Dentistas explicam os cuidados necessários para atravessar diferentes momentos da vida e desmistificam alguns tabus sobre saúde bucal
Os cuidados com a saúde bucal são fundamentais para qualquer pessoa, afinal, a boca desempenha funções importantes que impactam na saúde de todo o organismo. No entanto, fatores como alterações hormonais, gestação, amamentação, menopausa e uso de contraceptivos podem demandar alguns cuidados extras por parte das mulheres. Em homenagem ao Mês da Mulher, os dentistas e sócios do Ateliê Cangussu & Ferraz, Danilo Ferraz, Davi Ferraz e Raphael Cangussu, destacam o que pode ser feito para melhorar o cuidado em diferentes fases da vida da mulher.
“A mulher tem necessidades especiais relacionadas à saúde bucal nas diversas fases da vida. As mudanças nos níveis de hormônios que ocorrem a partir da puberdade, seguidas da menstruação, gravidez e menopausa, tornam as gengivas mais sensíveis ao biofilme bacteriano (placa). Nessas etapas da vida, é essencial ter atenção redobrada na higiene bucal preventiva para evitar doenças periodontais e outras complicações”, alerta Danilo Ferraz.
Durante a gestação
Durante a gravidez, a mulher passa por inúmeras transformações, explica Raphael Cangussu. “Nesta fase, até a composição da saliva apresenta variação devido à condição hormonal e mudanças na dieta. Em virtude dos sucessivos vômitos no período da gravidez, a elevada presença de ácidos estomacais na cavidade oral pode afetar a estrutura do esmalte dental (por conta da elevação do pH) e causar erosão (desgaste da estrutura dental por ação química). Combinados a uma higiene bucal inadequada, esses pontos favorecem o aparecimento de cáries e o acúmulo de cálculo dental”.
A gengivite surge quando o biofilme bacteriano se forma sobre os dentes e causa inflamação na gengiva. Os sintomas são gengivas avermelhadas, inflamadas e com sangramento. “O cuidado pré-natal é sempre muito importante, sobretudo porque as gestantes com gengivite podem estar mais propensas a partos prematuros ou terem bebês de menor peso ao nascer. A gengivite também pode aumentar o nível dos líquidos biológicos que estimulam o parto”.
O pré-natal odontológico ainda permite educar e cuidar da saúde da gestante e do bebê, abordando os tratamentos preventivos, curativos e a alimentação saudável da gestante, além de orientá-la sobre a importância dos cuidados bucais com o futuro bebê, comenta Davi Ferraz. “O período ideal e mais seguro para o tratamento odontológico é durante o segundo trimestre da gestação. Entretanto, os casos que necessitam tratamento de urgência devem ser solucionados sempre, independentemente do período gestacional”.
Uso de contraceptivos
Algumas pesquisas antigas indicam que a concentração hormonal nos contraceptivos está relacionada à inflamação da gengiva. No entanto, atualmente, os contraceptivos orais parecem não influenciar no curso da gengivite e da doença periodontal, mas sim, a higienização e manutenção da saúde bucal ineficiente. A condição é tão comum que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 90% da população tem gengivite.
“Como a gengivite em geral não dói, muitas mulheres só notam que têm o problema quando está em quadro agudo ou quando já evoluiu para periodontite, condição clínica que perde a característica de reversibilidade, ou seja, consiste numa doença que apresenta sequelas nos tecidos de sustentação dos dentes. A melhor estratégia é a higiene bucal diária com uma boa escovação e o uso de fio dental, além das consultas regulares com o dentista”, orienta o dentista.
Menopausa
O período da menopausa também está associado a maior prevalência de gengivite, assim como inflamações, desconfortos e sensação de ardência. De acordo com Raphael Cangussu, com o envelhecimento ocorre uma perda de inserção dos tecidos que suportam os dentes. “É um fenômeno que vai propiciar uma menor sustentação ao longo dos anos, por isso é importante prevenir uma perda óssea patológica para que as pessoas possam manter seus dentes (e suas funções) da melhor maneira possível”.
Outra situação comum ao envelhecimento é a diminuição da eficiência mastigatória devido a perda de massa muscular, indica Davi Ferraz. “Por conta disso, muitos idosos buscam se alimentar de comidas mais fáceis de mastigar, o que leva a não estimulação das glândulas salivares e a consequente diminuição de saliva”. O uso de medicamentos contínuos, que se torna maior na terceira idade, também pode reduzir a quantidade de saliva, o que tende a contribuir para a deterioração da cavidade bucal.