A política externa de Donald Trump desafia as convenções da diplomacia e das relações internacionais. O presidente dos EUA confronta aliados históricos do país, ao mesmo tempo em que busca aproximação com regimes considerados adversários e até mesmo inimigos. Por isso, é sempre difícil prever o que ele fará.
Na próxima terça-feira, ele vai se reunir com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em Cingapura. O objetivo dele não será apenas a paz mundial. Para muitos analistas, um dos principais combustíveis para Trump nessa cúpula é alimentar o próprio ego.
‘Candidato’ ao Nobel
Em 9 de maio, durante uma entrevista coletiva após uma reunião de gabinete na Casa Branca, um repórter perguntou a Trump se ele seria merecedor do prêmio Nobel da Paz por seu esforço em prol da desnuclearização da Coreia do Norte.
“Todo mundo acha isso, mas não é o que eu diria”, respondeu o presidente, rindo. “O prêmio que eu quero é uma vitória para o mundo todo, não só aqui. É disso que estou falando”.
Mesmo com o discurso aparentemente humilde, Trump vem repetindo insinuações de que mereceria o Nobel em diversos eventos públicos. Se realmente receber o prêmio, em dezembro, ele se tornaria o quinto presidente dos EUA a conseguir o feito, depois de Theodore Roosevelt, Woodrow Wilson, Jimmy Carter e Barack Obama.
Ego presidencial
Para Leonardo Paz, professor de Relações Internacionais do Ibmec-RJ, o ego do presidente é um fator primordial na construção de sua política externa e de como ele lida com aliados e inimigos tradicionais dos EUA.
“Sempre que pode, ele dá a entender que mereceria o Nobel, faz a brincadeira em comícios, eventos públicos. Isso é claramente algo que mexe muito com o ego dele. Nessa questão da Coreia, ele vê esse dividendo claro para ele, pensa em um ganho pessoal, não necessariamente para o país”, afirma o professor.
Estilo personalista
Segundo ele, o estilo personalista de Trump pode ser visto na maneira apressada e pouco negociada como a cúpula com Kim foi definida.
“O pouco tempo de preparação, poucas reuniões com assessores, isso é algo inimaginável na diplomacia tradicional. Trump já disse que não precisa se preparar para reuniões como essa, ele sempre acha que consegue resolver tudo com sua presença”, analisa Paz.
Comparação com o Irã
Analisar a cúpula com o norte-coreano, em comparação com a decisão de retirar os EUA do acordo nuclear com o Irã, divulgada em maio, traz uma perspectiva no mínimo curiosa, de acordo com o professor.
“Na diplomacia, nunca sabemos quando um acordo será realmente vantajoso ou não. Se o acordo que ele obtiver da Coreia do Norte for semelhante ao que ele mesmo derrubou com o Irã, vamos ter realmente um parâmetro do que é um acordo bem-sucedido”, diz.
R7