Quando se transferiu do Barcelona para o Paris Saint-Germain em 2017, Neymar tinha o plano de dar o próximo passo na ascensão meteórica que era sua carreira. A mudança para uma equipe em crescimento e com uma das maiores capacidades de investimento do mundo parecia o cenário ideal para que o brasileiro assumisse, de vez, a posição de protagonista e chegasse ao topo do mundo. Dois anos depois, os objetivos estão distantes e o camisa 10 da seleção termina o pior ano de sua carreira em um processo de recuperação de prestígio e reconstrução de imagem.
O 2019 conturbado de Neymar envolveu lesões, uma acusação de estupro e uma tentativa fracassada de retornar do Barcelona. Sem conseguir render dentro das quatro linhas, o atacante chega à virada de ano buscando recuperar o carinho da torcida do PSG e o nível de atuações que o colocou entre os melhores jogadores do planeta.
Antes mesmo de começar, 2019 já representava um momento de recuperação para Neymar após um ano passado problemático. Uma fratura no quinto metatarso do pé-direito no primeiro semestre de 2018 o impediu de chegar à Copa do Mundo da Rússia nas melhores condições. Ele foi desfalque para o PSG na eliminação da Liga dos Campeões e não conseguiu evitar também a queda brasileira diante da Bélgica no Mundial. Ficou, ainda, marcado pela imprensa estrangeira, que explorou sua fama de cai-cai.
A preocupação principal, para 2019, era reencontrar e manter a melhor forma física e técnica, mas o primeiro golpe veio em janeiro, com uma repetição da fratura no mesmo quinto metatarso do pé direito. Neymar se recuperou, mas voltou a se lesionar em maio, na preparação para a Copa América —entorse no tornozelo direito. Após mais um período de recuperação, machucou a coxa esquerda em outubro, durante amistoso com a seleção brasileira.
Cada uma das três lesões impediu Neymar de atingir o auge físico ao longo de todo ano, e o atacante ficou de fora dos momentos decisivos do PSG na Liga dos Campeões pelo segundo ano consecutivo. Pela seleção, perdeu a Copa América, e viu os comandados de Tite superarem sua ausência e conquistarem o primeiro título brasileiro desde a Copa das Confederações de 2013.
De forma inédita, Neymar começou a ter seu desempenho dentro das quatro linhas questionado no PSG. Ficou no banco de reservas em confronto contra o Real Madrid em novembro, e chegou a receber nota 4 do jornal Le Parisien por uma atuação no Campeonato Francês.
Se as lesões atrapalharam o desempenho com a bola, o 2019 de Neymar fora de campo superou as mais pessimistas previsões. A vida do jogador se transformou em caso policial no final de maio: enquanto se preparava para a Copa América com a seleção, foi acusado de estupro pela modelo Najila Trindade. A ocorrência, registrada em São Paulo, relatava que o suposto crime teria ocorrido em um hotel em Paris no dia 15 de maio.
O caso se transformou em assunto internacional e se arrastou por meses. Neymar se defendeu expondo conversas com a modelo, e acabou processado por divulgação de fotos intimas. Todo o entorno da seleção foi afetado, com visitas policiais à concentração na Granja Comary e constantes questionamentos sobre o assunto a Tite e atletas. O repórter Mauro Naves acabou deixando a Rede Globo por ter intermediado um encontro entre o pai de Neymar e o primeiro advogado de Najila.
Cortado da competição continental por lesão, o jogador seguiu respondendo às acusações até o dia 8 de agosto, quando a Justiça decidiu arquivar o caso por contradições nos depoimentos de Najila e falta de provas. Abatido durante o processo, Neymar passou a buscar uma mudança de ares: a volta ao Barcelona.
Motivado por um desejo de retornar a um ambiente de amigos e onde foi vai mais feliz, o projeto de se transferir à Catalunha encontrou forte resistência no PSG. Duro nas negociações, o clube francês não se mostrou disposto a absorver perdas financeiras depois de ter investido mais de 250 milhões de euros (R$ 1,12 bilhão na cotação atual) na contração do brasileiro, entre multa rescisória e salários. A chegada de Leonardo para comandar o futebol do time parisiense também trouxe exigências de um comportamento mais profissional a todos os atletas, com o fim de privilégios e cobrança de maior dedicação ao clube.
No dia 1º de setembro, o PSG venceu oficialmente a queda de braço e selou a permanência de Neymar com um projeto de reconciliação. A torcida, entretanto, não comprou a ideia. Seu principal jogador passou a ser considerado um traidor após a tentativa de deixar Paris. Ao longo do segundo semestre, enquanto tentou vencer as lesões, encontrar o bom futebol e superar os dramas pessoais, Neymar conviveu com vaias e xingamentos inéditos, que ainda não foram silenciados,
Já na seleção brasileira, ao final de 2018, depois da eliminação na Copa do Mundo da Rússia, Tite decidiu apostar em Neymar. Nos primeiros amistosos da equipe após o Mundial, em setembro, nos Estados Unidos, o comandante convocou entrevista coletiva e anunciou o fim do rodízio de capitães que implementara desde que assumiu o cargo, em 2016. A faixa agora passaria a ser de seu camisa 10, referência técnica e principal jogador.
A iniciativa durou pouco mais de seis meses. No final de abril, Neymar agrediu um torcedor na arquibancada após a final da Copa da França entre PSG em Rennes. Quando a seleção voltou a se reunir em maio, Tite retirou a faixa de capitão do atacante e a entregou a Daniel Alves, o mais experiente do elenco.
O incidente perdeu importância com o turbilhão que viria a atingir o ano de Neymar, mas foi mais um dos problemas extracampo enfrentados. Com a combinação de críticas, vaias e problemas pessoais, o atacante viu as lesões o impedirem de fazer o que sempre fez: responder com gols, dentro de campo. 2019 se transformou em uma prisão.
No total, Neymar fecha o ano em que menos atuou na carreira, com 21 jogos pelo PSG, e vê, pela primeira vez, uma queda em seu valor de mercado: de 180 para 160 milhões de euros (R$ 721 mi), segundo o Transfermarkt, site especializado em mercado da bola.
Pessoas próximas a Neymar veem o atacante consciente da queda de produção e desempenho, além de focado em recuperar seu melhor nível. Fontes ligadas à seleção brasileira afirmam que o camisa 10 intensificou o ritmo de treinos e tem mantido uma vida mais tranquila com o objetivo de atingir a forma física de antes das lesões —e evitar que elas se repitam em 2020.
Na reta final de 2019, o trabalho parece estar fazendo efeito, e o atacante vem ensaiando uma recuperação. Pelo PSG, marcou cinco vezes e deu seis assistências nos últimos seis confrontos, para terminar em uma nota positiva o pior ano de sua carreira.
Bahia Notícias