O jornalista Newton Zarani faleceu nesta segunda (11), aos 93 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em um hospital no Méier, zona norte do Rio de Janeiro. Ele marcou história no Jornal dos Sports, no qual trabalhou durante 40 anos, cobrindo diversos esportes como hipismo, remo, natação, futebol de campo, de praia e de salão (a sua maior paixão).
Além reportar a modalidade nas páginas rosas do Jornal dos Sports, Zarani foi o primeiro atleta federado da história e também prestou serviços como treinador. Mas ele foi além, pois em 1954 fundou, junto com um grupo de amigos, a Federação Carioca de Futsal, a primeira registrada em todo o mundo. Por isso ficou conhecido como o fundador do futebol de salão.
Em dezembro do ano passado, a Associação dos Cronistas do Estado do Rio de Janeiro (ACERJ) homenageou com uma placa todos os profissionais associados há mais de 30 anos, e Zarani estava no grupo. O presidente da ACERJ, Eraldo Leite, falou sobre o jornalista: “O Zarani é uma destas pessoas que se transformam em ícones, aquelas figuras que representam uma classe, uma categoria, uma entidade. Ele era assim, um ícone da crônica esportiva. Nos baseávemos nas coisas que ele fazia para fazer igual ou parecido. Desde os tempos do Jornal dos Sports, gostávamos de ler os textos do Zarani, seu conhecimento, o seu amor pelo futebol e pela imprensa. Vai deixar uma grande lacuna, aqueles espaços que não podem ser preenchidos. Nós temos por ele um grande respeito e carinho, inclusive porque não se deixou ser vencido pela idade e, até os 82 anos, insistiu em jogar futebol. Um abraço à família e que Deus o receba de braços abertos no céu”.
O jornalista Silvio Barsetti também reconhece Zarani como um grande influenciador da classe: “Ele deixa um legado muito importante, porque ele teve influência direta em pelo menos duas gerações de jornalistas esportivos. Ele se destacava pela rigidez no trabalho, pontualidade e também pela generosidade. Fica a saudade e a imagem sempre carinhosa do Newton Zarani”.
Já o apresentador do programa No Mundo da Bola da TV Brasil, Sergio Du Bocage, relembra de um conselho da época em que trabalharam juntos: “Cheguei ao Jornal dos Sports em 1981, e um dos primeiros jornalistas com quem fiz amizade foi o Zarani. Newton Calomino Zarani, para ser mais exato. Não demorou para que um dia me chamasse no canto, para me dar um conselho que nunca esqueci: ‘Se quiser crescer nessa profissão, escreva sobre futebol. Esporte amador aqui no Brasil não dá futuro’. Que curioso. Consciente do espaço que o Jornal dos Sports dava a cada modalidade, nem assim deixou de fazer reportagens de futebol de salão e basquete, as duas paixões que tinha, nessa ordem. Zarani não merece apenas uma homenagem, mas sim ser lembrado para sempre, pelo tanto que fez pelos esportes e pelo jornalismo esportivo brasileiro”.
O jornalista era fanático torcedor do América, clube que defendeu como atleta e técnico. O ex-jogador do clube, Edu Coimbra, lembra do último encontro com o amigo: “Estamos muito tristes, o grande incentivador do futebol de salão no Rio de Janeiro, talvez no Brasil. A minha convivência foi muito grande, até familiar. Por diversas vezes tive a oportunidade de almoçar e jantar com esta família. Tenho na minha cabeça que o último encontro, a última saída que ele teve, foi justamente vindo aqui para Quintino Bocaiúva, no segundo encontro dos ex-jogadores do América. Ele ficou muito feliz e foi homenageado por todos nós, pelo baluarte que ele foi para o América Futebol Clube”.
O ex-árbitro de futebol de campo e futsal Daniel Pomeroy recordou a influência relevante que o americano teve na sua carreira: “Sou muito grato a ele por ter escrito um comentário da primeira final que arbitrei no futebol de campo em 1991, no Fla x Flu no Maracanã. Sua crítica à minha atuação foi extremamente construtiva e delineava sobre meu estilo de arbitragem. No futsal, foi a primeira pessoa a me indicar, a pedido da Federação Candanga, que solicitou a indicação de um árbitro do Rio de Janeiro para dirigir uma final do Campeonato Brasiliense de futsal. Depois disso passei ser mais conhecido em 1976 na arbitragem a nível nacional”.
Com trabalhos poliesportivos, Zarani também teve relevância no basquete cobrindo o Mundial de 1990, na Argentina, como destaca o presidente da Confederação de Brasileira de Basquete (CBB), Gerasime Grego Bozikis: “Perdemos o Zarani, grande amigo e jornalista especializado no basquete. Tive a oportunidade de conviver com ele por muitos anos na Federação de Basquete do Estado do Rio de Janeiro (FBERJ). Tínhamos uma coluna no Jornal dos Sports, escrita por ele toda semana, noticiando o basquete de base. Também tive a oportunidade de estar com ele no Mundial de 1990. Passamos 15 dias maravilhosos juntos. A vida é assim, todos um dia iremos. Quero mandar as condolências e os meus sentimentos à família”.
Newton Zarani deixa a esposa Maria Lúcia e três filhos: Charles, Ives e Michelle
Agência Brasil