Passado um mês do “dia do fogo”, que marcou o início do aumento das queimadas na floresta amazônica, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fez a primeira autocrítica em relação à crise ambiental que afetou a imagem do país no exterior. Em entrevista à Folha, ele considerou que o governo federal falhou na comunicação e avaliou que o alinhamento entre as gestões municipais, estaduais e federal no combate ao desmatamento deve melhorar.
Na semana que vem, o ministro viajará à Europa. Ele disse que buscará apoio financeiro para a preservação da floresta amazônica e que está aberto a dialogar com todos, inclusive com os governos da Alemanha e da França, criticados pelo presidente Jair Bolsonaro.
Segundo ele, o superintendente regional do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) no Pará, Evandro Cunha dos Santos, demitido na terça-feira (10), fez uma afirmação “que não é verdadeira” em um evento onde não “tinha que estar presente”.
Confira os principais trechos da entrevista:
Comunicação
“Nós temos de comunicar melhor. [Repassar] informações à sociedade para [que a sociedade] entenda a evolução dos dados, deixando todos em um nível de conhecimento que permita um entendimento da questão. Acho que isso é algo importante a ser melhorado. Nós falhamos na comunicação. Esse é o ponto mais importante. A comunicação das ações, daquilo que estava sendo feito e tudo mais. A comunicação podia ser melhor e, agora, vai ter de ser melhor. Isso é algo que a gente precisa reconhecer, é um fato. E, daqui para a frente, se dedicar mais.”
Alinhamento
“O trabalho de combate ao desmatamento e às queimadas, que são questões correlacionadas, dependem muito de uma cooperação entre os entes federativos: municipal, estadual e federal. E essa coordenação tem de melhorar. Os estados, por sua vez, têm de ter um papel mais ativo nisso. Os estados sofreram realmente com questões orçamentárias e governos novos e isso realmente criou essa ausência de alinhamento. Poderia ter um alinhamento melhor. A partir de agora, com essas reuniões que tivemos, isso tende a ser algo que flua melhor.”
Queima de veículos
“Essa ordem [de interromper a queima de veículos flagrados em fiscalização] não partiu de ninguém. Não existiu essa ordem. A atitude dele [superintendente regional do Ibama no Pará] foi inaceitável. Primeiro, porque fez uma afirmação que não é verdadeira, dizendo que havia essa ordem. E fez essa afirmação em um local, em um evento que ele não tinha nem que estar presente.”
Europa
“Eu vou viajar na semana que vem. Vou aos Estados Unidos e vou à Europa. Vou levar todas as informações disponíveis, que são muito boas. O Brasil está indo muito bem em vários dados. Nas metas do Acordo de Paris, o Brasil está indo super bem, aliás, melhor do que muitos países que nos criticam. Criticam e, no final das contas, nós é que estamos cumprindo as metas. Nós temos um percentual de conservação de matas nativas de mais de 60%, que outros não têm. Nós precisamos mostrar isso e mostrar o que fazemos bem. E mostrar que dá para fazer mais se tivermos apoio financeiro para isso.”
França e Alemanha
“Nós estamos estabelecendo conversas institucionais com os países enquanto governo e com o setor produtivo. Nós vamos conversar com os meios de comunicação e câmaras de comércio. Eu não tenho vedação para conversar com ninguém. Quem nós entendermos que é importante conversar e nos abrir portas para fazer as apresentações necessárias nós vamos fazer. Nós estamos montando uma agenda super bem recebida. Em todos os lugares para onde estamos organizando –Paris, Londres e Berlim–, elas foram bem recebidas. Então, não tem nenhum ruído.”
Medidas Ambientais
“Os governos estaduais pediram ao governo federal para fazer o que vem sendo defendido desde o início do ano: a necessidade da regularização fundiária, o zoneamento econômico e ecológico e a dinamização das oportunidades da nossa bioeconomia. Tudo isso, que foi combinado entre todos, é o que estamos planejando e viabilizando com a solidez que as coisas requerem, porque são temas complexos. Agora, são várias medidas que precisam ser construídas.”
Queimadas
“Foram apresentados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e pelo Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia) gráficos mostrando que, com a exceção de Mato Grosso, os outros estados já estão com tendência de diminuição de queimada, graças à GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Portanto, está dando certo a atuação do governo federal. Queimada não é fácil de controlar e não vai acabar. A questão é a diminuição dos focos. Estava subindo e agora está descendo.”
Bahia Notícias