
“Agora minha experiência na web está meio cansativa. Eu tô achando a web meio chata, muito inacessível, como sempre foi, mas parece que a cada dia piora mais e está muito difícil navegar porque tem muita propaganda no meio das coisas”, avalia.
R7