O Cristo Redentor vai ficar iluminado de verde hoje (26) à noite para alertar a população brasileira sobre o glaucoma (lesão do nervo óptico que pode provocar cegueira). A doença afeta mais de 2 milhões de pessoas no Brasil, sendo que a maioria não sabe que tem glaucoma, e em torno de 60 milhões em todo o mundo. Hoje é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma. Em Salvador, o Elevador Lacerda também ficará iluminado.
Os recentes avanços no tratamento da doença glaucoma estão sendo debatidos no 17º Simpósio Internacional da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), que ocorre até amanhã (27) no Rio de Janeiro, com a participação de mil especialistas nacionais e estrangeiros.
O secretário-geral da SBG, Emílio Suzuki, disse que a iluminação visa a tornar o glaucoma conhecido. “Porque nós dependemos muito do conhecimento cultural da população, para que ela vá ao oftalmologista. É a única ferramenta que consegue segurar essa doença”. Ele explicou que o nervo óptico sofre degeneração que, em geral, ocorre por aumento da pressão ocular, e a pessoa não tem sintomas.
”É uma doença assintomática, não dói. Com o tempo, como esse nervo que leva as imagens ao cérebro, para a gente poder enxergar, vai sendo degenerado, a pessoa vai perdendo a visão aos pouquinhos e, geralmente, a perda não é aguda, não é de imediato. Nem é central também. É periférica e lenta. Por isso, é muito difícil ser percebida nos estágios iniciais”. Daí a importância do diagnóstico precoce para a prevenção do glaucoma, disse Suzuki.
Fatores de risco
Um dos fatores de risco para o glaucoma é a idade. Pessoas acima de 40 anos são mais suscetíveis à doença. “O olho foi feito para durar bem até os 40 anos. Depois dessa idade, já começa a dar alguns sinais de fraqueza, como a visão cansada para perto”. O sistema de drenagem ocular fica mais lento e falha com mais frequência em pessoas acima de 40 anos. “Quarenta anos é uma idade importante para ter, pelo menos, uma consulta básica ao oftalmologista por ano”, recomendou.
O glaucoma tem também uma característica genética e hereditária. Existe uma associação grande entre parentes, e a chance de desenvolver a doença é mais intensa entre irmãos. Segundo Emílio Suzuki, o fato de o pai ou a mãe ter glaucoma não condena o filho a ter glaucoma. “E o fato de ninguém ter na família também não exclui você da possibilidade de aparecer. Mas os casos familiares te colocam no grupo de risco maior”. A incidência de glaucoma entre irmãos é, às vezes, de seis a nove vezes maior do que em uma pessoa que não tem ninguém na família.
Têm mais chance ainda de desenvolver a doença os hipertensos e diabéticos, que apresentam muitas vezes problemas de vascularização do nervo óptico, além dos afrodescendentes. Em relação a esses últimos, Suzuki disse que ocorre no mundo inteiro maior chance de os afrodescendentes terem glaucoma mais agressivo e avançado. No Brasil, a miscigenação da população aumenta a incidência da doença. Não se sabe ainda a razão de indivíduos da raça negra terem glaucoma, mas estima-se que é um fator ligado à genética. Por isso, a raça negra funciona como um fator de alerta e influencia muito no diagnóstico, afirmou.
A única maneira de descobrir o glaucoma é o médico oftalmologista, porque não é só a pressão do olho que está envolvida. No início da doença, não há sintomas. Crises de glaucoma agudo, em casos esporádicos e raros, podem deixar o olho vermelho. Suzuki esclareceu, entretanto, que a vermelhidão do olho é sinal de uma gama infinita de doenças. “Pode ser uma simples irritação, uma conjuntivite, uma úlcera de córnea, uma uveíte. Por isso é o médico que vai saber se é glaucoma ou não. De maneira geral, não é”.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,5 milhões de pessoas em todo o mundo ficaram cegas devido ao glaucoma. O governo brasileiro tem um programa de assistência aos portadores de glaucoma. Quase 500 mil pessoas cadastradas no programa recebem remédios de graça, destacou o especialista.
Dr. Consulta
Segundo o oftalmologista Eduardo Mariotonni, da Rede Dr. Consulta, existem dois tipos comuns de glaucomas: o de ângulo aberto primário, quando o líquido circula livremente no olho e a pressão tende a subir lentamente ao longo do tempo, e uma forma menos frequente da doença, denominada agudo ou de ângulo fechado, no qual a pressão aumenta rapidamente porque o fluxo normal de líquido dentro do olho fica bloqueado.
Mariotonni reforçou que o exame de rotina é importante porque a maioria dos pacientes com glaucoma não sente nada até que a doença esteja avançada. “Quando o médico descobre no início, antes de o paciente ter qualquer sintoma, o tratamento é mais fácil e com mais chance de dar certo”, afirmou. Segundo ele, a visão perdida devido ao glaucoma não pode ser recuperada, mas a doença pode ser controlada, diminuindo a pressão do olho como uso de medicamentos.
Elevador Lacerda
Até a próxima quarta-feira (31), o Elevador Lacerda, em Salvador, também recebe iluminação verde no período da noite, como forma de alertar a população para a prevenção e os riscos da doença.
Por isso, a recomendação é que sejam feitos exames periódicos com um médico oftalmologista. O tratamento, segundo o Ministério da Saúde, pode variar de acordo com o caso detectado: desde o uso de colírios até cirurgias. Quando os exames preventivos não são realizados, a doença pode avançar silenciosamente e causar cegueira.
A OMS lembra que, a cada ano, são registrados 2,4 milhões de novos casos de glaucoma no mundo.
Agência Brasil