A pandemia do novo coronavírus tem pautado o noticiário e a vida cotidiana. A avalanche composta por notícias verdadeiras e falsas chega a todo momento, potencializada pelo poder das redes sociais de fazer com que ela seja compartilhada e atinja diversas pessoas instantaneamente.
Assim, as pessoas são coagidas a lidar com as informações e o cérebro reage como se estivesse em uma situação de perigo, o que pode levar ao estresse crônico, à ansiedade e insônia, como explica o neurocirurgião Júlio Pereira da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
De acordo com ele, ao ler uma notícia, seja ela verdadeira ou falsa, o sistema límbico do cérebro é ativado. É ele que reage e controla as emoções.
“Esse sistema dá informações para o hipotálamo, que libera substâncias para estimular as glândulas suprarrenais. Elas produzem o cortisol, o hormônio do estresse”, explica.
O cortisol ativas as partes do corpo que precisam funcionar quando estamos em perigo. Por isso, o coração acelera, as pessoas sentem frio na barriga e falta de ar, por exemplo.
“O grande problema é que, diante de uma pandemia como essa, a gente entra numa situação de estresse crônico e os efeitos do cortisol vão ser prolongados”, destaca.
“Às vezes, a pessoa está tão estressada que começa a ter sintomas como falta de ar e pensa que está com coronavírus, mas não está. Eu já atendi vários pacientes [que estavam] assim”, relata.
O especialista também observa que o estresse é alimentado por informações relacionadas ao risco de vida e à situação financeira. “Um quadro crônico faz piorar a memória, aumenta a incidência de depressão, ansiedade e pânico, porque as pessoas estão vovendo uma situação que nunca aconteceu antes”.
Ele acrescenta que o transtorno de ansiedade, por si só, faz com que o cérebro seja invadido por um excesso de informações. “Então o pensamento fica acelerado e repetitivo. A pessoa pensa várias coisas ao mesmo e até percebe que isso está prejudicando sua qualidade de vida”, destaca.
A ansiedade, por sua vez, está relacionada à insônia, que acontece existe um problema, mas não é possível enxergar uma solução clara para ele, exatamente o que está acontecendo por causa do novo coronavírus.
“O cérebro fica sempre em alerta, procurando uma saída e não consegue descansar. Isso pode causar outros problemas de saúde”, afirma o médico.
Estar confinado é outro fator que contribui para agravar o efeito prejudicial das notícias no dia a dia.
“O isolamento está associado a uma série de doenças, porque a pessoa perde a rotina dela e, nessa circustância, procura mais notícias, aí entra em um ciclo vicioso e piora todos os sintomas”, pondera o neurocirurgião.
Para aliviar o estresse, ele afirma que é essencial criar uma rotina com atividades físicas e lúdicas.
“É importante tirar um tempo para fazer isso e não ficar o tempo inteiro lendo só sobre a doença. Conversar com parentes e amigos sobre outros assuntos também ajuda”, aconselha.
“O estresse a gente vai viver, é inevitável. Mas diante disso é fundamental entender o que está acontecendo consigo mesmo e criar estratégias para fugir dessa situação”, finaliza.
R7