A campanha do Novembro Azul, que busca a conscientização sobre o câncer de próstata, reforça a importância de se falar sobre a saúde masculina. De um modo geral, os homens demoram mais a ir ao médico, resultando em diagnósticos tardios, o que dificulta o tratamento das doenças. Segundo uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), 46% dos homens só buscam atendimento médico quando sentem algum sintoma. Esse número cresce para 58% quando o homem é um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para Nilo César Leão, urologista e professor do curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS), a resistência em buscar por atendimento médico é uma questão cultural do homem latino-americano. “Na urologia, especificamente, ainda há o fato de que a avaliação correta da próstata, que deveria ser uma rotina dos homens maduros, passa por um exame físico que inclui o toque retal, que possibilita termos uma ideia do volume e da consistência da próstata. Mas ainda há um tabu de colocar o dedo no reto, sobre como isso não é confortável e, por questões de ignorância, muitas pessoas ainda se recusam a fazê-lo”, afirma o médico.
Consultas preventivas são necessárias
Apesar da importância de campanhas como o Novembro Azul, os homens devem começar a cuidar da saúde desde cedo e não apenas a partir dos 50 anos, quando aumentam os riscos para o câncer de próstata. Doenças como a hipertensão arterial e o glaucoma, por exemplo, são silenciosas e podem provocar complicações graves – e o diagnóstico precoce possibilita uma melhor qualidade de vida. “Na minha área específica, as consultas de rotina ajudam para que possamos orientar aos nossos pacientes sobre hábitos que possam diminuir os riscos de enfermidades”, analisa Leão. Para o câncer de próstata, por exemplo, a adoção de uma alimentação e hábitos saudáveis e do controle de peso são consideradas práticas preventivas.
O câncer de próstata é uma das principais preocupações do homem, mas há outras condições urológicas que podem ser descobertas em consultas urológicas de rotina, como a incontinência urinária, que é a perda involuntária de urina e pode acometer até 30% das pessoas idosas. Além disso, as visitas de rotina podem ajudar na detecção precoce do crescimento benigno da próstata, no acompanhamento de pacientes com disfunção erétil ou no melhor tratamento para varicocele – condição que acomete 15% dos indivíduos do sexo masculino.
Alguns exames importantes na obtenção do diagnóstico precoce para doenças urológicas são: exame de PSA (Antígeno Prostático Específico), exame físico (incluindo o toque retal), exames de laboratório para avaliar a dislipidemia (colesterol, triglicerídeos e suas variações e fragmentos), avaliação da tireoide e outros exames gerais. Para homens com histórico de câncer de próstata na família ou que possuem afrodescendência, que são fatores de risco para a doença, os preventivos devem começar a partir dos 45 anos. Já as pessoas que não possuem esses fatores, a partir dos 50 anos.
Doença silenciosa
Como uma doença silenciosa, o câncer de próstata não apresenta sintomas em seus estágios iniciais. Os principais sinais surgem já em seus momentos mais avançados, com quadro de doença obstrutiva da uretra ou metastática, ou seja, disseminada através de outras estruturas. Mas quando aparecem, eles incluem: disfunção erétil, fraqueza, indisposição física e baixa taxa de testosterona.
Um levantamento da revista Câncer, inclusive, aponta para dados preocupantes: casos de câncer de próstata devem crescer 83,5% no Brasil e o número de mortes em até 98,6%, principalmente devido à baixa adesão de rastreamentos, diagnósticos tardios e maus hábitos de vida. Desse modo, Nilo César Leão reafirma a importância das consultas de rotina, que muitas vezes apenas são realizadas porque há mulheres insistindo para que os homens agendem uma consulta com o médico.
O especialista reforça ainda a importância do diagnóstico precoce em qualquer doença, mas especialmente para o câncer de próstata. “Isso ajuda muito no tratamento, pois a doença está confinada à glândula, antes de se espalhar para outros órgãos. Ou seja, a precocidade do diagnóstico é diretamente proporcional com à cura e aos melhores resultados do tratamento”, finaliza o professor da UNIFACS, cujo curso de Medicina faz parte do ecossistema Inspirali.