A modelo Liliana Matte, de 17 anos, atual Miss Brasil Model 2015, que ficou detida nos Estados Unidos por quase 20 dias, desembarcou no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, na madrugada deste sábado (10). Liliana chegou por volta das 1h acompanhada da mãe, Anaíse.
Três adolescentes brasileiras foram detidas ao tentar viajar desacompanhadas para os Estados Unidos nos últimos seis meses, segundo levantamento do Bom Dia Brasil. Os casos têm as mesmas características: jovens que acreditavam estar com toda documentação em dia são supreendidas ao desembarcarem no país e acabam detidas sem que as autoridades americanas digam oficialmente o motivo.
Liliana estava de férias com amigos e havia sido barrada no setor de imigração do Aeroporto Opa Locka Executive, de Miami, na Flórida, no dia 22 de agosto. Ela ficou detida no aeroporto até o dia 24 e em seguida foi levada para um abrigo para menores refugiados em Chicago, no estado de Illinois, a mais de 2 mil quilômetros de distância de onde aterrisou.
A adolescente passou a usar uniforme e não tinha acesso a seus pertences. Anaíse acha que a filha foi detida porque chamou a atenção no aeroporto americano por tirar uma selfie em uma área restrita. A mãe contou que soube da situação da filha no dia 23 do mês passado.
Anaíse Matte tinha embarcado de Roraima, onde a família mora, rumo aos EUA, no último dia 29, para tentar a liberdade da filha. Liliana deveria retornar ao Brasil no dia 1º de setembro, para participar do Miss Brasil Model 2016, que será realizado neste mês, quando a jovem deveria passar a faixa de miss para a campeã do concurso deste ano.
Outro caso
Em 2 de setembro, a estudante Anna Stéfane Radeck, de 16 anos, que ficou detida nos Estados Unidos por mais de 20 dias, desembarcou no aeroporto de Guarulhos. Ela chegou acompanhada da mãe. Estava abatida, com um capuz tampando parte do rosto. A jovem abraçou o pai, o irmão, mas não quis falar com a imprensa.
A mãe, Liliane Carvalho, conversou com os jornalistas e afirmou que o local onde a filha ficou parecia uma “casa de detenção”.
“Ela disse que não podia falar porque eles ouviam as ligações, então ela não podia falar a verdade. Então ela contou que não é um lugar legal, que ela foi maltratada, que falta comida, falta higiene, precária a situação. É uma casa de detenção”, disse.
Para a mãe, a adolescente foi detida porque era menor de idade e estava desacompanhada. Ainda segundo Liliane, na audiência em que a Justiça norte-americana autorizou a adolescente a voltar para casa, a juíza se desculpou e disse que o país está de portas abertas para a família.
“Eu não confio nisso. Porque eles falam uma coisa, mas o tratamento lá é totalmente diferente. A gente desacreditou nessas informações”, afirmou o pai de Stéfane, Sérgio Ferreira.
Segundo os pais, a garota foi obrigada a tomar dez vacinas e a bagagem dela foi higienizada. Os pais de Stéfane também reclamaram da falta de apoio da embaixada brasileira. “Eles falavam a todo momento que eles não poderiam fazer nada”, afirmou a mãe.
Curso
Stéfane viajou para os EUA no dia 10 de agosto. Ela tinha ido para os Estados Unidos morar com uma tia e estava pensando em fazer um curso. Ela foi barrada pela imigração em Orlando e levada para um abrigo para menores refugiados em Chicago.
A família é de Embu-Guaçu e contou que a menina estava com a documentação em ordem.
A mãe foi para Chicago, mas só tinha contato com a filha uma vez por semana em local determinado pelas autoridades americanas, que não explicaram o motivo da detenção.
A família contratou um advogado e o Itamaraty e o consulado brasileiro entraram no caso.
Motivo das detenções
As mães das duas acreditavam que para entrar nos Estados Unidos bastavam o visto do consulado, o passaporte válido e os seguintes dizeres no documento: “O titular, enquanto menor, está autorizado pelos genitores pelo prazo deste documento a viajar desacompanhado ou apenas com um dos pais indistintamente”.
“Isso precisa ser melhor esclarecido, porque se não pode viajar sozinha, então não vale nada o que está no passaporte”, reclama Anaide. O embaixador Carlos Alberto Simas explica que, mesmo com a documentação correta, a imigração de qualquer país tem autonomia para impedir a entrada de quem quer que seja, se assim desejar.
“Visto não é direito adquirido. Visto de entrada é presunção de direito”, esclarece ele. Segundo o embaixador, o mesmo acontece em território brasileiro. Se, por alguma razão, a autoridade de imigração brasileira impedir alguém de ingressar no país, “ela está dentro do seu direito e isso é verdade em qualquer país, inclusive nos Estados Unidos, evidentemente”.
“A retenção nos Estados Unidos, pelo que entendo da legislação norte-americana, é motivada pelo fato de a menina ser menor, simplesmente isso. E pode estar associada a alguma dúvida que eles tenham em relação ao status da menina”, completou o embaixador.
G1