Um dos motivos citados pelo juiz Sérgio Moro para determinar a prisão do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), em Brasília, na quarta-feira (19), pode também servir de base para uma possível ordem de prisão contra sua mulher, Cláudia Cruz.
Moro fundamentou a prisão de Cunha não apenas pela suposta influência política do ex-parlamentar, que segundo o juiz seria capaz obstruir o processo, como também pelo fato de as autoridades federais ainda não terem conseguido rastrear todo o dinheiro que teria sido desviado de contratos da Petrobras no Benin, na África.
A Procuradoria da República aponta que o ex-deputado teria recebido propina de US$ 1,5 milhão para “viabilizar” a aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin em 2011.
“Enquanto não houver rastreamento completo do dinheiro e a total identificação de sua localização atual, há um risco de dissipação do produto do crime, o que inviabilizará a sua recuperação”, diz o juiz, em sua decisão.
O argumento pode estender-se a Cláudia, pois, de acordo com a investigação, o dinheiro destinado a Cunha passou por contas de sua mulher.
Cláudia responde a uma ação diferente da do ex-parlamentar sobre o mesmo caso, devido a um desmembramento do processo. Nesse processo, o Ministério Público Federal imputou a Cláudia o crime de lavagem de dinheiro pela ocultação dos recursos da suposta propina em conta secreta no exterior e também pela utilização desse dinheiro para compra de produtos de luxo.
A mulher do ex-parlamentar, no entanto, não foi até o momento apontada como uma pessoa capaz de obstruir os processos — fato que pode favorecê-la, caso Moro tenha de apreciar um pedido de prisão contra ela.
Tanto Cunha quanto Cláudia negam o recebimento de propina. Na quarta-feira (19), Cunha classificou sua prisão como “absurda”.
Interrogatório
Nesta semana, Moro marcou o interrogatório de Cláudia Cruz para o dia 14 de novembro. No mesmo dia prestará depoimento o empresário Idalécio de Oliveira, também denunciado.
Antes, no dia 9, serão interrogados o ex-diretor Internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada e o lobista João Augusto Rezende Henriques, apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras. Ambos também são réus na mesma ação de Cláudia.
O interrogatório é a última etapa antes de o juiz ouvir as alegações finais das defesas e da acusação, últimos argumentos apresentados para o julgamento.
Nele os réus ficarão frente a frente com Moro e poderão responder a todas as acusações do Ministério Público Federal. Caso queiram, eles também poderão exercer o direito de permanecer em silêncio.
A última testemunha da defesa de Cláudia a ser ouvida antes do interrogatório é o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) que vai depor nesta quarta-feira (19).
Além disso, Cláudia arrolou várias testemunhas que residem no exterior, que já foram intimadas via carta precatória. Nestes casos, porém, o juiz da Lava Jato entendeu que não é necessário aguardar a cooperação de outros países para dar continuidade ao processo.
R7