Morreu neste domingo (15) Jacques André Conchon, no Rio de Janeiro, célebre por ter sido um dos fundadores do CVV (Centro de Valorização da Vida).
Conchon estava com 76 anos. Ele fazia o tratamento de um câncer no pâncreas havia um ano e meio e teve uma septicemia súbita (complicação de infecção) decorrente do tratamento de quimioterapia. Deixa os quatro filhos, Mônika, Eduardo André, Elaine e Roberto André, o irmão Silvio e dez netos.
Nascido no Recife, filho do francês Andre Conchon e da professora Áurea Conchon, Jacques foi criado no Rio, onde o pai teve uma maquinaria têxtil.
Quando tinha 17 anos, a família mudou-se para São Paulo. O rapaz foi estudar engenharia mecânica no Mackenzie -mais tarde se especializaria em engenharia ambiental, área em que teve proeminência acadêmica no que se refere a soluções e recursos hídricos.
Em uma viagem à Inglaterra, conheceu o pastor Chad Varah. Varah foi o fundador do Samaritans, entidade de caridade britânica que atende por telefone pessoas que passam por sofrimento emocional. A organização notabilizou-se principalmente pelo trabalho de prevenção ao suicídio.
Jacques Conchon retornou ao Brasil e fundou, junto com outros colegas, o Centro de Valorização da Vida, com apenas 20 anos, em 1962. Em entrevista recente para “A Tribuna”, de Santos, Conchon afirmou que sempre teve o “impulso de se sentir útil à sociedade” e que sua motivação partiu de notícias da época, que diziam que o número de suicídios no Estado de São Paulo era de quatro por dia.
O pastor Varah viria muitas vezes ao Brasil para auxiliar na implementação do CVV. A relação entre os dois não entrava em eventuais divergências religiosas -o britânico era protestante, e Conchon era espírita-, e era marcada pelo ideal humanitarista de ambos.
Em 56 anos, a rede de voluntários cresceu pelo país e, recentemente, conquistou a gratuidade de seu número, o 188, para todo o território nacional.
Na Federação Espírita de São Paulo, conheceu Suely, com quem se casou e teve os quatro filhos. Ela morreu há um ano e meio, depois de décadas de companheirismo.
Conchon era um homem culto e reservado. Apesar do que um perfil como esse possa indicar, cultivou por anos o voo de asa-delta como hobby.
Sua característica mais marcante, no entanto, é emblemática por ser a que ficou presente em seu legado: Jacques Conchon escutava.
“Por mais que tivesse um problemão dentro de casa, e ele era bravo, ele ouvia. Meu pai ouvia”, conta a filha Monika. “Não dava conselho, mas ele ouvia. Você percebia que ele estava concentrado em você e te dava apoio. Ele ensinou a ter atenção.”
A ligação para o CVV é gratuita e pode ser feita pelo telefone 188.
Bahia Notícias