O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) apresentou nesta segunda-feira (8), denúncia à Justiça contra três suspeitos de participação na morte da policial militar Juliane dos Santos Duarte, sequestrada e executada em Paraisópolis, comunidade da zona sul de São Paulo.
O promotor Fernando César Bolque denuncia três suspeitos por participação nos crimes de homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, associaçao criminosa e cárcere privado.
Segundo Bolque, o julgamento deve ocorrer em meados do ano que vem. O promotor diz que existem 25 testemunhas para serem ouvidas, entre elas, três estão sob proteção. Há possibilidade de recurso por parte da defesa.
“O crime ocorreu porque a vítima Juliane encontrava-se armada, dentro de uma comunidade controlada por uma organização criminosa, o que afrontou suas lideranças, circunstância evidentemente torpe”, diz a denúncia.
Um dos suspeitos, conhecido como “Sem-Fronteira”, é denunciado por dirigir a ação dos demais participantes do crime. Segundo o promotor, ele seria membro da organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) na comunidade de Paraisópolis.
Foram interceptadas mensagens em aplicativos que comprovariam supostas ordens dadas pelo suspeito Sem-Fronteira. “Tem que sumir quanto mais rápido possível. Já está confirmado que é militar”, diz a gravação realizada no dia 2 de agosto.
De acordo com o promotor, Juliane teria permanecido entre dois e cinco dias em cárcere privado sendo torturada. “Ela estava com lesões típicas de espancamento, os pés tinham marcas de quando ficam na água por muito tempo”, diz Bolque. “As lesões apontam que ela teria ficado em ambiente molhado com roupas de sangue. Ela foi mantida com sangramento até o momento do tiro fatal no crânio”, afirma o promotor.
Na noite em que Juliane desapareceu, havia, segundo a denúncia, olheiros do tráfico da comunidade de Paraisópolis, que seria comandada pelo PCC. No momento em que Juliane se ausentou da mesa dos amigos, pessoas teriam começado a revistar quem estava no bar. Juliane teria colocado a arma sobre a mesa e dito que não queria ser revistada por ser policial. Os “revistadores” teriam ido embora.
Momentos depois, os dois outros suspeitos denunciados pelo MP, conhecidos por “Neguinha” e “Tirulipa”, acompanhados por mais duas pessoas ainda não identificadas, teriam segurado Juliane para receber os dois disparos que a feriram na região da virilha direita. Um deles ainda teria pego sua carteira.
Morte
Segundo a denúncia do MP, o arrebatamento da vítima ocorreu no dia 2 de agosto. Mas Juliane foi encontrada sem vida somente no dia 6. De acordo com o laudo necroscópico, a morte ocorreu entre 24 horas e 36 horas antes de Juliane ter sido encontrada. “O projétil foi encontrado dentro do carro. Um policial entrou no veículo e sentiu um cheiro muito forte quando localizou o corpo.”
A vítima foi submetida a tortura, mediante emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental como forma de aplicar castigo pessoal. O laudo cita ainda que houve uso de álcool etílico pelo menos nas 12 horas anteriores a morte e de cocaína pelo menos nas 24 horas antes do tiro fatal no crânio.
Suspeitos
O suspeito conhecido como Tirulipa é acusado pelo MP de ter participado do momento do arrebatamento e também pelo abandono da moto de Juliane no bairro do Alto Pinheiros. O DHPP comparou imagens de câmeras da vizinhança com uma foto do suspeito e encontrou características semelhantes.
A suspeita conhecida como Neguinha também é acusada de participar do momento do arrebatamento. “Testemunhas sigilosas dão conta que (os suspeitos) contrataram dois moto-taxistas para o abandono da moto”, diz a denúncia.
O suspeito conhecido como Sem-Fronteira teria jogado três celulares em um vaso sanitário, o que possibilitou a apreensão das gravações.
R7