A elevação de impostos sobre combustíveis anunciada nesta semana pelo governo federal pesa no bolso não apenas de quem tem que abastecer.
A gasolina e o diesel mais caros pressionam os custos de uma série de serviços, do frete ao transporte público, e podem provocar alta nos preços de produtos que vão de alimentos a roupas, calçados e eletrônicos.
O maior impacto indireto vem do diesel. O efeito cascata do aumento sobre o transporte de mercadorias e, por consequência, sobre o preço de produtos vendidos em supermercados, shoppings e no comércio popular deve adicionar 0,18 ponto percentual à inflação de 2017, estima o economista Fabio Romão, da LCA Consultores.
Essa conta é dividida entre todos os consumidores, que pagam por pequenos aumentos em dezenas de produtos.
Se tomado isoladamente, o peso do aumento do diesel nas bombas é bem inferior, de apenas 0,01 ponto percentual, contra 0,45 da gasolina, ainda de acordo com as projeções da consultoria.
Mesmo com a soma de todos esses efeitos, resultado da estratégia do governo para aumentar sua arrecadação, a inflação deve terminar o ano “comportada”, destaca Romão, em 3,7%.
Efeito cascata
Quanto mais um produto viaja, mais caro é seu transporte. Em média, 5% do preço das mercadorias no Brasil correspondem ao custo de frete, o caminho das fábricas às gôndolas e às araras.
Com o diesel que alimenta os caminhões mais caro, a ANTC (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) estima que o preço do frete suba 4% nos próximos meses.
Esse percentual tende a ser maior, por exemplo, em regiões como Norte e Nordeste, destino de parte do que a indústria do Sudeste e Sul produz, diz o assessor técnico da entidade Antônio Lauro Valdívia.
O repasse desse aumento de custos ao comércio, entretanto, é menor em períodos de crise como o atual, pondera a economista da MCM Consultores Basiliki Litvac. Para não correr o risco de perder clientes, as empresas que conseguem optam por reduzir as margens de lucro e subir menos os preços.
Transporte público
A alta do diesel também coloca maior pressão sobre os reajustes de transporte público, diz Romão, da LCA Consultores, à medida em que eleva o custo das empresas de ônibus.
No município de São Paulo, ele exemplifica, que congelou as tarifas em R$ 3,80, o volume de subsídios repassados pela prefeitura às concessionárias chegou a R$ 1,2 bilhão em maio, pouco mais de 30% do total que a administração do prefeito João Doria (PSDB) previa gastar neste ano, R$ 3,7 bilhões.
“Já havia um aumento encomendado para 2018, mas essa alta eleva o risco de que haja necessidade de reajuste ainda neste ano”, ele destaca.
A manutenção das tarifas foi uma das promessas de campanha de Doria, que tem revisto parte das gratuidades do sistema de transportes para controlar o avanço das despesas com subsídios.
Contas do governo
O incremento das alíquotas de PIS e Cofins sobre a gasolina, o diesel e o etanol deverá render aos cofres do governo R$ 10,4 bilhões até o fim deste ano, de acordo com as estimativas do Ministério da Fazenda.
Os recursos vão ser usados para cumprir a meta de resultado primário do governo — uma economia para pagar os juros da dívida —, que é de prejuízo de R$ 139 bilhões. Este será o terceiro ano em que as contas do governo vão fechar no vermelho, com consequente aumento do endividamento público.
Se o aumento for totalmente repassado para a gasolina, a alta nas bombas dos postos será de 11,8%, levando o preço do litro da média atual de R$ 3,49 para R$ 3,90. Para o litro do diesel, o incremento seria de 7,25%, de R$ 2,94 para R$ 3,16.
R7