No Brasil escravocrata, adquirir um sapato era o primeiro sinal de que uma negra conquistara a liberdade. Em seguida, adornava-se de jóias como forma de demonstrar ascensão social e econômica. Desde 1969, 157 peças datadas do século XVII a XIX encontram-se em exposição no Museu Carlos Costa Pinto, permitindo aos visitantes viajar na imaginação por uma época em que mulheres escravas trabalhavam “de ganho” para senhores e senhoras e economizavam o que ganhavam para comprar o próprio destino.
A coleção Jóias Crioulas, reunida por Carlos Costa Pinto, falecido em 1946, foi doada por sua esposa Margarida Carvalho Costa Pinto para a Fundação que leva o nome da família, mantenedora do museu e onde estão expostas 12 coleções, entre esculturas, mobiliários, porcelanas, prataria, jóias e outros materiais datados a partir do século XVII. O Museu Carlos Costa Pinto, localizado no bairro da Vitória, em Salvador, é uma das instituições que contam com o apoio do Fundo de Cultura da Bahia (Secretarias da Fazenda e Cultura), através da linha de apoio Ações Continuadas de Instituições Culturais.
O Museu mantém uma série de atividades voltadas para o público em geral, especialmente estudantes, que podem conhecer um pouco do Brasil colonial. No caso da coleção Jóias Crioulas, a maior do País, é possível perceber como o apelo visual, em peças grandes e moldadas principalmente em ouro, representavam a ascensão social. A gestora do Museu, Simone Trindade, conta que muitas escravas recebiam comissão na venda de especiarias, doces, quitutes (como o abará e o acarajé) e guardavam a economia para, primeiro, comprar a liberdade, e depois sapatos, roupas e jóias. “Mais do que o enfeite, as jóias eram também investimento, uma vez que essas negras não tinham acesso a instituições financeiras para guardar suas economias”.
As jóias de crioulas diferenciavam-se das jóias de senhoras brancas no formato, qualidade do material, peso e também por não conterem pedras preciosas. Muitas eram “ocas”, mas moldadas em ouro e prata e usadas em quantidade, fossem anéis, colares, pulseiras e brincos. Segundo Simone Trindade, a exuberância era uma forma de mostrar a ascensão econômica, destacando-se socialmente. “Eram negras nascidas escravas no Brasil e que sonhavam com a liberdade, contra uma sociedade escravocrata opressora”.
O superintendente de Promoção Cultural, Alexandre Simões, ressalta a importância da linha de Fomento Ações Continuadas, que permite a manutenção de atividades de 13 instituições culturais baianas. “Essas instituições têm papel fundamental na formação cultural e o Estado, através do Fundo de Cultura, garante a manutenção no formato plurianual. A valorização da cultura passa pelo fortalecimento das nossas instituições”. Recentemente, a Secretaria da Cultura abriu nova chamada para essa linha de fomento, recebendo 54 inscrições. O resultado para o novo triênio será divulgado em breve.
Acervo – O Museu pode ser visitado todos os dias das 14h30 às 19 horas (exceto terça-feira e domingo); No sábado, o horário vai até às 18 horas. A entrada custa R$ 10 a inteira e R$ 5 meia, mas grupos formados por estudantes, instituições sociais e outros agendados têm entrada gratuita com o acompanhamento. Além do acervo e da visitação, o Museu Carlos Costa Pinto oferece uma série de atividades voltadas à formação do conhecimento, como oficinas artísticas e sensoriais (voltadas para deficientes visuais), cursos, palestras e o Cinema do Museu, que exibe clássicos da cinematografia mundial todas as quintas-feiras, a partir das 15 horas.
Outra atividade bastante procurada é a contação de histórias, que acontece aos sábados com Nairzinha Spinelli e que será retomada no segundo semestre, de acordo com Simone Trindade. O Museu foi criado para “conservar aspectos da antiga residência de Carlos Costa Pinto, com objetos de arte colecionados por ele no século XX. O museu mantém coleções permanentes e realiza exposições temporárias, mantendo também a biblioteca Margarida Costa Pinto, especializada em artes decorativas.