A decisão da família do senador Major Olímpio, que morreu em decorrência da covid-19 na última quinta-feira (18), de doar seus órgãos após constatação da morte cerebral levantou uma questão importante: vítimas da covid-19 podem ser doadoras de órgãos?
De acordo com o médico Luiz Augusto Carneiro d’Albuquerque, chefe do núcleo de transplantes intervivos do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, é possível desde que seja seguido um rígido protocolo. “O Sistema Nacional de Transplante criou normas ainda no começo da pandemia. A primeira regra é que os sintomas iniciais da doença tenham acontecido há mais de 15 dias. A partir disso, será feito exames PCR, de sangue e um raio-X para checar a parte pulmonar”, explica Carneiro.
Caso os resultados constatem que o paciente não está mais infectado com a covid, ele se torna um doador comum e serão feitos outros 36 testes. A intenção é checar a presença de alguma doença infecciosa, como sífilis, HIV, tuberculose e outras. Com exames negativos, a pessoa é aceita como doadora.
Mas, Carneiro lembra que o receptor tem de aceitar o órgão. “Tem outro obstáculo que é a família do receptor aceitar o transplante, sabendo que vem de um paciente que teve covid e foi afastado por exames qualquer infecção. Assim como fazemos em qualquer transplante de órgão que não estejam tão bom”, afirma.
Esses procedimentos são respeitados devido a possibilidade de doenças do doador serem transmitidas aos receptores pelo órgão. O médico afirma que esses casos são raros. “Como o número de doações, infelizmente, é muito baixo no Brasil e no mundo e a incidência de casos que doenças passaram para o receptor é muito baixo. Mas pacientes com câncer, por exemplo, não são doadores”, lembra.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), os transplantes caíram 20% no Brasil devido à covid-19. De janeiro a dezembro de 2020, foram feitos 7.362 procedimentos. Enquanto em 2019, foram 9.189 transplantes.
A mudança do perfil das vítimas pode mudar esta história, uma vez que as mortes entre os mais jovens subiram nos últimos dois meses. “Na primeira fase da pandemia, como o número de pessoas que foram a óbito era maior entre os idosos, não tivemos muitas doações. Mas agora, é uma possibilidade real de teremos mais doadores”, diz o médico do Hospital Nove de Julho, que lamentou o número alto de mortes por covid.
No caso do senador Major Olímpio, não foi possível ajudar outras pessoas, porque ele ainda estava infectado com a covid-19. Mas, o especialista garante que só a intenção dele e da família já foi importante. “A vontade dele e a decisão da família é um belo exemplo e muito positivo para que as pessoas saibam que é possível fazer a doação. Foi muito bonito. Infelizmente, no caso dele, não deu tempo”, finaliza Carneiro d’Albuquerque.
R7